Começa amanhã, em Brasília, o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) 2018. Entre os dias 17 e 22 de março, cerca de 5 mil pessoas tomarão a capital no evento internacional que pretende reunir organizações e movimentos sociais que lutam em defesa da água como direito elementar à vida. Trabalhando diretamente com o tema no Brasil e em outros países da América Latina, em campanhas como a que defende a proteção do Aquífero Guarani, a Lei de Glaciares na Argentina e pela proibição do fracking e outras formas de exploração de combustíveis fósseis, a 350.org e a COESUS (Coalizão Não Fracking pelo Clima, Água e Vida) estarão presentes em diversas atividades da programação.

Em contraposição ao 8º Fórum Mundial da Água, chamado por organizações e movimentos sociais de “Fórum das Corporações”, o FAMA tem como objetivo fundamental tratar o tema da água como um bem natural e um direito fundamental de todas as populações. Será realizada uma série de debates que irão focar a questão nas suas mais variadas facetas.

Já no final de semana, serão realizadas duas oficinas. A primeira, no sábado (17), irá debater a contaminação das águas superficiais e subterrâneas pela exploração de fósseis, e convida os participantes a refletirem sobre a contribuição de fontes de energia como o carvão, o petróleo e o gás para o agravamento das mudanças climáticas, para a poluição e uso intenso dos recursos hídricos.

A segunda oficina, no domingo (18), tratará do risco da exploração não convencional por fracking para os aquíferos. O fraturamento hidráulico, mais conhecido como fracking, é uma tecnologia minerária para perfuração de poços profundos que necessita da injeção de 30 a 40 milhões de litros de água doce misturados a centenas de produtos químicos tóxicos, cancerígenos e alguns até radioativos. Além de contribuir para a escassez hídrica, ele também agrava as alterações no clima, uma vez que libera sistematicamente o gás metano, 86 vezes mais danoso que o CO².

Ambas oficinas serão ministradas por Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, e Suelita Rocker, coordenadora de engajamento e comunidades da COESUS e 350.org Brasil. Serão apresentadas ferramentas utilizadas nas campanhas em defesa da água e para construir um mundo livre de combustíveis fósseis. No Brasil, no âmbito da campanha Não Fracking, coordenada nacionalmente pela 350.org e COESUS, mais de 350 cidades já aprovaram legislações proibindo a prática.

A Coalizão foi expandida recentemente também para outros países da América Latina, como Uruguai, Paraguai e Argentina, nações que compartilham “a guarda” do Aquífero Guarani, principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e uma das maiores do mundo. Produzindo 50 quatrilhões de litros de água por ano, ele tem capacidade para abastecer 400 milhões de pessoas.

“O Brasil é o país que detém as maiores reservas de água doce superficial e subterrânea do mundo – os Sistemas Aquíferos Grande Amazônia e Guarani. Por isso devemos nos articular politicamente em nível regional e mundial para que esse bem comum e fundamental não seja perdido em prol da ganância de poucas grandes corporações”, defendeu Juliano Bueno de Araújo, coordenadora de campanhas climáticas da 350.org Brasil e fundador da COESUS.

Segundo os organizadores do FAMA, o Fórum “oficial” é vinculado a organizações privadas, em especial às grandes empresas multinacionais, que têm como meta impulsionar a mercantilização da água; intensificar práticas de transposição de bacias hidrográficas, privilegiando o atendimento das demandas por água a qualquer preço em detrimento da sua gestão; construir barragens para os mais variados fins, afetando de forma significativa populações ribeirinhas e indígenas sem considerar impactos sociais e culturais; apropriar-se dos aquíferos subterrâneos; entre outros.

Denunciar essas práticas que impõem fortes impactos financeiros e restrições de acesso à população de todo o mundo, afetando, sobretudo, os mais pobres, está entre os principais objetivos do Fórum Alternativo. Além disso, serão debatidos temas centrais de defesa pública e controle social das fontes de água, como o acesso democrático a esse recurso natural, a luta contra as privatizações, as políticas públicas necessárias para o controle social da água e a preservação ambiental, que garanta a manutenção do ciclo natural da água em todo o planeta.

“Vemos o Fórum como um espaço onde a voz da sociedade civil é realmente privilegiada, e que tem como objetivo apontar direções estratégicas e políticas públicas a serem adotadas pelos governos de forma mais urgente nos próximos meses. Esperamos que os debates contribuam para a criação e o fortalecimento de uma consciência coletiva sobre a importância desse recurso escasso e finito, mas fundamental para a manutenção da vida”, afirmou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.