fala May

Um mês após a maior mobilização contra as mudanças climáticas da história,  que reuniu centenas de milhares de pessoas  ao redor do mundo, cientistas divulgaram relatório alarmante sobre o aquecimento  global. Um futuro próximo catastrófico está a caminho, caso não se tomem medidas urgentes e drásticas de contenção do aquecimento global. O alerta é de um novo relatório divulgado ontem pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas. Os especialistas afirmam que as emissões dos três principais gases que provocam o efeito estufa estão em seu maior nível em 800 mil anos.

“A influência humana no sistema climático é clara, quanto mais perturbamos nosso clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e irreversíveis”, avisou o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri. O documento, divulgado após uma semana de intensos debates, indica que a Terra caminha para um aumento de pelo menos 4ºC até 2100, na comparação com nível da era pré-industrial. Em consequência, haverá grandes secas, inundações, aumento do nível do mar e extinção de muitas espécies, além de fome, populações deslocadas e conflitos potenciais.

A justificativa científica para dar prioridade a uma ação contra a mudança climática é mais clara que nunca. Temos pouco tempo pela frente antes que passe a janela de oportunidade para permanecer abaixo dos 2ºC”, ressaltou Pachauri.

O relatório considerado o mais alarmante já publicado pelo IPCC chamou a atenção de ONGs e de grupos da sociedade civil. “Os cientistas fizeram o trabalho deles, agora é a vez dos políticos começarem a agir. Líderes de todo o mundo têm tudo o que precisam para agir: evidências científicas claras, conjuntura econômica e grande apoio do público. A única coisa que falta aos políticos é força de vontade”, disse May Boeve, diretora executiva da 350.org, ONG ativista contra as mudanças climáticas.

O relatório indica que, para que a temperatura do planeta se mantenha sob esse patamar, as emissões têm de cair entre 40% e 70% em todo o mundo de 2010 a 2050, e chegar a zero até 2100. A divulgação ocorre antes das negociações de dezembro em Lima, ocasião em que se pretende traçar o caminho para a grande reunião de dezembro de 2015 em Paris, que tem como meta a assinatura de um compromisso para alcançar o objetivo dos 2ºC. E segundo organizações da sociedade civil, isso não será possível sem a mudança do modelo de negócio da indústria de combustíveis fósseis.

O relatório explicita a necessidade imediata do mundo parar de utilizar combustíveis fósseis. É um claro indicativo de que carvão, gás natural e petróleo não devem mais ser explorados. A indústria de combustíveis fósseis e um planeta onde podemos viver é uma combinação simplesmente incompatível”, afirma Boeve.