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Mais de 280 cidades brasileiras já aprovaram leis proibindo o fracking. Com adesão do OC, campanha ganha ainda mais força nacionalmente (Foto: COESUS/350Brasil).

 

O Observatório do Clima (OC), rede que congrega 43 entidades da sociedade civil brasileira, incluindo a 350.org, decidiu oficialmente aderir à campanha Não Fracking Brasil. A decisão unânime foi tomada durante a reunião anual do OC, realizada entre os dias 10 e 12 de abril em Atalanta, Santa Catarina. Coordenada pela COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e vida, a campanha visa impedir o uso da técnica do fraturamento hidráulico – mais conhecida como fracking – para exploração de hidrocarbonetos no Brasil.

Tendo iniciado seus trabalhos em 2013, a campanha atua hoje em 15 estados e conta com a participação de 234 organizações país afora. Além disso, já está se expandindo para outros países da América Latina, como Argentina e Uruguai, através da Coalizão Latino-americana contra o Fracking. Só no Brasil, cerca de 200 municípios já aprovaram leis que proíbem a tecnologia, fruto das ações e articulações da campanha.

“Aderindo à campanha estamos sendo coerentes com os caminhos que propomos para o desenvolvimento do país: sustentável e baseado na descarbonização de nossa economia. A emergência climática cada vez mais crítica e a competitividade crescente das energias renováveis modernas impõem sobre todos os países a responsabilidade de descarbonizar suas economias, a começar por suas matrizes de energia. Em um país com tanto potencial renovável como o Brasil, seguir investindo em tecnologias fósseis como o fraturamento hidráulico seria desastroso para a qualidade de nossos rios, para nossa segurança hídrica e para cumprir os compromissos assumidos com o clima do planeta”, afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, que este ano completa 15 anos de atividade.

Altamente poluente, o fracking é uma técnica não convencional para extração de gás do folhelho de xisto. Para capturar o gás é feita uma perfuração horizontal de até 5 km no subsolo, por onde se injeta, sob forte pressão, mais de 35 milhões de litros cúbicos de água misturados com areia e mais de 700 substâncias químicas e até radioativas, que promovem a fratura da rocha, liberando o gás.

Cerca de 40% deste material, chamado “fluido hidráulico”, retorna à superfície, enquanto o restante permanece no subsolo, próximo às reservas de água subterrâneas. Dessa forma, o método contamina a água, o solo e o ar, inviabiliza a atividade agrícola e agropecuária, e pode causar prejuízos à saúde humana e animal.

Para Juliano Bueno de Araújo, fundador da COESUS e coordenador de campanhas da 350.org Brasil, a adesão do OC veio no momento certo, trazendo ainda mais força à campanha. “A manifestação de forma unânime dos parceiros nos mostra que estamos no caminho certo e nos dá ainda mais energia para seguir na luta contra os combustíveis fósseis. Temos ganhado capilaridade nacionalmente e para que consigamos atingir nosso objetivo principal, que é banir definitivamente o fracking do país, a colaboração e a sinergia com outras organizações é fundamental.”

Além dos impactos ambientais, econômicos e sociais, o fraturamento hidráulico também intensifica as mudanças climáticas, uma vez que libera sistematicamente o gás metano, um dos causadores do efeito estufa, que, segundo o último relatório do IPCC, num período de 20 anos pode ser 86 vezes mais poluente e danoso que o CO².

“O mundo passa por um momento crucial para a questão climática: de um lado vemos grandes retrocessos nas políticas energéticas globais, de outro temos o avanço das tecnologias para geração de energia com fontes renováveis. Já passou da hora de o Brasil assumir uma postura de liderança e fazer a guinada para uma matriz energética livre, limpa e justa. Se não a nível nacional, que seja localmente, a partir de cada cidadão e dos governos locais. Assim vamos galgando degraus e chamando a atenção das autoridades e da sociedade, até atingirmos nossa meta, que é zerar a indústria fóssil e acabar com a dependência dos combustíveis fósseis de uma vez por todas”, frisou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org América Latina.