Dois dias depois de várias organizações do Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai realizarem a segunda grande Marcha em Defesa do Aquífero Guarani e a leitura do manifesto na cidade de Palomas, Departamento de Salto, no Uruguai, a empresa australiana Petrel Energy anunciou a suspensão das atividades de perfuração em busca de hidrocarbonetos no poço de Cerro de Chaga.

A empresa fez o anúncio em 11 de dezembro na Bolsa de Valores australiana, alegando “instabilidade em uma falha geológica”. “A Petrel Energy Limited anuncia que a Schuepbach Energy Uruguay suspendeu temporariamente as operações no poço do Cerro de Chaga-1 para revisar as operações e a estratégia durante as férias de Natal e Ano Novo (…) O Diretor Geral, David Casey, disse que “Embora seja um pouco decepcionante após os resultados do poço Cerro Padilla-1, e dado o bom progresso da perfuração de basalto antes de encontrar essa falha, não podemos esquecer que estamos perfurando uma bacia em região fronteiriça e que portanto encontramos estes desafios”, disse o comunicado.

“O que o Gerente da Petrel Energy parece ignorar é que esse tipo de inconveniência na perfuração está acontecendo em um dos mais importantes reservatórios de água doce do mundo – o Aquífero Guarani -, e que sua empresa, de origem australiana, está usando a técnica do fracking, altamente poluente, proibida inclusive no estado de Victoria da Austrália, porque é considerada prejudicial para a saúde humana, para a água, o ar e o meio ambiente”, afirmou Juan Pablo Olsson, coordenador de campanhas da 350.org América Latina.

Diante da preocupação com a potencial contaminação do Aquífero Guarani, organizações ambientais do Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil, através de uma delegação liderada pela 350.org América Latina e a Assembléia de Cidadãos de Concordia, Entre Ríos (Argentina), apresentaram na Embaixada da Austrália em Buenos Aires uma Carta em Defesa do Aquífero Guarani, que detalha as sérias consequências do avanço da exploração no local. O documento foi recebido pelo Cônsul em nome do Embaixador Noel D. Campbell.

“Queríamos informar as autoridades da Embaixada, que têm representação de três países (Argentina, Uruguai e Paraguai), que o avanço da empresa petrolífera australiana, usando a técnica do fracking – proibida em seu país -, está transgredindo um tratado internacional de proteção do Aquífero Guarani e pode ter sérias conseqüências no fornecimento de água potável para milhões de seres humanos na região”, assinalou Olsson.

Na Argentina seis províncias se localizam sobre o Aquífero: Entre Ríos, Corrientes, Misiones, Santa Fé, Chaco e Formosa. De acordo com María de los Ángeles, integrante da Assembleia de Cidadãos de Concordia, “tanto em Entre Ríos quanto em Santa Fé, o fracking já foi banido; no sul do Brasil há mais de 350 cidades, além do Estado do Paraná, onde já foi feito progresso com leis municipais de proibição; no Uruguai a técnica já foi proibida em cinco Departamentos, e no Paraguai estamos articulando com os líderes ambientais para continuar esse caminho. Pretendemos fortalecer um movimento regional que diz ‘Não’ ao fracking no Aquífero Guarani.”

“O que você deve ter em mente é que a bacia do Chaco Paranaense é do tipo No-convencional. No caso de Entre Ríos, graças à ação do Fórum Regional contra a Fracking, conseguimos parar os planos descritos pela YPF para a nossa Província. É impressionante que a empresa Petrel Energy use os mesmos termos utilizados no momento aqui. Acreditamos que a empresa petrolífera esconde suas intenções diante da sociedade uruguaia, que hoje entendeu o que significa fracking porque conseguiu instalar o assunto na imprensa. Petrel tem polido seu discurso, mas, entretanto, não interrompe seus planos para explorar e verificar a informação obtida com pesquisas sísmicas. Seu contrato com a ANCAP vai muito além da moratória atual por 4 anos, o que não é definitivo para eles abandonarem sua campanha no longo prazo. Uma vez que eles investiram dinheiro, eles vão querer recuperá-lo além das conseqüências desastrosas que podem nos trazer, então não vamos diminuir nossa guarda e continuaremos lutando até serem expulso ” afirmou Horacio De Carli, referente da Assembléia Popular Ambiental de Colon, Route 135, Entre Ríos, Argentina.

Por sua vez, um grupo de organizações ambientais do Uruguai publicou uma declaração exigindo a intervenção da Direção Nacional do Meio Ambiente pela suspensão da perfuração da empresa Petrel Energy no Departamento de Salto, no Uruguai.