19 setembro, 2023

Às vésperas do recorde de temperatura no Brasil, Assembleia do RS debate emergência climática mas governo do Estado não comparece à audiência

Mesmo após 100 mortes e desaparecimentos provocados por ciclone
no Estado, SEMA e Defesa Civil não justificaram ausência no evento

Casa Civil informou que estaria envolvida com efeitos do evento climático

As vésperas de o Brasil alcançar a provável temperatura média nacional recorde de 45oC e após o Rio Grande do Sul registrar quase 100 mortos e desaparecidos e 24 mil desabrigados e desalojados por um ciclone, o governo do Estado não enviou representantes à audiência pública organizada pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (AL-RS). O evento teve a participação de quase 500 pessoas presencialmente, inúmeras delas representantes de organizações da sociedade, além de centenas de assistentes do canal AL-RS no Youtube.

Realizado nesta segunda-feira (18) no Auditório Dante Barone em Porto Alegre, o evento debateu a urgência de o Governo do Estado adotar um plano de emergência climática. Convocadas, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a Defesa Civil, que na tarde dessa segunda emitiu alerta de chuvas volumosas e inundações nas regiões ribeirinhas do rio Guaíba, não enviaram representantes ao evento.  A Casa Civil do governo estadual informou que não compareceria ao evento por estar envolvida na mitigação dos efeitos do ciclone extratropical que atingiu o RS há poucos dias.

Segundo Renan Andrade, organizador da 350.org e representante da organização na audiência, “vários fatores podem contribuir para que o governo estadual aceite a declaração de emergência climática. Existe uma Ação Civil Pública nesse sentido, um Projeto de Lei do deputado Matheus Gomes (PSOL) e agora também toda essa mobilização. A junção de todos esses fatores pode fazer com que o governo estadual reconheça. Mas, o que virá após essa audiência pode fazer com que o governo aceite a emergência climática que tem castigado o povo do Rio Grande do Sul”.

“A audiência de hoje, com mais de 400 pessoas presenciais e online marcou o começo de um movimento amplo por justiça climática no Rio Grande do Sul. Com certeza, mudanças realmente transformadoras estão chegando, e construídas da base para cima”, avaliou Renata Padilha, coordenadora do Eco Pelo Clima, que participou da mesa do evento.

Entre as propostas apresentadas no evento, e que serão encaminhadas aos órgãos competentes pela Comissão de Saúde e de Meio Ambiente, estão:

  • a apresentação ao governo estadual de pedido de declaração de emergência climática; 
  • realização de seminário sobre o tema; 
  • criação de um fórum de movimentos e membros da sociedade, centralizada na AL-RS para debater e mobilizar para o tema com um cadastro de interessados já elaborado durante a audiência; 
  • oficiar a justiça estadual sobre uma acão penal que já corre sobre o tema da emergência climática; 
  • exigir paridade no Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas; 
  • construir ação parlamentar junto com a comunidade de pesca artesanal; demandar do governo gaúcho a apresentação do inventário de gases estufa no estado; 
  • demandar cooperação do governo estadual com o governo federal para demarcar terras indígenas no RS; 
  • realizar audiência pública sobre a questão da região do Passo dos Negros em Pelotas; e 
  • enviar ao governo estadual pedido de informação sobre as medidas adotadas para evitar o aquecimento de corpos hídricos no Estado.

A menos de três meses da chegada das intensas chuvas de verão, a audiência foi solicitada pelo movimento Eco Pelo Clima, apoiada pela organização climática global 350.org e por centenas de outras entidades e pessoas que assinaram um pedido público com milhares de assinaturas. 

O RS já foi atingido por quatro ciclones extratropicais nos últimos meses. Os eventos causaram  prejuízo econômico, somente na agricultura, teria chegado R$149 milhões e produzido uma estiagem severa que serviu de justificativa para o aumento do uso de agrotóxicos na produção de alimentos.

O Estado vem registrando há anos fenômenos climáticos crescentemente extremos, mas o evento foi apenas o primeiro debate público sobre o tema. O Projeto de Lei 23/2023, que propõe declarar Emergência Climática no RS, de autoria do deputado Matheus Gomes (PSOL), que presidiu a audiência, ainda não foi apreciado pelo plenário da Casa.

A íntegra da audiência está aqui.
As imagens do evento estão aqui | Créditos: Carlos Macedo

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