Nessa quinta-feira (4), mais de 20 países e instituições, incluindo os Estados Unidos, Canadá, Mali e Costa Rica, lançaram uma declaração conjunta comprometendo-se a acabar com o financiamento público internacional direto para carvão, petróleo e gás até o final de 2022 e priorizar o financiamento de energia limpa e renovável. Após uma onda de compromissos para acabar com o financiamento internacional do carvão este ano, este é o primeiro compromisso político internacional que também trata das finanças públicas para o petróleo e o gás. Se implementada efetivamente, esta iniciativa poderia transferir diretamente mais de 15 bilhões de dólares por ano de apoio preferencial do governo para a energia limpa. O valor pode ser ainda maior se os signatários iniciais tiverem sucesso em convencer seus pares a aderir.
A declaração é histórica e requererá muita vontade política para acontecer pois, segundo novas pesquisas da Oil Change International e da Friends of the Earth US, entre 2018 e 2020, as instituições financeiras públicas internacionais dos países do G20 e os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs) ainda apoiavam pelo menos US$188 bilhões em combustíveis fósseis no exterior. Isto foi 2,5 vezes mais do que o apoio do G20 e do MDB para energia renovável, que foi em média de US$ 26 bilhões por ano. O financiamento público para energia limpa estagnou desde 2014, apesar da necessidade de crescer exponencialmente para garantir o acesso universal à energia limpa e ficar abaixo do limite de 1,5°C.
“Cada centavo que vai para os combustíveis fósseis está nos levando na direção errada. É chocante que o dinheiro público ainda esteja indo para o carvão, petróleo e gás, quando precisamos tão desesperadamente manter os combustíveis fósseis no solo e investir em soluções reais em seu lugar. É hipócrita que qualquer país se chame de campeão climático se ainda está ajudando a bancar o setor de combustíveis fósseis”. Nick Bryer, da 350.org Europa
Defensores da campanha esperam que a declaração conjunta possa aumentar a pressão sobre os países que estão atrasados em acabar com o financiamento de carvão, como: Japão (US$ 10,9 bilhões/ano), a Coréia (US$ 10,6 bilhões/ano), a China (US$ 7,6 bilhões/ano) e a Espanha (US$ 1,9 bi/ano).
Na mesma manhã do lançamento da declaração, ativistas foram às ruas de Glasgow em Pikachus infláveis para pedir que o Japão pare de financiar os combustíveis fósseis.
“O Japão, mais uma vez falhou em mostrar sua liderança para a ação climática. Além disso, logo antes do início da COP26, um financiador público japonês decidiu financiar o projeto LNG Canadá. O gasoduto Coastal GasLink associado é bastante controverso. Além de ser completamente incompatível com os objetivos climáticos, um Comitê da ONU chamou a atenção para a falta de “Livre consentimento prévio e informado (FPIC)” para o projeto. Isto é inaceitável”. Ayumi Fukakusa, Amigos da Terra Japão
Contudo, é importante destacar que por mais que a declaração seja histórica, o acordo ainda permite investimentos em projetos fósseis que possuam tecnologias em captação de carbono, ou seja, ainda dá permissão para a continuidade da exploração de petróleo e gás. Entre os 20 países signatários da declaração, apenas a Costa Rica se comprometeu, mostrando que a América Latina ainda tem muito a se desenvolver quando o assunto é financiamento fóssil.
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Por Renata Padilha, Campanhas Digitais 350.org América Latina