Mais de 1.100 pessoas de 8 municípios catarinenses acompanharam ontem (18) o seminário “Riscos da Extração do Óleo e Gás de Xisto” na cidade de Papanduva (SC). O objetivo do evento foi aprofundar o conhecimento da população acerca dos problemas que podem ser causados caso empresas de exploração de xisto se instalem na região. O encontro foi uma iniciativa organizada pela Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS), 350.org Brasil, Instituto Internacional Arayara e Associação de Proteção da Bacia do Rio São João e da Bacia do Rio Papanduva (PRORIOS).
Durante uma palestra muito dinâmica e expressiva realizada pelo coordenador e fundador da COESUS, Juliano Bueno Araújo, os presentes puderam ter contato com os principais impactos socioambientais causados pelos métodos de extração de óleo e gás de xisto, entre eles o Petrosix; o Fracking; o Coalbed Methane (CBM) e o Tar Sands. Dentre os apresentados estão problemas de saúde, contaminações às pessoas, água e meio ambiente, além de questões econômicas e de desapropriação de terrenos. “Se não há no agora o respeito à propriedade, à tomada de decisão pessoal, de não permitir com que técnicos acessem suas fazendas, vocês já imaginaram o que vai acontecer daqui para frente?”, questionou Araújo.
O geólogo e professor emérito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Fernando Scheibe, também ministrou uma palestra apresentando aspectos técnicos e geológicos da região. “Estou arrepiado de ver tantas pessoas juntas neste salão por causa de uma ideia, a vontade de aprender mais e de termos a garantia de uma boa qualidade de vida – sem depender da nossa capacidade de consumo – mas pensando na nossa saúde e na nossa sociabilidade”, comentou Scheibe.
Após as explanações, as autoridades presentes comentaram suas considerações a respeito da possibilidade de extração na região. “Esse sistema mata, essa economia mata. Por isso, não se deixem iludir. A natureza que é agredida, nosso ar, a água não tem volta”, apontou o Bispo da Diocese de Caçador, Dom Severino Clasen. Já a Promotora de Justiça da Comarca de Papanduva, Bianca Andrighetti Coelho comentou que “acima de tudo, o Ministério Público de Santa Catarina, em especial a Promotoria de Justiça de Papanduva, virá buscar que se faça justiça e que o meio ambiente seja preservado”.
“Foi uma noite memorável para nossa comunidade e para todas as cidades no entorno, para que todos nós podemos entender o malefício aqui na região e para que todos possamos trabalhar unidos para evitar que isso aconteça”, complementou o Prefeito da cidade, Luiz Henrique Saliba.
Também estiveram presentes na mesa diretiva o vice-prefeito de Papanduva (SC), Jaime Iancoski, o Prefeito de Canoinhas (SC), Beto Passos, o Prefeito de Itaiópolis (SC), Reginaldo José Fernandes Luiz, o Presidente da Câmara de Vereadores de Papanduva (SC), Tafarel Schons, a presidente da PRORIOS, Maria Lucia Wawrzyniak, o diretor de campanhas globais e co-fundador da 350.org, Will Bates e a agricultora e coordenadora da Campanha Não Fracking Brasil, Suelita Röcker.
Homenagem
Na ocasião também foi concedida uma homenagem à prefeita da cidade de Santa Terezinha (SC), Valquíria Schwarz, que em 2016, enquanto era vereadora do município, encaminhou o primeiro projeto de lei do estado de Santa Catarina para evitar a exploração do xisto na cidade – preservando a vida, a água e a produção da região. Emocionada, Valquíria agradeceu a todos e reiterou a importância da participação popular no evento. “Nós gestores devemos lutar e defender aquilo que é bom para nossa população. Não podemos deixar que interesses econômicos passem à frente de interesses por uma vida melhor”, declarou.
Visitas à região de pesquisa
Além do seminário, as equipes da COESUS, Arayara e 350.org estiveram in loco para conhecer as áreas possivelmente atingidas de Papanduva, acompanhadas por produtores rurais da região. A geógrafa da COESUS, Carla Correia, certifica que foi de suma importância ir à campo reconhecer estas áreas nas quais empreendimentos podem agredir o meio ambiente e a comunidade local. “Foi possível sentir, por meio desta experiência, como as comunidades são vulneráveis à grandes empresas e suas ideias de progresso. Reconhecer o local, analisar a paisagem, sentir e agir em conjunto com a população é relevante para qualquer ação”, declarou na ocasião.
Conheça a região possivelmente atingida
Paulinne Rhinow Giffhorn — jornalista da Fundação Internacional Arayara e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).
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