A luta contra a construção de uma termelétrica em Peruíbe/SP vem revelando diversas vozes contra o “desenvolvimento” econômico a qualquer custo. Diferentes grupos sociais, de pescadores a empresários, concordam que um empreendimento perigoso e poluente traria mais prejuízos ao município – que tem o turismo ecológico como uma de suas principais atividades econômicas e em sua natureza, diversa e preservada, uma enorme riqueza.
Aos variados grupos urbanos, somam-se vozes que raramente são ouvidas ou consideradas em grandes projetos industriais, como o da usina da Gastrading. “Nenhum representante da empresa nos procurou para conversar. Mas nos informamos e soubemos que as tubulações de gás passariam por nossas terras. Desde então, a gente vem se posicionando contra essa usina”, conta o Cacique Tupi Guarani, Renan Awa, da aldeia Kwaray.
O cacique estará presente na Sessão desta quarta-feira (31), na Câmara da cidade, para acompanhar a votação final da emenda à lei orgânica que impede a instalação de indústrias poluentes e causadoras de chuva ácida no município. Em Peruíbe, há pelo menos doze aldeias indígenas e muitas também confirmaram presença.
“A gente nunca concordou com a entrada dessa usina, que vem pra destruir nossa mata e nossas vidas. Essa é a nossa terra, herança de nossos antepassados, que temos que preservar”, afirma a Cacique Idati Kunhantaindju, da aldeia Tanygua, onde vivem hoje dez famílias. É uma das oito aldeias que fazem parte da terra Piaçaguera.
“Uma aldeia foi comunicando a outra sobre o projeto. Na nossa terra Piaçaguera ninguém concorda com essa obra e outros índigenas de fora daqui também não querem. De São Vicente a Juquiá, ninguém quer essa transformação”, afirma a anciã, que teme que o projeto, uma vez proíbido em Peruíbe, seja levado para municípios vizinhos.
Kretã Kaigang, coordenador do programa indígena da 350.org Brasil e membro da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), visitou nesta terça-feira algumas das aldeias da região. “Reconhecemos a luta dos povos indígenas de Peruíbe contra o projeto de termelétrica e viemos oferecer nosso apoio, bem como reforçar a campanha global contra os combustíveis fósseis e a geração de energia a partir dessas fontes”, explica Kretã.
Em defesa do litoral paulista
Para Kretã a luta dos povos indígenas de Peruíbe deve servir de exemplo e apoiar a defesa das terras indígenas do litoral de São Paulo.”É fundamental a articulação de todos povos indígenas, somada a outros movimentos sociais, para impedir o projeto da Gastrading, que não vai desistir tão fácil de instalar essa usina na baixada santista”, defende.
As lideranças de Peruíbe se mostraram alertas. “Em todos lugares do litoral de São Paulo há muitas comunidades indígenas. E todos devem estar juntos nessa luta. Aqui, ou em uma aldeia vizinha, uma usina como essa vai destruir a terra do mesmo jeito”, alerta a cacique Idati.
“Quando falamos da poluição causada por uma usina, entendemos que esta luta não é de um só. Existe o discurso de que uma empresa assim trará emprego, mas sabemos que não é assim. É um empreendimento com impactos sérios. Estamos vencendo essa luta e vamos lutar também para defender os vizinhos”, reforça Cacique Renan.