Quando tudo muda, é hora de mudar tudo: a pandemia de COVID-19 exige ações rápidas e sem precedentes de governos nacionais e da comunidade internacional. As escolhas de agora vão moldar nossa sociedade por anos, talvez décadas.
Enquanto as autoridades adotam medidas para garantir socorro imediato e uma retomada a longo prazo, é imperativo que sejam consideradas as intersecções entre as crises de desigualdade financeira, racismo e declínio ecológico – especialmente a crise climática, que existia muito antes da pandemia e que pode se intensificar.
Os resgates financeiros implementados por governos de todo o mundo, incluindo o norte-americano, devem priorizar as vidas das pessoas. Infelizmente, até o momento, as vozes que falaram mais alto foram as de lobistas da indústria e de interesses corporativos. Para o projeto de reconstrução a longo prazo da economia, exigimos uma resposta que garanta pacotes de estímulo robustos, destinados à construção de sistemas e economias mais resilientes e sustentáveis.
Algumas das empresas que atuam de forma cúmplice para prejudicar pessoas comuns precisarão de apoio financeiro – sejam auxílios emergenciais, empréstimos ou nacionalizações. Como condição para que bancos e empresas de transporte e energia recebam ajuda do Estado – ou seja, da sociedade –, é preciso exigir mudanças no modo como essas instituições atuam. Bancos não podem voltar a financiar a crise climática; empresas de energia não podem seguir ampliando a extração de combustíveis fósseis; e as companhias aéreas não podem continuar ignorando a transição do carbono enquanto operam com práticas de trabalho injustas.
Hoje mais de 250 organizações estão exigindo que os governos articulem uma resposta global à COVID-19 que incorpore 5 princípios para uma recuperação justa.
Como comunidade global, o momento é de determinação para salvar vidas e de ousadia para que possamos construir o caminho rumo a um futuro mais saudável e igualitário, por meio de uma Recuperação Justa. Ainda que seja o foco maior esteja na solidariedade e nos esforços para impedir os piores efeitos do coronavírus, também devemos olhar para frente, apoiando políticas progressistas e acolhendo princípios que ofereçam, ao mesmo tempo, alívio e estímulo às comunidades.
A saúde é uma prioridade para todos no mundo inteiro, sem exceções. A COVID-19 colocou a saúde pública nos holofotes, lançando luz sobre a necessidade vital de sistemas de saúde gratuitos e acessíveis a todos. O acesso a serviços de qualidade não deveria depender do lugar onde você vive, de quanto dinheiro você tem, de sua raça, gênero ou idade. Trata-se de um direito humano fundamental.
Os socorros financeiros devem ser direcionados às pessoas. Precisamos expandir a rede de proteção social; implementar iniciativas como a renda básica universal; ampliar programas de ajuda alimentar; aumentar a assistência habitacional; acolher crianças de famílias de trabalhadores; sustar dívidas estudantis; e suspender despejos, fechamentos e cortes de água e energia. Como no caso da saúde pública, medidas econômicas devem ser implementadas para garantir a cobertura de trabalhadores e comunidades em maior risco diante da COVID-19 e da recessão.
Participe dessa petição global, vamos pressionar o G20:
Usem o dinheiro público em uma recuperação justa e segura para todos
Qualquer assistência financeira a uma indústria em específico deve ser direcionada aos trabalhadores, e não aos acionistas ou executivos. Todo empréstimo concedido pelos governos deve ser usado para manter folhas de pagamento e benefícios, e não para os bônus de executivos ou para a recompra de ações.
Comunidades Resilientes ao Clima
Como no caso do coronavírus, a crise climática também é uma epidemia que impacta milhões de pessoas em todo o planeta – a pandemia surge em meio a uma emergência climática e ambiental que os Estados não estão combatendo de forma adequada. Os governos devem colocar a ação climática no âmago dos pacotes de estímulo econômico a longo prazo, de modo a criar comunidades resilientes e sustentáveis.
Isso significa expandir a energia solar e eólica liderada pelas comunidades, criando milhões de empregos para a construção de um futuro verde; desenvolver um transporte público sustentável e acessível; monitorar medidas de eficiência energética; gerar energia limpa; recuperar sistemas naturais como mangues e florestas; e incrementar serviços públicos de apoio à resiliência climática.
Pacotes de estímulo devem apresentar condições para que indústrias implementem altos padrões de trabalho e capacitação profissional e reduzam emissões e poluição tóxica. A resposta a uma crise que coloca em risco a nossa existência não deve abastecer outra.
Esta crise é global, como também deve ser a resposta a ela. Precisamos construir um senso de solidariedade e comunidade que atravesse fronteiras. Não podemos abandonar milhares de pessoas que buscam proteção e estão presas em campos de refugiados superlotados. Precisamos garantir que a tecnologia seja transferível, sustar dívidas e liberar recursos para países e comunidades que necessitam, permitindo que essas nações respondam efetivamente a disseminação do vírus.
Muitos governos adotaram medidas de distanciamento social e lockdown. Embora seja imperativo que as populações sigam as recomendações sanitárias e científicas, isso não é desculpa para que o Estado agrida os direitos humanos, as liberdades civis e a democracia. As pessoas não devem ser forçadas a escolher entre exercer seus direitos ou proteger a saúde pública.
Nos próximos meses, o mundo que conhecemos vai passar por grandes transformações. Muitos de nós terão que lidar com doenças, temores, ansiedades e com a perda de pessoas queridas. Trata-se de uma situação sem precedentes.
Há muito medo nesse momento, mas também se percebe uma imensa onda de senso comunitário, empatia e solidariedade. Como no caso da crise climática, a única forma de enfrentarmos a pandemia é nos unirmos para combatermos o vírus de frente, como uma comunidade global unida.
Participe dessa petição global, vamos pressionar o G20:
Usem o dinheiro público em uma recuperação justa e segura para todos
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May Boeve – Diretora Executiva da 350.org
Fonte: Thomsom Reuters