Pelo menos 400 mil pessoas se encontraram nas ruas de Nova Iorque no último domingo. Paralelamente 2600 eventos aconteceram em 162 países, entre eles o Brasil, para protestar contra a falta de ação internacional no combate às mudanças climáticas. 

Com a mensagem ação, não palavras, a Marcha Climática dos Povos chamou a atenção dos líderes de Estado que estão reunidos esta semana na Cúpula do Clima, na sede da ONU em Nova Iorque. 


Presidenta Dilma Rousseff durante abertura do Debate de Alto Nível da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff durante abertura do Debate de Alto Nível da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


O objetivo do secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon, que convocou a reunião, é criar impulso para evitar que a Conferência de Paris, em 2015, não resulte no fracasso de Copenhague, em 2009. A estratégia é conseguir compromissos dos quase 120 chefes de Estado presentes na cúpula. Não foi o que aconteceu no caso da presidente Dilma Rousseff.

Dois dias após a comoção mundial que os protestos causaram, a presidente brasileira surpreendeu a comunidade internacional ao se negar assinar o documento em que países se comprometeram a reduzir pela metade o corte de florestas até 2020 e zerá-lo até 2030 — o que evitaria a emissão de 4,5 a 8,8 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. 

O fato incomodou instituições nacionais que se manifestaram contrárias à decisão da presidente. “Está mais do que claro que o maior risco ao desenvolvimento é a falta de ação. E isto é um desafio de todos, em especial dos grandes emissores de gases de efeito estufa, como o Brasil Definitivamente, a Presidente Dilma não atendeu à expectativa da sociedade”, declarou em carta aberta o Observatório do Clima, rede de organizações da sociedade civil brasileira que atua em mudanças climáticas e busca estimular políticas públicas efetivas.  

Falta de ação 

Para quem conhece a atual conjuntura política brasileira, a decisão da presidente Dilma não foi uma surpresa. Às vésperas das eleições presidenciais — com primeiro turno marcado para o dia 5 de outubro — a líder brasileira evita se indispor com seus correligionários, já que pesquisas de intenção de voto mostram Dilma próxima da segunda colocada, a ex-ministra do meio ambiente e ativista ambiental Marina Silva. E uma parcela importante do eleitorado da atual presidente são os ruralistas, representantes do agronegócio no Brasil. A análise que cientistas políticos fizeram é que assinar o documento significaria se indispor com esse grupo extremamente influente na política, ou seja, perda de votos. 

Considerado o grande negócio do Brasil, atualmente o agronegócio é responsável por 23% do PIB brasileiro. Mas é também a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no país. De acordo com o Observatório do Clima, o setor é responsável por 59% das emissões brasileiras.

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Imagem extraída do site NaoVoteEmRuralista.org



Além de contribuir para o aumento das mudanças climáticas, os ruralistas também são responsáveis por questões sociais graves como a manutenção da escravidão em pleno século XXI, o que os torna alvo de manifestações de ONGs sociais e ambientalistas. Uma dessas manifestações é a campanha Não Vote Em Ruralista. Desenvolvida às vésperas das eleições por diversas organizações da sociedade civil, a campanha tem como foco chamar a atenção da população para os problemas climáticos potencializados pelo agronegócio.

“Este é o momento certo para sociedade pedir a redução dos impactos climáticos que o agronegócio gera. As eleições acontecerão em poucos dias e diminuir o poder dos ruralistas por meio do voto é uma das formas para termos uma sociedade mais justa e sustentável”, disse Nicole Oliveira, líder para América Latina da 350.org. “Precisamos mudar nosso modelo de desenvolvimento de agricultura e pecuária e assim diminuirmos as emissões antes que seja tarde demais”.