O Clímax Brasil é um grupo de jovens brasileiros que se propõe a mobilizar jovens e adolescentes sobre a questão das mudanças climáticas no país e surgiu no contexto do Global Power Shift

Amanhã, dia 29 de agosto de 2013, será realizado o primeiro Leilão de Energia A-5. Os leilões de energia são fundamentais para que o setor elétrico brasileiro se sustente, equilibrando a oferta e consumo de energia. Eles são um processo licitatório onde o Poder Público promove concorrências para fazer concessões a novas usinas e contratos de fornecimento de energia que irão atender à demanda futura das distribuidoras de energia do país. Os leilões são coordenados pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), agência ligada ao Ministério das Minas e Energia (MME)*.

Mas o mais importante é que esses leilões definem que fontes de energia serão utilizadas na nossa matriz energética, e isso gera impactos diretos nas nossas vidas, seja em termos ambientais ou no valor das tarifas pagas pelos consumidores.

O Leilão A-5 é o primeiro leilão de compra de energia deste ano, que definirá a energia que abastecerá o país a partir de 2018 – “A” significa o ano-base do leilão (2013) e “5” significa que a energia será fornecida cinco anos após o ano-base (2018). O segundo leilão A-5 deste ano acontecerá no dia 13 de dezembro.

A questão em jogo é que neste leilão as termelétricas a carvão estão liderando a oferta de energia! O governo não podia ter escolhido um mote pior para o momento que vivemos. A segurança da matriz energética pode (e deve) vir com fontes mais limpas e diversificadas de energia – como a eólica, solar e biomassa – e não envolve necessariamente a compra de carvão ou qualquer outro tipo de energia não-renovável. O carvão mineral representa 6% da nossa matriz de energia, um valor pequeno, mas que pode mudar nos próximos anos, já que a entrada desse tipo de fonte sinaliza a aceitação a investimentos dessa energia. A criação desta e de outras políticas como o desmonte do Código Florestal demonstram uma verdadeira irresponsabilidade por parte do Brasil.

O Leilão A-5 não está contabilizando o custo ambiental e o custo de vidas que essa fonte de energia pode trazer. As empresas que ganham o leilão são as que oferecem o menor preço de energia. Mas será que esses custos refletem também os custos dos impactos delas? Acreditamos que há custos muitos mais relevantes a serem considerados, como nossa sobrevivência digna e a de nosso planeta.

O Brasil é um dos poucos países onde ainda é fácil implantar uma economia de baixo carbono. Mas, ao invés disso, temos modificado a matriz energética com leilões de petróleo e agora a introdução do carvão como um componente significativo. Queremos que o governo subsidie sim fontes de energia, mas desde que elas sejam limpas e renováveis.

O planeta está aquecendo, é um fato, e a consequência disso tem impactos profundos e desiguais. Seu combate é urgente e iminente, e a política do Brasil está na contramão. E nós, jovens preocupados com o nosso futuro, nos perguntamos por quê? A verdade é que nem todo mundo perde com as mudanças climáticas. Grandes corporações se beneficiam através da criação de novas “soluções” tecnológicas para continuarem lucrando. Porém, as mudanças do clima estão profundamente ligadas com a desigualdade social e com sua intensificação, as pessoas mais vulneráveis serão as mais impactadas direta ou indiretamente.

Precisamos que o governo incentive fontes de energias limpas. Mas o dinheiro vem da mesma origem, certo? A partir do momento que você investe todo o seu dinheiro em fontes sujas, você está automaticamente deixando de investir em fontes alternativas. E a noção de que a energia proveniente de combustíveis fósseis é barata é completamente falsa, pois ela envolve gastos extremamente caros. Os custos relacionados aos danos à saúde humana, ao meio ambiente, ao uso da água, o impacto sobre o clima, tudo isso deveria ser considerado. A Austrália, por exemplo, foi pioneira em tarifar as fontes de energias sujas, incluindo todos estes impactos, e mesmo que o tenha feito timidamente, a energia eólica mostrou-se mais barata do que o carvão**.

Para nós, as manifestações que tomam conta do país desde junho são um bom exemplo de como podemos “sacudir o Brasil”, deixando claras as nossas demandas. As mudanças climáticas devem estar incluídas neste pacote e por isso temos que reivindicar por mudanças na política brasileira relacionada a este enorme impacto a nível global! VAMOS PRA RUA!!!! Somos jovens e temos a força de vontade necessária para continuar nessa dura batalha de querer ver o nosso país (e o nosso mundo) mais justo e limpo (e sem carvão!).

 

*O Instituto Acende Brasil realiza uma análise sistemática dos leilões realizados no setor elétrico, trabalho desempenhado desde junho/2007 e que pode ser conferido ao clicar no link (https://www.acendebrasil.com.br).

 

** Blog que explica como a energia eólica se tornou mais barata na Austráliahttps://outraspalavras.net/blog/2013/02/14/energias-limpas-australia-ensina-a-baratear/