Dias cinzas para a indústria do carvão. Após a cidade de São Sepé ter sido a segunda no país a declarar Emergência Climática, a mineradora interessada em extração de carvão mineral na região perdeu prazo de documentação para licenciamento ambiental. Com o vencimento dos prazos, e o posicionamento firme dos habitantes do município gaúcho, endossado pelo atual prefeito João Luiz Vargas (PDT), a mina deve ficar no chão.
“Isso é uma vitória importante da comunidade de São Sepé que foi resiliente e se antecipou para exigir das autoridades um caminho sustentável para a cidade, e ainda, deixar claro que água, e ar puro, são essenciais para a sobrevivência, e que os prometidos royalties do carvão, só espalham poluição e desigualdade. O município deveria tornar-se exemplo para outras cidades aqui da região”, falou Renan Andrade coordenador de campanhas da 350.org Brasil.
A participação dos moradores de São Sepé foi essencial para que tudo tenha sido bem encaminhado, já que o ex-prefeito Léo Girardello (PP) e alguns vereadores flertavam com lobistas da indústria desde a gestão passada.
Percebendo os riscos que corriam, a comunidade local se mobilizou e formou-se o grupo São Sepé Sustentável que acompanhou de perto o tema, e, desde então, vêm direcionando o município para uma posição vanguardista na região.
Segundo Lídia Leão, uma das fundadoras e mentoras do grupo, o movimento iniciou-se em outubro do ano de 2020, (vésperas das eleições municipais), quando juntou-se a outros moradores que perceberam a inclinação de Girardello ao projeto fóssil.
Lídia abriu um grupo no Facebook que, na mesma tarde, reuniu 100 pessoas contra a exploração de carvão. Atualmente, já somam-se mais de 1.400 pessoas com a mesma diretriz a favor da sustentabilidade. Dentro do grupo, foram-se agregando técnicos, e pessoas de outros movimentos sócio-ambientalistas da região, que foram trazendo informações sobre a luta e os riscos de se ter uma mina de carvão instalada no município:
“Não era um grupo político, mas de fato, sabemos que acabamos influenciando nas eleições municipais. Sempre dissemos que independente do partido, nosso partido é o meio ambiente. Nós protegemos a natureza e somos adeptos do que é sustentável”, afirmou Lídia.
Com a mobilização e uma direção clara sobre o que queriam, a comunidade de São Sepé conseguiu escrever a história que queriam para seu futuro.
“No curso normal, o lobby entre a indústria do carvão e o ex-prefeito passaria despercebido, e teríamos conhecimento da mina apenas em uma audiência pública já montada para aprovação do projeto. Mas ao fomentarmos a discussão, ficou claro que 99% dos moradores de São Sepé era contra o carvão e, com isso, houve uma mudança importante na gestão da cidade, elegemos um prefeito alinhado ao que queríamos.”, concluiu a ativista.
Com a eleição do prefeito, o grupo continuou trabalhando na campanha contra o carvão na região, e com apoio da 350.org, desenrolaram a campanha “Fora Carvão! Essa terra tem dono!”, fazendo referência ao líder indígena Sepé Tiarajú e sua história de resistência gaúcha na região.
Agora, com a perda do prazo da mineradora em licenciar o projeto na cidade, a população deve respirar um pouco mais leve, porém sem perder o ímpeto de lutar por seu futuro, implementando soluções sustentáveis e produção de energia limpa e renovável!
Fica aqui nossa admiração ao grupo e à população de São Sepé que mostra na prática a importância e o poder das pessoas quando falamos em resiliência climática.
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Livia Lie – Campanhas Digitais da 350.org