Ativistas climáticos pediram hoje à UNESCO que se posicione para proteger importantes locais considerados Patrimônio Mundial contra a exploração de carvão
PARIS — Em menos de uma semana, representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) viajarão para a Cracóvia, na Polônia, para a reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, que acontecerá de 2 a 12 de julho, para discutir como proteger nossas maravilhas naturais e tesouros culturais mais preciosos. Ativistas realizaram um protesto nesta segunda-feira (26) em frente aos escritórios centrais da UNESCO, em Paris, para pedir mais proteção aos locais considerados Patrimônio Mundial da Humanidade que ameaçados por projetos de carvão em todo o mundo todo.
Dez ativistas vestidos de preto, em referência ao futuro sombrio de comunidades e ecossistemas inteiros que estão em risco por causa do carvão, exibiram um cartaz com os dizeres “Protejam a cultura, não o carvão“. Foram construídos montes de carvão que simbolizavam antigos túmulos de pedra, utilizados como marcos em montanhas para ajudar viajantes perdidos a encontrarem seu caminho de volta.
Os ativistas entregaram uma petição, assinada por 51 mil pessoas, pedindo que a organização se posicione pela proteção desses lugares de valor universal excepcional e se torne uma liderança no combate às mudanças climáticas. Mais especificamente, a demanda é para que a organização impeça que a exploração de carvão arruíne os Patrimônios Mundiais, ao exigir que os governantes no mundo todo cumpram o disposto no Acordo de Paris. As comunidades também pedem que muitos destes locais sejam incluídos na lista de locais ameaçados (Ver nota de rodapé).
A petição foi recebida pela Diretora do Centro do Patrimônio Mundial, Mechtild Rossler, com o reconhecimento do importante papel desempenhado pela sociedade civil na conscientização sobre essas questões. Rossler também confirmou que a UNESCO já recomendou que a floresta de Sundarbans, em Bangladesh, fosse colocada na lista de locais em risco.
A UNESCO tem a responsabilidade de proteger os patrimônios culturais e naturais do planeta – lugares como a Grande Barreira de Corais na Austrália; inúmeros lugares na Turquia, como o templo de Hécate em Lagina (Yatağan) e a antiga cidade portuária de Kyme; a floresta de mangue arbóreo de Sundarbans, em Bangladesh; a Ilha de Lamu, no Quênia, local marcado por 700 anos de intercâmbios culturais; ou mesmo os Parques Nacionais do Iguaçu e das Emas, no Brasil, e o Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina.
Atualmente, muitos desses lugares correm o risco de serem danificados ou destruídos pela exploração de combustíveis fósseis – seja pelos impactos das mudanças climáticas, que se intensificam com rapidez, ou de maneira mais direta, com enormes projetos de carvão planejados para áreas próximas a esses Patrimônios Mundiais.
“A indústria dos combustíveis fósseis quer ocultar o lado mais feio do carvão, já que o que está longe dos olhos também está longe do coração”, afirmou Nicolas Haeringer, coordenador de campanhas da 350.org. “Podem tentar, mas o impacto destrutivo dos combustíveis fósseis simplesmente não pode ser ignorado. Estamos aqui para mostrar as ameaças que o carvão representa e para lembrar aos representantes da UNESCO que eles têm em suas mãos a esperança de milhares de pessoas do mundo todo que esperam que esses valiosos lugares sejam protegidos para as gerações futuras.”
“O aquecimento global já deixou de ser uma ameaça futura e passou a ser algo concreto, afetando milhares de pessoas em todos os países da América Latina. Se quisermos deixar para as gerações futuras um planeta no qual valha a pena viver, precisamos manter o carvão o petróleo e o gás no subsolo. Caso contrário, as únicas heranças que deixaremos serão um mundo arruinado, com paisagens e comunidades destruídas”, frisou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.
A 350.org pede aos membros da UNESCO que usem sua influência sobre os governos para suspender todas as extrações de combustíveis fósseis que ameacem diretamente todos os locais considerados Patrimônio Mundial, e que a organização exija que os governos mantenham os compromissos assumidos no Acordo de Paris, de maneira a mitigar o aquecimento global que está afetando esses locais. A UNESCO está desenvolvendo uma declaração de “princípios éticos em relação às mudanças climáticas“, atualmente em fase preliminar, que deve ser finalizada na Conferência Geral de novembro de 2017.
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CONTATO:
Nathália Clark, coordenadora de comunicaçao da 350.org Brasil e América Latina, [email protected], +55 61 981605551
Notas aos editores:
- Alguns locais considerados Patrimônio Mundial que enfrentam as maiores ameaças resultantes da exploração do carvão e das mudanças climáticas estão listados abaixo. Imagens em alta resolução de cada um desses locais estão disponíveis sob demanda:
- Floresta de Sundarbans: o governo de Bangladesh está tentando construir a usina de carvão de Rampal no meio da floresta de Sundarbans, que abriga espécies ameaçadas de extinção, oferece uma forma de vida tranquila para as comunidades pesqueiras e protege o país contra tornados. As cinzas de carvão e o tráfego de barcos causariam transtornos a todo o ecossistema que mantém vivo esse Patrimônio Mundial. Para obter mais informações sobre a campanha para salvar a floresta de Sundarbans, entre em contato com: Sharif Jamidredgingl, da Bangladesh Environment Network. E-mail: [email protected] Telefone: +8801715440413
- Ilha de Lamu: por 700 anos, culturas swahili, árabes, indianas e europeias conviveram na Antiga Cidade de Lamu, no Quênia. Recentemente, o governo queniano, em conjunto com a Amu Power Company, aprovou o Projeto de Carvão de Lamu, a primeira usina termelétrica movida a carvão do país. Esse enorme projeto de carvão causará impactos negativos profundos na pequena aldeia de Kwasasi, alterando de maneira irreversível a ecologia marinha de Lamu. Para obter mais informações sobre a campanha “Save Lamu”, entre em contato com: Omar Mohamed Elmawi, representante nacional da campanha Save Lamu +254(0)710343432; [email protected]
- Grande Barreira de Corais da Austrália: Até 50% dos corais morreram em decorrência dos efeitos do aumento das temperaturas dos oceanos. O branqueamento dos oceanos, em seu segundo ano de expansão sem precedentes, já atingiu dois terços dos corais da barreira. O governo australiano aprovou a maior mina de carvão do mundo – a mina de Adani, em Queensland –, que pretende transportar carvão sobre os corais, aumentando ainda mais o risco a que a barreira está exposta devido à poeira do carvão, à escavação e a potenciais acidentes com os navios. Para obter mais informações sobre as ameaças à Grande Barreira de Corais, entre em contato com Blair Palese, CEO da 350.org Austrália [email protected] 0414659511
- Turquia: incontáveis lugares antigos estão em perigo no país. Dentre eles, estão o templo de Hécate em Lagina (Yatağan), a antiga cidade portuária de Kyme e a fortaleza bizantina de Pegae. Muitos outros podem ficar ameaçados se a Turquia mantiver seus planos de construir um número ainda maior de usinas de carvão. Para obter mais informações, entre em contato com Cansin [email protected] +905325479043