Era dia 4 de dezembro, quando o líder indígena da região Amazônica Ninawa Huni Kui, junto com pescadores artesanais da Baía de Guanabara, e ativistas climáticos estavam em frente ao Hotel Sheraton no Rio de Janeiro, no bairro do Leblon.

Dentro do Hotel, acontecia o 2o Ciclo de Oferta Permanente de Petróleo e Gás. Na prática, significa de modo resumido que os blocos que não receberam ofertas no passado, ou que foram devolvidos, ficam disponíveis para receberem uma oferta de compra de forma permanente. Assim que aparecem  interessados, a ANP promove um evento como este. 

Dessa vez, apareceram interessados em diversos blocos, inclusive na região Amazônica. E, como de praxe, as comunidades tradicionais não foram ouvidas.

Durante o leilão de petróleo, Bento Albuquerque discursava enquanto indígena estava na mira dos policiais ao lado de fora pedindo para que não leiloassem a Amazônia

À esquerda, o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque discursando durante o 2o Ciclo de Ofertas Permanentes da ANP | Foto: Divulgação
À direita, o líder indígena da Amazônia Ninawa Huni Kui, estava na mira de policiais segurando cartaz pedindo para que não leiloassem a Amazônia. | Foto: Landau

“Não podemos ver a Amazônia como um produto para o grande comércio. A floresta é tão importante que representa a vida mundialmente, e não é aceitável que projetos de petróleo e de gás tenham um valor maior do que o da vida”, afirma o cacique Ninawá Huni Kui, presidente da Federação do Povo Huni Kui do Estado do Acre.

O apelo do cacique, e das comunidades tradicionais que estavam em frente ao hotel, no entanto, não intimidou as poluidoras. Ao todo, 17 blocos foram arrematados, a Shell arrematou um bloco na Bacia de Campos, e a Eneva, levou 3 blocos na Bacia do Amazonas, mais um campo na Bacia do Solimões, totalizando 4 áreas no bioma Amazônico.

MAPA DA DESTRUIÇÃO: Saiba onde estão os blocos comprados pela ENEVA

 

Eneva, a ex-MPX de Eike Batista

Eneva é o nome que deram à MPX que foi de Eike Batista, antes de ser preso pela Polícia Federal em um desdobramento da Lava Jato. Depois do pedido de falência em 2014, foi comprada pela alemã E.ON e atualmente é comandada por diversos investidores:

quadro societario da Eneva

FONTE: Eneva

 

 

Foi uma triste surpresa ver que a BTG Pactual, uma das maiores acionistas juntamente com Cambuhy, estão na lista. Ao entrar no site do banco, encontramos um “discurso impecável”, mas claramente, são só palavras:

“Princípios Fundamentais de ESG No BTG Pactual nós”:

1 – Reconhecemos a importância dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, impostos pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas e, respeitando as externalidades de cada situação, trabalhamos em pró desta agenda de desenvolvimento   –> Investir em combustíveis fósseis é ir no lado contrário das ODS

2 – Identificamos os impactos sociais e ambientais resultantes das nossas próprias operações, inclusive àqueles relacionados as mudanças do clima, e implementamos programas de ecoeficiência estruturados para reduzir estes impactos  –> Ignoraram que a compra de blocos na Amazônia impacta negativamente a vida de diversas comunidades tradicionais

3 – Promovemos um ambiente de trabalho diverso, igualitário, inclusivo e transparente e comunicamos todas as informações de sustentabilidade relevantes de modo claro e transparente –> Até o momento nenhuma comunidade tradicional foi notificada sobre os impactos da exploração de combustíveis fósseis na região.

4 – Incorporamos critérios ESG na nossa tomada de decisão, objetivando entender os riscos e oportunidades de cada novo negócio –> Definitivamente, explorar combustíveis fósseis não tem nada de sustentável e deveria estar fora do escopo de investidores que seguem critérios ESG

5 – Realizamos treinamentos e campanhas de conscientização de sustentabilidade para garantir que os princípios estabelecidos nesta Política sejam adequadamente implementados por nossos colaboradores –> Mais que conscientizar, é não fazer! Um banco comprometido com questões climáticas não investe em petróleo, gás e carvão!

6 – Incentivamos e buscamos novas oportunidades de negócio, que gerem valor compartilhado de longo prazo financeiro, ambiental e social, para nossos investidores, clientes e para a sociedade –> O único valor compartilhado aqui é o do aquecimento global com termômetros acima de 1.5 Graus

7 – Estimulamos um diálogo aberto e engajamos com todas as partes interessadas relacionado às questões de sustentabilidade, objetivando gerar valor compartilhado na agenda de sustentabilidade –> Infelizmente uma inverdade, pois buscamos um diálogo sobre a compra de blocos na Amazônia perto de 47 comunidades indígenas e 22 unidades de conservação e preferiram não se pronunciar, jogando a responsabilidade para a Eneva, mas OI! Vocês são Eneva e possuem váááários projetos que vão contra tudo isso que falam.

Nesse quadro percebemos claramente a relação dos projetos fósseis que a mesma, junto com outros acionistas da Eneva estão envolvidos:

Quadro de projetos e investidores da ENEVA

FONTE: Eneva

 

Impossível também, ignorar projetos polêmicos como Pecém e Termopantanal. Repudiamos todos os empreendimento de petróleo, gás e carvão. Não apenas por serem os maiores responsáveis pelo aceleramento do aquecimento global, mas também por serem responsáveis pelo ciclo vicioso que vivemos: crise climática, crise econômica, corrupção, desigualdade social, racismo (e racismo ambiental), criminalização de defensores climáticos e sociais.

Já passou da hora de mudarmos esses sistema insustentável que vivemos! Nós precisamos de uma #RECUPERAÇÃOJUSTA.

MAPA DA DESTRUIÇÃO: Saiba onde estão os blocos comprados pela ENEVA

 

Livia Lie – Digital Campaigner da 350.org