Após as revelações, Notre Affaire à Tous e 350.org pedem que a empresa seja responsabilizada por seu comportamento passado e presente frente à crise climática
Em artigo publicado hoje na revista Global Environmental Change, três historiadores revelam que gestores e funcionários da petrolífera francesa TotalEnergies (na época, Total e Elf) foram alertados já no início de 1971 sobre a possibilidade de mudanças climáticas sem precedentes devido à produção de combustíveis fósseis.
O documento revela práticas que a multinacional do petróleo utilizou para enganar o público, os formuladores de políticas e os investidores nos últimos 50 anos, incluindo:
- Implementar estratégias para desacreditar a ciência do clima e gerar dúvidas sobre a emergência climática;
- Promover um “lobby” feroz para impedir qualquer forma de regulação de suas atividades;
- Continuar a desenvolver extensivamente seus negócios quase exclusivamente em torno de combustíveis fósseis, apesar de saber dos impactos desastrosos que isso teria nas pessoas e no planeta.
Na sequência desse anúncio, as organizações Notre Affaire à Tous e 350.org lançam hoje uma campanha para exigir das autoridades públicas que responsabilizem a Total por sua irresponsabilidade, e dos grandes bancos que cortem seus laços com a Total.
“Essas revelações fornecem provas de que a TotalEnergies, assim como outras grandes empresas de petróleo e gás, roubou o tempo precioso que uma geração inteira teria para conter a crise climática. As terríveis consequências da mudança climática que estamos enfrentando agora poderiam ter sido evitadas se os executivos da Total, há cinquenta anos, tivessem decidido que o futuro do planeta é mais importante do que seus lucros”, afirmam em conjunto a Notre Affaire à Tous e a 350.org
As estratégias utilizadas pela Total nos últimos 50 anos mostram que a prioridade da multinacional sempre foi proteger seus lucros a todo custo, independentemente do impacto para a humanidade e o clima.
Ainda hoje, a TotalEnergies pretende aumentar sua capacidade de produção e desenvolver novos projetos devastadores em regiões protegidas, como o East African Crude Oil Pipeline (EACOP) e o projetos Arctic LNG2. De acordo com seus planos atuais, os combustíveis fósseis ainda representarão mais de 80% dos investimentos do grupo em 2030.
“O desenvolvimento intensivo de combustíveis fósseis é uma declaração de guerra contra a humanidade. Os planos da Total de continuar desenvolvendo novos campos de petróleo e gás nos próximos anos podem custar milhões de vidas. No entanto, isso só é possível devido ao apoio que recebem do setor financeiro. De todo o mundo, estamos apelando aos bancos: é hora de cortar o financiamento para a Total”, afirma Clémence Dubois, líder da equipe da 350.org na França.
Como as negociações da COP26 começam em poucas semanas, essas revelações enfatizam a necessidade urgente dos governos de controlar a indústria de combustíveis fósseis e seus financiadores, em vez de esperar que eles façam uma transição voluntária.
“As estruturas jurídicas e as ações judiciais estão se mostrando cada vez mais eficazes para obrigar as multinacionais a respeitarem seus compromissos climáticos, conforme demonstrado pelo caso da Shell na Holanda”, diz Justine Ripoll, gerente de campanha da Notre Affaire à Tous. “No entanto, precisamos ficar atentos: essas iniciativas legais estão sob constante ataque do lobby das grandes empresas”, alerta.
Essas práticas de lobby junto ao poder público, para fazer com que os interesses das multinacionais tenham precedência sobre o futuro das populações e do planeta, documentadas nas pesquisas recém-publicadas, ainda são muito atuais.
Notre Affaire à Tous e 350.org estão conclamando o governo francês a lançar uma comissão de inquérito para lançar luz sobre a forma como as decisões de política climática foram tomadas durante todas essas décadas. As organizações ressaltam que essa medida é especialmente importante por sabermos que Total e Elf estiveram – e continuam a estar – intimamente ligadas ao estado francês, como mostrou um relatório recente da Friends of the Earth.
350.org e Notre Affaire à Tous exigem que governos e atores financeiros obriguem a TotalEnergies a se alinhar com o Acordo de Paris e a deixar de desenvolver novos projetos de combustíveis fósseis.
Ao decidir não regulamentar as atividades da TotalEnergies e ao continuar fornecendo apoio financeiro à companhia, o governo e as instituições financeiras estão transferindo o fardo da transição climática para os cidadãos e autoridades locais, que agora estão pagando um alto preço pela exploração desenfreada de combustíveis fósseis. A TotalEnergies deve ser responsabilizada pelas perdas e danos causados por sua decisão de ignorar os avisos científicos nos últimos 50 anos.
Para mais informações, acesse o site totalknew.com.
Contatos para a imprensa
Notre Affaire à Tous: Justine Ripoll, Campaigns Manager
[email protected] / 00 33 6 42 21 37 36
350.org: Clémence Dubois, France Team Lead
[email protected] / 00 33 6 42 71 31 75