Orientados pela 350.org Brasil e COESUS, prefeitos, vereadores e entidades públicas e da sociedade organizam para o final do mês um encontro para ampliar o banimento da exploração do gás de xisto

Por Silvia Calciolari

Palestra de sensibilização sobre os riscos e perigos do fracking em Salgado Filho, articulada pelo vereador Gilberto Casa e Alfredo Santos, junto com a Assesoar (Foto: 350Brasil/COESUS).

Palestra de sensibilização sobre os riscos e perigos do fracking em Salgado Filho, articulada pelo vereador Gilberto Casa e Alfredo Santos, junto com a Assesoar (Fotos: 350Brasil/COESUS).

 

Francisco Beltrão já é território livre do fracking. Agora é a vez de todas as 42 cidades do Sudoeste do Paraná mandarem um recado em alto e bom som para a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Unidos, os paranaenses e aquelas pessoas que escolheram essa terra para viver não irão permitir operações para extração de gás de xisto por fraturamento hidráulico, ou fracking. Método não convencional altamente poluente para exploração do gás de xisto do subsolo, o fracking está proibido em diversos países por seus impactos ambientais, na economia e na saúde e vida das pessoas. Agora é a vez das cidades aprovarem projeto de Lei para banir a prática em seu território.

Uma ampla frente articulada pela 350.org Brasil e COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida está sendo organizada para realizar em agosto um seminário regional que deve mobilizar todas as cidades que estão na rota desta tecnologia altamente poluente e nociva.

“O objetivo é fazer com que o maior número de pessoas que vivem no campo e nas cidades conheça os riscos e perigos da exploração do gás de xisto, também chamado de gás da morte”, afirmou Reginaldo Urbano Argentino, coordenador de Desinvestimento da 350.org e presidente da Cáritas Paraná, que esteve na região essa semana.

A ofensiva no Sudoeste tem na linha de frente a Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop), Associação das Câmaras Municipais do Sudoeste do Paraná (Acamsop), a Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural (Assesoar), Território, Fórum das Entidades, Defesa civil entre outras lideranças políticas, religiosas e da sociedade civil.

“Vamos fortalecer as parcerias e capacitar as lideranças para que juntos possamos apresentar às Câmaras Municipais o projeto de Lei que proíbe operações para essa atividade que contamina a água, solo e ar, deixa as pessoas doentes e destrói nosso bem maior que é a natureza”, garantiu Reginaldo. No próximo dia 30 de junho haverá mais uma rodada de visitas e reuniões, todas preparatórias para um grande seminário regional a ser realizado em agosto.

Conversa com vereadores em Marmeleiro.

Conversa com vereadores em Marmeleiro.

 

Nessa rodada, serão realizadas várias visitas a lideranças. O trabalho começou em Salgado Filho e foi articulado pelo vereador Gilberto Casa e Alfredo Santos, junto com a Assesoar. Já em Marmeleiro, a reunião foi na Câmara de Vereadores e contou com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Agricultura. Todos ficaram muito preocupados com os impactos para economia da região, eminentemente agrícola e de indústrias derivadas da produção de leite e seus subprodutos.

Esmeralda Gusmão, que pertence à região e voluntária da COESUS, acompanhou as visitas e conversou com o Major Antônio Schinda Comandante do 3 SGBI do Terceiro Subgrupamento de Bombeiros Independente de Francisco Beltrão que de pronto aderiu à campanha Não Fracking Brasil. “É um apoio muito importante para a luta contra a exploração de gás de xisto na região que a cada dia ganha mais relevância e amplitude”, enfatizou Esmeralda. O Major Schinda se comprometeu a enviar as 27 cidades que estão sob seu comando sugestão do projeto de Lei que proíbe operações de fracking.

Livre da contaminação

Por ser a região com a maior bacia leiteira do estado, o banimento do fracking garante a produção de 1,2 bilhões de litros anos de leite por ano, segundo estimativas da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento.

De acordo com Juliano Bueno de Araujo, coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org e um dos fundadores da COESUS, vive no Sudoeste uma população de aproximadamente 620 mil pessoas que dependem do abastecimento de águas subterrâneas para consumo, produção de alimentos e pecuária, além da indústria.

“Com mais cidades proibindo essa e outras explorações minerárias, vamos conseguir cobrir praticamente todas as regiões que estão sob a mira da ANP no Paraná. Vamos ver desta vez se o Governo Federal entende de uma vez por todas que os brasileiros de um modo geral já sabem que fracking não é seguro”, alerta Juliano.

A campanha Não Fracking no Brasil já se espalhou pelo país levando informação nas audiências públicas, seminários, palestras, oficinas de capacitação numa onda contra a indústria dos combustíveis fósseis. Mais de 350 cidades brasileiras já aprovaram legislação para banir o fracking para proteger as reservas de água, como os Aquíferos Guarani e Serra Geral no caso do Paraná. Grande parte das cidades do Oeste, Noroeste, Norte e Norte Pioneiro e várias da região Central, inclusive Guarapuava, já estão protegidas da contaminação.

Reunião da coordenação da campanha Não Fracking Sudoeste na Associação dos Municípios do Sudoeste – AMSOP: Reginaldo Urbano Argentina (à esquerda), José Kresteniuk diretor da AMSOP, Luiz Pirin da Território, Esmeralda Gusmão, Gelsi Dutra e Elisângela Bellandi Loss da Assesoar.

Reunião da coordenação da campanha Não Fracking Sudoeste na Associação dos Municípios do Sudoeste – AMSOP: Reginaldo Urbano Argentina (à esquerda), José Kresteniuk diretor da AMSOP, Luiz Pirin da Território, Esmeralda Gusmão, Gelsi Dutra e Elisângela Bellandi Loss da Assesoar.

 

“O Brasil faz parte de um movimento internacional que exige o desinvestimento de projetos fósseis como petróleo, gás e carvão. Temos potencial para geração de energia limpa e segura a partir das renováveis e não podemos mais perder tempo diante do caos climático”, destaca Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latin

Para ela, “as mudanças climáticas já são uma dura realidade para milhões de brasileiros, e em todo o mundo, e não podemos ignorar que a solução passa por se informar e pressionar os legisladores para que promovam uma mudança de paradigma em nossa matriz energética”.