CRACÓVIA, POLÔNIA – Em uma carta aberta publicada hoje durante a Jornada Mundial da Juventude, mais de 120 grupos de jovens fazem um apelo ao Papa Francisco para que peça às organizações católicas e outras instituições que desinvistam dos combustíveis fósseis e dê continuidade aos seus esforços para que o Vaticano desinvista, cortando os laços financeiros da instituição com a indústria dos combustíveis fósseis. A carta foi publicada na Cracóvia durante uma vigília organizada por jovens ativistas que estão participando da Jornada Mundial da Juventude.
A carta se refere ao desinvestimento “como uma forma de remover o poder político dos interesses particulares nos combustíveis fósseis, que até agora ajudou a impedir que leis climáticas importantes entrem em vigor”. Ao pedir a essas instituições que desinvistam seus fundos das empresas de combustíveis fósseis e os reinvistam em tecnologias renováveis e em uma nova economia, “nós levamos a um diálogo sobre as mudanças climáticas nos termos do sistema global que precisamos com urgência”, a carta acrescenta.
No ano passado, durante a preparação para a visita do Papa Francisco aos EUA, cerca de 90 grupos de estudantes de todos os credos religiosos publicaram uma carta que pedia ao Papa Francisco que apoiasse o desinvestimento dos combustíveis fósseis nos campi universitários, bem como em seu próprio “campus” – o Vaticano. “Agora nós levamos esse apelo global para um dos maiores encontros de jovens no mundo, pois somos a primeira geração a passar a vida inteira em um mundo destruído pela crise climática”, afirmou Karina Alvarez, uma das ativistas da Fossil Free na Loyola Marymount University. “Esta também é uma ótima oportunidade para erguermos nossas vozes em um pedido por justiça ambiental e para lembrar o Vaticano sobre a urgência moral por trás do desinvestimento dos combustíveis fósseis”, acrescentou.
Ativistas pelo desinvestimento na Cracóvia também realizaram um workshop para encorajar os participantes da Jornada Mundial da Juventude a começarem campanhas de desinvestimento em suas organizações católicas e dioceses locais, com o apoio do novo guia de desinvestimento-investimento para comunidades católicas.
O movimento pelo desinvestimento em combustíveis fósseis cresceu mais rápido do que qualquer campanha anterior de desinvestimento, inclusive aquelas contra a indústria do tabaco ou o apartheid na África do Sul, de acordo com um relatório da Universidade de Oxford. No mundo todo, mais de 530 instituições – desde conselhos e governos locais até universidades e instituições religiosas – já desinvestiram, representando mais de US$ 3,4 trilhões em compromissos de desinvestimento. O desinvestimento está ganhando mais energia dentro da Igreja Católica depois que quatro congregações australianas fizeram uma declaração conjunta em junho, e espera-se que novas declarações sejam feitas durante a celebração do Jejum de São Francisco, em outubro.
Contato: Jenny Zapata López, Coordenadora Global de Comunicação da 350.org. [email protected], whatsapp +521 614 4277692
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CITAÇÕES
“A indústria dos combustíveis fósseis faz parte daquela linha invisível que, como o Papa Francisco disse uma vez, une cada uma das muitas formas de exclusão e injustiça. Desinvestir dos combustíveis fósseis e reinvestir em um futuro com energia limpa representa um ato de solidariedade e justiça com as comunidades afetadas pelos piores efeitos das mudanças climáticas e com aqueles que sofrem com a poluição, repressão e desalojamento provocados pelos interesses particulares de uma indústria que busca continuar lucrando às custas do nosso planeta e de nós mesmos.” Pe. Edwin
“Eticamente, nosso conhecimento sobre os impactos da queima de combustíveis fósseis muda tudo. Desinvestir dos combustíveis fósseis é a decisão de se posicionar contra forças destrutivas e ficar ao lado das pessoas mais vulneráveis do mundo. É a escolha pela vida. Desinvestir e reinvestir em energias limpas e renováveis e em uma nova economia são formas de vivenciar os valores tão bem expressos na Laudato Si’. As pessoas que vivem com escassez de energia seriam as mais beneficiadas com sistemas energéticos descentralizados, sustentáveis e não poluentes que se tornam mais viáveis financeiramente a cada dia.” Doutor Neil Ormerod, professor de Teologia da Universidade Católica da Austrália
“O desinvestimento manda uma mensagem clara para o mercado: as empresas precisam reorganizar suas estratégias rumo a um futuro com baixa emissão de carbono, seguro para a humanidade e para todos os tipos de vida do planeta. Ao redirecionar os investimentos de capital para uma energia segura para o clima, os investidores ajudam o mundo a concretizar o Acordo Climático de Paris. [O desinvestimento] pelas ordens católicas, assim como ações similares em andamento, inspirará fundos de pensões, fundos de investimentos soberanos, universidades e outros investidores globais a fazerem o mesmo e, assim, mostrarem sua importância financeira para a segurança do planeta, a dignidade humana e o desenvolvimento humano completo e sustentável.” Professor Jeffrey D. Sachs, Conselheiro Especial do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.