Nós lutamos para manter os combustíveis fósseis no subsolo – e fazemos isso junto com as comunidades.
Tradução para o português por Roberto Peixoto
Hoje foi um dia diferente para mim. Ele começou com uma viagem para Java Ocidental, Indonésia, à uma comunidade de Cirebon que está lutando para parar uma usina de carvão já em existência e uma outra que está a caminho. Passamos o dia conversando com os membros da comunidade e nos familiarizando com as pessoas que estão fazendo campanha para parar o projeto, isso é o que torna Cirebon única. No dia seguinte visitamos outra comunidade em Indramayu, onde encontramos pessoas que tiveram sua saúde severamente afetada por uma usina de carvão financiada pela Agência de Cooperação Internacional do Japão. O dia terminou com umas notícias desanimadoras vindas do meu próprio país, os Estados Unidos, onde especula-se que Donald Trump esteja facilitando a aprovação dos oleodutos de Keystone e Dakota.
Há tantos embates como este em todo o mundo, onde as pessoas lutam duramente para proteger os lugares e as pessoas que amam e para preservar algo que o garanta para o futuro, seja o abastecimento de água, a poluição ou o impacto no clima, que afeta a todos nós.
Em Cirebon, Indramayu e em toda a Indonésia, aprendemos especificamente sobre o que acontece aos pescadores e às pessoas que dependem deles quando não há mais peixe. Nesse caso, aprendemos que Cirebon é famosa por um tipo de pasta de camarão, a trasi. Eu até li sobre ela ao procurar informações gerais sobre Cirebon na Wikipédia. Trasi é para Cirebon como croissants são para Paris. O problema é que a usina de carvão está situada na água, e uma vez que foi construída, os pescadores não tinham mais redes cheias de camarão. Hoje conhecemos um pescador chamado Dusman, que chegou até a mudar sua atividade de sustento para a mineração de sal, até descobrir que o sal está coberto de cinzas de carvão e, portanto, é inutilizável.
Dusman e seus vizinhos estão sendo apoiados por muitos de nossos parceiros – entre eles Walhi, Jatam e Greenpeace, todos ativos no país inteiro. Em reunião com eles essa semana, eu aprendi que as duas usinas em Cirebon fazem parte de duas das de cerca de 109 que são previstas para trazer 35.000 MW de carvão à rede na Indonésia. Esses projetos têm muito apoio do governo, onde as avaliações de impacto ambiental estão sendo desprezadas, e muitos financiamentos de investidores, particularmente do Japão.
Depois daqui, vou para o Japão para levar essa história para uma série de eventos que a 350.org Japão está realizando sobre o financiamento de carvão. Agora eu posso ver com meus próprios olhos exatamente o que acontece quando os indivíduos do Japão abrem suas contas correntes em bancos que investem nesses projetos. A nossa esperança é que, à medida que pessoas aprendam mais sobre o impacto e que elas tenham alternativas de opções bancárias, o financiamento não esteja mais facilmente disponível. Isso, combinado à oposição local, poderia definir um curso diferente para as necessidades energéticas da Indonésia. Atualmente, o carvão é apresentado como a única opção – mas sabemos pelos exemplos de tantos outros países, como Alemanha, China e Turquia, que existem outras opções e as pessoas podem virar as costas para carvão e voltar-se às energias renováveis.
Agora, sinto um peso no meu coração, sabendo que a cada dia pode haver retrocessos — como a notícia de hoje sobre os problemas enfrentados em Cirebon e Indramayu e como eles estão tirando dinheiro dos bolsos das pessoas e tirando as referências culturais de suas histórias. Mas eu me lembro de como a reunião terminou com Dusman: ele nos deu uma bênção, disse que nos manteria em suas orações, e nos encorajou a manter o nosso espírito, a continuarmos a luta com um sorriso no rosto.