A presença nos últimos dias dos caminhões contratados pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) no Oeste do Paraná para a realização de testes de aquisição sísmica e pesquisa para exploração do gás de xisto deixou diversas cidades da região em estado de alerta. É que os testes provocam terremotos induzidos, gerando impactos ao ambiente e prejuízos às edificações, e abrem caminho para a pesquisa, utilizando a tecnologia do fraturamento hidráulico, ou fracking, para a perfuração de poços para verificar o potencial da reserva.
A preocupação foi tanta que lideranças políticas do Executivo e Legislativo, entidades do setor produtivo, da Igreja Católica e diversos segmentos sociais de Toledo se uniram para aprovar com urgência projeto de Lei para barrar os testes, que são tão nocivos ao ambiente, à produção de alimentos e à saúde das pessoas quanto a tecnologia em si.
Após intensa mobilização promovida pela COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida – e 350.org Brasil, além de voluntários da campanha Não Fracking Brasil, o prefeito Beto Lunitti encaminhou proposição e os vereadores aprovaram em regime de urgência uma legislação ampla que proíbe toda e qualquer atividade relacionada ao fraturamento hidráulico, o fracking.
Veto a pesquisas
A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou em novembro projeto de Lei que suspende por dez anos o licenciamento para operações de fracking, mas permite os testes e pesquisas em seu artigo 3º. A COESUS pleiteia a sanção da Lei mas com o veto ao artigo, pois entende que as pesquisas abrem caminho para a contaminação dos aquíferos e solo, representando uma barreira fitossanitária para toda a comercialização da produção de todo o Estado.
Várias lideranças políticas, religiosas e dos movimentos organizados, setor produtivo e academia científica estão se manifestando contra as pesquisas sísmicas, indicando ao Governador Beto Richa que é fundamental o veto para a salvaguardar a vida dos paranaenses e a nossa economia.
O temor que os testes de aquisição sísmica aconteçam em Umuarama, Reginaldo Urbano Argentino, coordenador de Desinvestimento da 350.org Brasil, membro da COESUS e presidente da Cáritas Paraná, esteve com os vereadores Diemerson Castilho e Jones Vivi para articular a aprovação de um projeto de Lei que proíba os testes de aquisição sísmica e pesquisa para exploração do gás de xisto.
“As duas cidades já possuíam Leis que proibiam operações de fracking, mas que não contemplavam as pesquisas. Agora, com a nova legislação, Umuarama estará definitivamente protegida dos impactos do frackingcomo quer a população, seja para testes, para pesquisa ou para a extração do gás mortal, garantindo a nossa soberania e desejo de preservar a vida”, afirmou Reginaldo.
“O objetivo é aprovar a nova legislação municipal antes do recesso para afastar de vez o fracking”, garantiu o coordenador, que pretende ainda levar a proposta de proibição aos municípios da região.
Mobilização contra os fósseis
Umuarama tem sido pioneira junto ao movimento internacional contra o fracking e os combustíveis fósseis, graças ao engajamento de lideranças religiosas da Igreja Católica como o Bispo Dom Frei João Mamede Filho. Aliás, o Bispo Mamede tem feito da sua Diocese um exemplo na adoção de medidas para conter as mudanças climáticas.
A Diocese Divino Espírito Santo de Umuarama se apresenta não só como a primeira Diocese, mas também como a primeira instituição da América Latina a aderir ao desinvestimento. Sua proposta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a fim de tornar-se uma Diocese de Baixo Carbono. Junto com sete instituições católicas de peso ao redor do mundo, o Bispo Mamede anunciou a adesão à campanha de desinvestimento do setor de combustíveis fósseis, o maior anúncio conjunto feito pelo segmento religioso em 4 de outubro deste ano, Dia de São Francisco.
“Como Bispo da Diocese de Umuarama, em comunhão com a Igreja Católica e atento aos apelos do Evangelho, compreendo com clareza as mensagens do Papa Francisco através da Encíclica Laudato Si, que nos convoca ao cuidado da Casa Comum por meio de iniciativas que defendam a vida como um todo. Não podemos nos acomodar e seguir permitindo que interesses econômicos que buscam o lucro antes do bem-estar das pessoas, destruindo a biodiversidade e os ecossistemas, continuem ditando nosso modelo energético, baseado nos combustíveis fósseis. Sabemos que o Brasil conta com fontes abundantes de energias limpas e renováveis que não agridem a nossa Casa Comum. Por isso, acredito que a proposta de tornar a Diocese de Umuarama de baixo carbono é um dos caminhos práticos para se alcançar o que propõe a Laudato Si”, afirmou à época Dom Mamede.
Por Silvia Calciolari