O cacique Ninawa Inu Huni Kuin ainda está se recuperando da COVID-19 enquanto lida com o luto por ter pedido sua companheira. Enquanto está em isolamento, ele também está buscando apoio para seu povo que está em real ameaça por conta da pandemia. 

O povo Huni Kuin fica na Amazônia,  na divisa entre Acre e Peru, são 15.000 membros divididos em 104 aldeias, que no momento estão isoladas em meio à Floresta Amazônica. Em sua última contagem, eram 76 pessoas infectadas com o novo coronavírus em seu povo. Muitos não acreditavam que se tratava de uma doença grave, que pudesse matar. 

Mas os óbitos de índios Huni kuî e de outros povos (indígenas) no estado, falecidos com COVID-19, alertou a todos, de modo que, agora, os indígenas estão permanecendo em suas casas, passaram a não ir à cidade e a não se reunir. E, os que vão à cidade, passam por uma quarentena antes de voltar à aldeia. Há uma grande preocupação pois estão numa área isolada, sem estradas e com acesso só a barco ou avião.

“O povo indígena é considerado muito vulnerável, com imunidade muito baixa. Nós estamos orientando as comunidades a usar a medicina tradicional para aumentar a imunidade. Cuidamos muito das pessoas idosas, crianças e mulheres grávidas, principalmente.”, falou Ninawa. 

“Não estamos tendo apoio do governos do Brasil, do governo federal, do estado. Trata-se de uma região que não tem suporte para dar apoio aos infectados, e estamos buscando ajuda porque muitos estão tendo contado com os já contaminados.”, continuou o cacique.

Do Alto do Tapajós no oeste do Pará, a liderança Elinaldo Crixi Munduku no município de Jacareacanga, relata problemas semelhantes: 

“Somos 13.000 indígenas em nosso território, demora muito pra gente conseguir apoio, e infelizmente, da FUNAI até agora não veio nem um grão de arroz. Muitos parentes se acostumaram com alimentos industrializados e para isso eles vão para as cidades para buscar esses alimentos, e acabam trazendo também a doença para dentro. Nós já perdemos 5 lideranças essa semana. Estamos muito preocupados. Estou lutando para que não chegue nas aldeias.”, relatou Elinaldo.

Na contagem feita pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em 18 de Junho, já são mais de 300 indígenas falecidos por causa da doença. Um dado alarmante que coloca em risco diversos povos e suas culturas. 

“Para nós não são apenas números, são vidas. Divulgamos aqui os registros dos nossos parentes que morreram e prestamos solidariedade às famílias e a cada povo que está vivendo este momento difícil”, declara a articulação que reúne além dos dados da SESAI, dados das organizações locais que não foram contabilizados.

Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

 

Saúde Indígena

A crise na Saúde Indígena não é de hoje. Desde 2018, na transição de governos, a SESAI (Secretaria da Saúde Indígena), vem alertando sobre seu desmantelamento. A saída dos médicos do programa Mais Médico foi um duro golpe de acesso à saúde e foi seguido por falta de pagamentos, aos profissionais, cortes de investimentos e tentativas constantes de extinção da secretaria.

“Ignoram que precisamos de cuidados especiais. A “civilização branca” chega a nós por meio de doenças e não de hospitais, e então, precisamos lidar com a pandemia sem a estrutura necessária para enfrentá-la.”, lamentou Andreia Takuá, presidente da CONDISI (Conselho Nacional de Saúde Indígena), em seu povo, já são 207 casos confirmados da doença.

Como presidente da CONDISI, Andréia busca orientar e informar os povos indígenas sobre a doença e o que fazer para a doença não se alastrar. 

“É difícil para nós o conceito de isolamento social. Vivemos em uma comunidade, em uma casa dormem sete, oito pessoas em um mesmo cômodo, temos nossos rituais como, por exemplo, a casa de reza, onde todos se reunem no por-do-sol, e o compartilhamento do pitanguá, que é nosso instrumento de fumo e reza espiritual. Estamos, como podemos, nos isolando das cidades e criando “sistemas de isolamento” dentro das aldeias aos que apresentam o menor sinal da doença. As escolas estão virando “mini-ambulatórios” para isolar os que apresentam sintomas. Mas infelizmente, não temos como testar. Esses isolamentos e nossas ervas medicinais para reforçar o sistema imunológico são os cuidados que temos no momento”.     

Ajuda Emergencial

Existe um problema claro de logística em torno da questão indígena na pandemia. Sair da aldeia para buscar alimento industrializado e retornar significa uma grande chance de se contaminar e levar doença para a comunidade. Ficar na aldeia sem alimento em uma região cujo entorno foi urbanizado e descaracterizado, significa deixá-los passar fome. Já as aldeias isoladas correm o risco de serem contaminadas por conta do garimpo ilegal ou da grilagem, e nesse caso, o acesso aos recursos básicos de saúde,  testes de COVID-19, medicamentos, ou até o pedido para uma remoção a uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), fica muito demorado e complicado. 

Por meio de nota, a Ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), afirmou no dia 6 que haviam sido compradas 320 mil cestas básicas de alimentação que permitiriam que os índios permanecessem confortáveis em suas aldeias nesse período de pandemia. Pouco tempo depois, a nota da imprensa foi desmentida por indígenas e uma nova nota foi enviada à imprensa dizendo que houve um “erro na redação da declaração”

Campanha: “A Fome não Pode Esperar”

Ao menos no Estado de São Paulo, a FAPIB está levantando uma campanha para levar cestas básicas às aldeias da forma mais segura possível, e assim aliviar a fome de milhares de famílias indígenas sem colocá-los em ainda mais risco.

“Conseguimos doações de alimentos, e com a ajuda do Instituto Akhanda, temos um local para higienizar tudo e encaminhar para as aldeias da forma mais segura possível. A logística é a parte mais difícil, pois são toneladas de alimentos para encaminhar nas regiões mais extremas, para isso contamos com voluntários e doações.”, Edmilson Gonçalves – Gestor Ambiental / Indigenista – Coordenador de Logística FAPIB-SP que coordena a campanha “A fome não pode esperar”.

Como ajudar: 

1- Doe para ajudar na logística

Com a ajuda financeira, as aldeias conseguem pagar pela logística dos alimentos e/ou dos materiais básicos de saúde que tendem a ser custosos devido a distância dos grandes centros. 

a) Txana Huri of Caucho village (Povo Huni Kui do Acre)

Edvaldo de Araújo Pereira
CPF: 658.587.602-44
Tel : +55 (68) 99240-3779
Banco do Brasil 001
Code agence: 2713-8
Conta corrente: 7.188- 9     

b) Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPHAC)

Vaquinha online da Federação do Povo Huni Kui:  
https://www.gofundme.com/f/huni-kuin-people-covid19-relief-fund

c) FAPIB / Instituto Akhanda (São Paulo)

Caixa Econômica Federal
Instituto Akhanda
CNPJ: 13.986.026/0001-00
Ag: 2995 Operação 003
Conta Corrente: 00000930-0

 

2- Doação de alimentos e/ou produtos de higiene e limpeza à algum ponto de coleta

No Estado de São Paulo, os postos de coleta são:

a. Cidade de São Paulo – Zona Sul (Jabaquara): Sede do Instituto Akhanda: Av. Leonardo da Vinci, 2650 – Vl. Guarani, São Paulo, SP –  Próx. ao metrô Jabaquara, de segunda à sexta-feira, das 10h às 17h.  – telefones/whatsapp: (11) 969063101 ou (11) 969137914

b. Cidade de São Paulo – Outras regiões: Por favor entrar em contato pelos telefones/whatsapp (11) 969063101 ou (11) 969137914.

c. Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul: Por favor entrar em contato pelo telefone/whatsapp (11) 969137914

d. Outras cidades do Estado de São Paulo: Por favor entrar em contato pelo telefone/whatsapp (11) 969137914

3- Ajude compartilhando esse post em suas redes sociais

Por mais simples que pareça, quando você compartilha, você ajuda a dar visibilidade à causa e ajuda a ecoar as vozes das pessoas que precisam de ajuda. Não podemos deixá-los na invisibilidade.

 

Veja Também:

Princípios para uma #RecuperaçãoJusta diante do COVID-19

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Livia Lie – Digital Campaigner da 350.org