O vazamento de cinco mil toneladas de óleo que atingiu mais de 130 municípios em 11 estados, sendo nove do Nordeste e dois no Sudeste, segue a causar impactos incalculáveis no ecossistema brasileiro litorâneo e continua a trazer desafios para quem depende da pesca para a sua sobrevivência. O ‘aniversário’ de dois anos do ocorrido serve de alerta para os próximos leilões que serão realizados pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, no dia 7 de outubro.

“A contaminação química dura muito mais tempo do que aquilo que a poluição visual pode sugerir.”, afirmou oceanógrafa Mariana Thevenin em 2019

Foto: Raul Spinassé/Folhapress

Um dos maiores desastres ambientais ocorridos no Brasil ainda não tem data para acabar, e não há como prever prazo para que esse momento chegue. Após dois anos do vazamento, ainda são encontrados óleos nas praias atingidas, principalmente nas estruturas rígidas como rochas e corais, além da ampla presença do óleo nas dunas. 

Até o momento, as autoridades brasileiras não determinaram a origem do vazamento do óleo. Segundo pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, o fato de não sabermos as origens, nem a quantidade de óleo despejada no mar dificulta a busca de soluções, pois ainda não se tem o conhecimento da quantidade de óleo que resta no fundo do oceano ou que está enterrado sob a areia. 

Em 2019, o ocorrido já havia impactado milhares de famílias de comunidades pesqueiras que tiveram a sua renda comprometida e, hoje, a situação dos mais de 300 mil pescadores não está muito diferente. Pesquisadores da Fundaj aplicaram uma pesquisa em 40 municípios nordestinos para entender os impactos socioeconômicos causados pelo derramamento de óleo. A região tem com o turismo uma das suas principais atrações e fontes de renda e, durante a pesquisa, constatou-se que donos de bares e restaurantes foram os mais atingidos depois dos próprios pescadores – que além de obterem sua renda com a venda dos pescados, também os consomem como fonte de alimentação.

O impacto do desastre é sentido de forma diferente por mulheres pescadoras com a perda de autonomia financeira. Pescadoras que conseguiam através do seu trabalho entre 800 e 1000 reais antes do crime ambiental, hoje, enfrentam desafios com a renda de, no máximo, 100 reais por mês para suprir as necessidades de toda a família.

“A gente não conseguia vender nenhum quilo de marisco ou de peixe. Com esse derramamento de óleo, passamos por um dos piores momentos. E o governo não deu nenhuma satisfação para o nosso quilombo. Nós, marisqueiras e pescadores, perdemos muito pescados naquele momento. Foi muito triste e sofredor.”, relata Ana Lúcia Oliveira de Jesus, pescadora no Quilombo Porto da Pedra, em Maragogipe – BA

Em outubro, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) irá realizar a 17a rodada de Licitações, que tem potencial de afetar parte da indústria do turismo brasileiro, da pesca, da biodiversidade e do clima. Apesar dos diversos riscos trazidos por relatórios que identificam perigos para dezenas de espécies marinhas já ameaçadas de extinção e a falta de estudos conclusivos de análise sobre os impactos da atividade petroleira para garantir segurança ambiental, o leilão segue acontecendo. 

Estudos indicam que, caso haja algum desastre na Bacia de Pelotas (costa sul do Brasil onde há blocos a serem leiloados), o petróleo vazado no mar poderia atingir até a costa do Uruguai. Caso algum desastre ocorra novamente, os impactos podem ser ainda piores e, mesmo com diversas tentativas de movimentos, comunidades, organizações e cientistas de tentar barrar a 17a rodada, a ANP e o Governo Federal continuam com a sua realização, ignorando os diversos alertas e possíveis desastres ambientais, sociais e econômicos que poderemos vir a enfrentar com a continuidade da exploração dos combustíveis fósseis. 

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Renata Padilha – Campanhas Digitais da 350.org