Foto: Divulgação | REUTERS/Paulo Whitaker

É surreal pensar que um país com tanta abundância como o Brasil esteja em alerta hídrico e energético mais uma vez. Com boa parte da geração de energia feita por hidrelétricas, o país encontra-se com os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste com níveis baixos de armazenamento, comparável à última crise em 2015 e próximos do registrado na época do apagão de 2001. E o pior disso tudo é que apesar da recorrência, o plano B é escorado em termelétricas a carvão. Que pioram ainda mais a qualidade do ar, gastam muita água, encarecem o valor para o consumidor final e contribuem ainda mais para o aquecimento global.

A verdade é que comparado a outros países, nós aqui no Brasil vivemos dentro de um sistema ecológico que naturalmente seria de abundância se houvesse planejamento e vontade de mudar o sistema que só favorece o desmatamento e a indústria dos combustíveis fósseis.

A falta d’água tornou-se um dos principais problemas urbanos do nosso tempo. Comunidades em diversas partes do mundo estão sob forte pressão, enfrentando o adensamento constante da escassez hídrica. Em muitas regiões, a situação ainda é agravada pela má gestão e pelo tratamento inadequado por parte dos governos locais, e pela negligência de empresas que utilizam o recurso para fins industriais.

Ao comprometer a disponibilidade hídrica, a desertificação afeta não só o consumo de água potável, como também reduz a produtividade agrícola, ameaçando a segurança alimentar.

Outra implicação da seca facilmente negligenciada é o impacto cíclico sobre o fornecimento de energia. Com o esvaziamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas – principal fonte para geração de energia elétrica no Brasil –, o governo, por falta de amplo investimento em outras fontes renováveis, se vê forçado a acionar usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis.

As térmicas, por sua vez, emitem grandes quantidades de gases-estufa e ainda possuem um custo maior de operação, aumentando consequentemente o valor a ser pago pelo consumidor na conta de luz. Além disso, por gerarem energia a partir do calor, elas também necessitam de muita água para esfriar as máquinas.

Assim, a população não só tem de pagar mais pela eletricidade utilizada em suas casas, como também vê a pouca água que lhes resta ser desperdiçada no processo de geração de uma energia mais cara e mais poluente.

A crise hídrica, portanto, movimenta uma engrenagem viciosa que vai além da suficientemente grave falta de água para beber. 

A necessidade de mudança é urgente: devemos quebrar o ciclo de danos ambientais causado ​​pela indústria fóssil, fortalecer a governança sobre recursos naturais comuns – não apenas água, mas terra, cobertura florestal e também o ar –, com políticas públicas em todas as esferas de governo, e assegurar um futuro mais sustentável e justo, com energias renováveis, livres e acessíveis.

 

Livia Lie – Digital Campaigner