A visita oficial à Argentina dos parlamentares brasileiros começou tensa. Na tarde desta terça-feira (03), uma ameaça de bomba fez com que a polícia esvaziasse as salas do Senado Federal, em Buenos Aires, onde acontecia o encontro sul americano sobre alternativas ao extrativismo. Após revistar os salões, felizmente constatou-se que era falsa a ameaça.
O Senador Fernando Solanas, organizador do evento e apoiador da missão articulada por Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil, e Juliano Bueno de Araujo, coordenador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil – classificou como ‘vergonha internacional’ essa tentativa de intimidação. Além da comitiva brasileira, estavam no encontro senadores do Chile e Uruguai, deputados e vereadores da Argentina e dezenas de especialistas e integrantes do movimento contra o fracking do Mercosul.
Veja registros do momento em que houve a evacuação da sala e a repercussão na imprensa.
Do Brasil, participam da missão oficial os deputados estaduais Rasca Rodrigues (PV), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Paraná, Márcio Nunes (PSC), Schiavinato (PP) e Fernando Scanavaca (PDT). Também fazem parte da comitiva os vereadores Vagner Delábio (PMDB) e Tita Furlan (PV), além de Renato Eidt, representando o Prefeitura de Toledo.
“Não vamos nos intimidar. A luta contra o fracking é pela vida, água limpa e um mundo sem combustíveis fósseis”, garantiu Juliano Bueno de Araujo, da COESUS.
Visita aos locais contaminados pelo fracking
Nesta quinta-feira (5) e sexta-feira (6), deputados e vereadores paranaenses estarão nas províncias de Neuquén e Rio Negro, região da Argentina onde já há exploração e produção de gás de xisto por fracking.
Em Neuquén, além da visita aos poços perfurados, a comitiva se reunirá com agricultores e lideranças indígenas Mapuches, que foram afetadas pelo fraturamento hidráulico na cidade de Añelo. Frutificultores já estão com dificuldades para exportar a produção o que representa severos prejuízos para a economia local e regional.
O Paraná já teve blocos comercializados pelo governo brasileiro em 2013, entre outros 15 estados. Graças a uma ação da COESUS junto ao Ministério Público Federal, a exploração por fracking está suspensa, impedindo que uma região com grande performance agrícola seja contaminada.
Para a diretora da 350.org Brasil, Nicole Figueiredo de Oliveira, além de mostrar aos deputados a realidade do fracking, eles que são responsáveis por constituir uma legislação que impeça o fraturamento hidráulico no Paraná, “o objetivo da missão é construir uma aliança latino-americana contra o fracking e fortalecer o movimento climático em nosso continente”.
Tecnologia altamente poluente para a exploração de petróleo e gás de xisto no subsolo, fracking contamina aquíferos, torna o solo infértil, polui o ar e causa câncer nas pessoas que vivem no entorno dos poços.
Uma das grandes preocupações é a intenção do governo argentino em expandir a indústria do fracking, que com certeza contaminará o aquífero Guarani, principal reserva comum de água que abastece tanto a Argentina como o Brasil.
Frutificultores argentinos já não conseguem exportar
“Os importadores querem frutas livres de fracking”, denunciou uma produtora de frutas orgânicas nas redes sociais, conforme noticiou o site RioNegro.com.
A Associação de Produtores de Allen também usou as redes sociais para responder: “Para as autoridades que disseram que o petróleo e fruticultura poderiam conviver (governador, secretário de Frutas, prefeito e a indústria do hidrocarboneto), perguntamos: Esta é a maneira de viver? Já estávamos anunciando que este momento chegaria, quando não se pode vender a fruta para ser esta uma área de exploração de petróleo, equivalente à poluição!”.
Segundo a reportagem, o presidente da Câmara de Allen se mostrou extremamente preocupado com o relato da produtora, mas disse que tentou se comunicar com ela e sua família e não responder a chamadas telefônicas. “Precisamos saber qual cliente não quer comprar frutas e definir como vamos avançar com esta questão. Hoje há rejeição à empresa que produz frutas orgânicas, mas ninguém está livre de ter o mercado fechado”.