por Karina Alvarez

Começo esse post com uma confissão: por mais tempo do que eu gostaria de admitir, eu neguei firmemente os problemas climáticos. Posteriormente, depois de minha primeira aula de ciência ambiental, eu senti o peso da crise climática se apoiando fortemente sobre os meus ombros, e fiquei arrasada. Decidi compensar o tempo gasto negando a realidade, mas meus primeiros anos no movimento ambientalista foram cheios de dúvidas – tanto em respeito a mim quanto ao movimento – e de frustrações, um sentimento que tenho certeza de que muitos de vocês, leitores, também já sentiram.

Então eu fiquei sabendo sobre o Fossil Free. No início, eu me senti muito atraída pela campanha de desinvestimento por causa do apoio e solidariedade incríveis que eu encontrei entre os membros do movimento. Dada a escala global da crise climática, a comunidade do desinvestimento também é necessariamente global – são indivíduos de um vasto espectro de identidades religiosas, culturais, nacionais e de gênero, que encontraram uma causa comum que transcende essas fronteiras. Permaneci nessa campanha porque vi como o desinvestimento é uma ferramenta poderosa na criação de mudanças sociais significativas, nas raízes da crise climática.

Eu não sou uma pessoa religiosa, mas me senti tocada pelas palavras do Papa Francisco, que se referiu muitas vezes à influência destrutiva das indústrias dos combustíveis fósseis, especialmente em sua encíclica Laudato Si’

A submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das cúpulas mundiais sobre o meio ambiente. Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afetados os seus projetos”.

(Parágrafo 54, Laudato Si’)

De fato, me irrita o fato de que as empresas de combustíveis fósseis ignorem propositalmente a saúde e segurança que teremos no futuro em nome do lucro delas no presente. Me frustra o fato de que as pessoas que menos contribuíram para esta crise, incluindo a nossa geração, sejam as que pagarão mais caro. Estou em luto pelas vidas já perdidas para injustiças climáticas. Mas ainda vejo a campanha global de desinvestimento como uma fonte de esperança.

Vou participar da Jornada Mundial da Juventude, na Cracóvia, porque será uma enorme oportunidade para reivindicar nossos futuros, especialmente para a nossa geração, que é a primeira a vivenciar a crise climática durante toda a sua existência. Como um dos maiores encontros de jovens no mundo, a JMJ é um fórum para erguermos nossas vozes e chamar a atenção dos líderes mundiais para as questões que nos preocupam. É um lugar para aprendermos uns com os outros sobre culturas, perspectivas e preocupações diferentes. É um espaço para construir não só grandes coalizões, mas também relacionamentos individuais enquanto membros de uma comunidade global. E como resultado, podemos trabalhar juntos para implementar os ideais universais da Laudato Si’ em nossas comunidades, a partir de uma perspectiva internacional.

Ainda que a nossa seja uma geração menos religiosa, jovens de todos os contextos – eu, inclusive – se sentiram inspirados a agir por causa das palavras do Papa Francisco. O Papa Francisco e a Laudato Si’ me levaram a compreender o poder da fé durante a crise climática – seja pela fé em Deus, na humanidade, ou nesse movimento global.  Vou participar da JMJ porque, embora eu possa não acreditar em um poder onipotente, eu acredito no poder da juventude. A Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade crucial para fortalecer a campanha global pelo desinvestimento dos combustíveis fósseis. E justamente por isso, é também um investimento em nossos próprios futuros.