3 outubro, 2017

Instituições religiosas anunciam maior compromisso de desinvestimento em combustíveis fósseis

40 entidades, incluindo algumas na terra natal de São Francisco de Assis e o Banco Católico, aderem à campanha para retirar investimentos em carvão, petróleo e gás

Uma coalizão de instituições religiosas anunciou hoje o desinvestimento em combustíveis fósseis. A coalizão composta por 40 instituições concretizam o maior anúncio conjunto de desinvestimento por organizações religiosas até o momento. As instituições estão localizadas nos cinco continentes e representam diferentes campos, desde locais sagrados até entidades financeiras da hierarquia da igreja.

A decisão das instituições religiosas de remover seu apoio aos combustíveis fósseis baseia-se tanto no seu valor compartilhado de proteção ambiental quanto na sabedoria financeira de se preparar para uma economia neutra em carbono.

Em Assis, Itália, terra de São Francisco e lugar profundamente significativo para os 1,2 bilhões de católicos do mundo, três instituições e um governo municipal desinvestiram. O grupo de Assis inclui o Sacro Convento, um complexo de mosteiros e o local sagrado que abriga a tumba de São Francisco, de quem o Papa Francisco tomou seu nome. O Sacro Convento é considerado o lar espiritual de irmãos e irmãs, Franciscanos e Franciscanas de todo o mundo.

Juntamente com o Sacro Convento, a diocese Católica de Assis-Nocera Umbra-Gualdo Tadino também anunciou desinvestimento. A diocese, que inclui mais de 80 mil pessoas e a cidade de Assis, é local de várias peregrinações importantes a cada ano. O Instituto Seráfico de Assis, um centro médico religioso que cuida de crianças especiais também se juntou ao anúncio em conjunto.

Em complemento, o prefeito da cidade de Assis anunciou seu desenvolvimento em combustíveis fósseis. Além do desinvestimento na altamente significativa casa de São Francisco, as entidades da igreja em todo o mundo estão afastando-se dos combustíveis fósseis. Na África do Sul, a Arquidiocese Católica da Cidade do Cabo investiu em fundos sociais e éticos. A Conferência Episcopal da Bélgica, que é o braço político da Igreja Católica na Bélgica, também desinvestiu e seus bispos se juntam à diocese Belga do Vicariato de Brabante em Mechelen.

Esses líderes espirituais se juntam a líderes empresariais. Duas instituições financeiras anunciaram seu desinvestimento. O Germany’s Bank für Kirche und Caritas eG (Banco da Igreja e Caritas) é um dos primeiros bancos católicos do mundo a desinvestir em combustíveis fósseis. O banco, que tem um balanço de 4,5 bilhões de euros, está rompendo com o mercado do carvão, além do petróleo de areias betuminosas e de xisto, por ser moralmente imperativo e fiscalmente responsável.

Neste anúncio também se juntou a Oikocredit Belgium, uma instituição financeira ecumênica e uma das maiores fontes de financiamento privado do mundo para microfinanças. A Oikocredit é acompanhada por outras 12 instituições belgas.  

Essas instituições são algumas das 40 organizações que desinvestiram. O compromisso conjunto de 40 instituições religiosas é mais que quadruplicar o tamanho do anúncio feito em maio, quando nove organizações católicas desivestiram. Até essa data, cerca de 5 trilhões de dólares foram retirados de combustíveis fósseis em todo o mundo. Em todo o mundo até essa data, o valor total das instituições que se comprometeram com desinvestimento supera 5 trilhões de dólares.

Este anúncio de desinvestimento vem em meio a ação cristã para proteger o meio ambiente durante o Tempo da Criação. O Tempo da Criação é uma celebração de oração e ação pelo o meio ambiente e é abraçada por uma ampla comunidade ecumênica.

A lista de instituições que anunciaram o compromisso com o desinvestimento está disponível aqui (em inglês).

Citações:

  • Christiana Figueres, ex-Secretária Executiva das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC): “A ciência nos diz que para a melhor chance de ficar bem abaixo de 2C de aquecimento – e, portanto, garantir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para acabar com a pobreza, a fome e permitir a prosperidade para todos -, devemos declinar a curva de emissões de gases de efeito estufa até 2020. O anúncio de hoje é um sinal de que estamos a caminho de alcançar a nossa missão coletiva. Ainda temos um longo caminho a percorrer, no entanto. Espero que vejamos mais líderes como essas 40 instituições católicas, porque, embora essa decisão tenha um sentido financeiro inteligente, agir de forma coletiva para oferecer um futuro melhor a todos é também nosso imperativo moral.”
  • Tomás Insua, diretor executivo do Movimento Católico Global pelo Clima, principal promotor deste anúncio de desinvestimento: “A clareza moral dessas 40 instituições é motivo de celebração. Sua liderança ilumina um caminho que o Banco Mundial e seus colegas órgãos financeiros devem seguir. À medida que o Banco Mundial se encontra em Washington, D.C., esperamos que seus líderes percebam que o movimento para um mundo sem fósseis cresceu e está muito mais forte.”
  • Ir. Sheila Kinsey, líder das Irmãs Franciscanas de Wheaton e Co-Secretária Executiva da Comissão JPIC do USG-UISG em Roma: “Quando as Irmãs Franciscanas de Wheaton desinvestiram dos combustíveis fósseis em maio, ficamos muito felizes pelo fato de outras oito organizações juntarem nos. Ver esse número mais que quadruplicado apenas cinco meses depois é realmente surpreendente. O movimento de desinvestimento está crescendo todos os dias, e pessoas de fé estão na liderança.”