Em plena discussão global sobre resolução de crise climática, projeto aprovado pelo governo Lula contribui com aquecimento global e prejudica comunidades indígenas da Argentina.
Rio de Janeiro – 18 de novembro – A Argentina e o Brasil acabam de informar que assinaram, durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, um acordo para importar gás argentino a ser extraído da região de Vaca Muerta (localizada na Província de Neuquén, a oeste da região da Patagônia) para o mercado brasileiro. O documento teria sido assinado por Luis Caputo, Ministro da Economia da Argentina, e Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energia do Brasil.
Segundo informes de imprensa, o acordo prevê a criação de um comitê bilateral para avaliar a possibilidade de exportações , a partir de 2025, de um volume inicial de 2 milhões de metros cúbicos por dia (MMm3/d), aumentando nos próximos três anos para 10 milhões e chegando a 30 milhões em 2030.
Na Argentina , os indígenas do povo Mapuche já são duramente impactados pelo fracking (também chamado de fratura hidráulica), técnica de extração de gás utilizada em Vaca Muerta. No Brasil, ambientalistas repudiam a técnica que já foi proibida em diversos países por seus danos ambientais e sociais.
Financeiramente, técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, provável financiador de Vaca Muerta) temem os riscos regulatórios e cambiais do negócio, embora o seu presidente Aloisio Mercadante publicamente apoie o projeto. O mesmo ocorre na Agência Nacional de Petróleo (ANP), responsável pela regulação do setor de gás no Brasil.
Ilan Zugman, diretor da 350.org para a América Latina, disse:
“A importação de gás do fracking de Vaca Muerta, na Argentina, por parte do Brasil, é um passo em direção oposta à ambição de nosso País se posicionar como líder climático. Ao optar por combustíveis fósseis extraídos de uma das mais destrutivas formas existentes, o Brasil arrisca sua reputação internacional como defensor do combate à mudança climática. Além disso, as comunidades e povos indígenas da Argentina, já impactados pela contaminação, terremotos e doenças provenientes do uso da técnica, pagam o preço por essa escolha. Em um momento em que as energias renováveis já oferecem soluções menos danosas ao meio ambiente e as pessoas, essa dependência de gás fóssil compromete não apenas o futuro do planeta, mas também a oportunidade de avançarmos para um modelo energético mais justo para todos.”
Renan Andrade, coordenador da 350 para a América Latina, disse:
“Nos solidarizamos com o povo Argentino. Sabemos que o fracking é danoso às comunidades e é uma vergonha que estejamos ajudando a prejudicá-los.
No Brasil, estamos trabalhando com centenas de organizações da sociedade civil, academia e grupos políticos para que o fracking (garimpo de gás) não seja implementado por aqui. Ao apagar das luzes, o governo Bolsonaro lançou o edital do poço transparente que nada mais é que um nome bonito para o fracking, e o governo Lula insiste em manter esse edital ativo, mesmo sabendo das terríveis consequências socioambientais e econômicas dessa técnica.”
Nota aos editores
- Cinco rotas possíveis ainda estão sendo analisadas no projeto Vaca Muerta. Uma alternativa seria conectar-se diretamente à rede de gasodutos da Argentina com o município de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, embora isso dependa da conclusão da segunda etapa do gasoduto Presidente Néstor Kirchner.
- Deve-se lembrar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estava em negociações para financiar essa segunda etapa, durante o governo argentino anterior à administração de Milei.
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