A apenas duas semanas para a Copa do Mundo no Brasil, a pior seca em décadas no país reduz drasticamente os recursos hidrelétricos, enquanto cientistas do clima chamam atenção para o problema que está atingindo também a agricultura
Imagine a cena no estádio lotado: a dança mágica das chuteiras, o atacante voa baixo e cruza a bola perfeitamente em direção à pequena área, na cabeça do atacante. Ele se levanta e arremessa a bola em direção ao gol – e as luzes se apagam.
Embora as chuvas recentes tenham trazido algum alívio, muitas partes do Brasil sofrem com a pior seca dos últimos anos, acompanhada de temperaturas acima do comum. Em muitas áreas, reservatórios de água que abastecem hidrelétricas – responsáveis pela produção de 70% da energia do país – alcançam recordes negativos.
O estado de São Paulo, localizado na região sudeste, onde acontecerá o jogo de abertura da Copa do Mundo no dia 12 de junho, abriga mais de 43 milhões de pessoas e é o estado com maior poder econômico. Mas tem vivido a pior seca desde os anos 1930.
Para manter as luzes acesas, o governo da presidente Dilma Rousseff tem tentado desesperadamente compensar a redução da capacidade das usinas hidrelétricas recorrendo às usinas termelétricas. Mas o medo de que blackouts acontecerão durante a Copa ainda persiste.
Se isso acontecer, é possível que aumente ainda mais a revolta sentida por muitos brasileiros sobre os bilhões de dólares que estão sendo gastos na estrutura para a Copa do Mundo – e também para as Olimpíadas em 2016.
Diante do descontentamento público, o governo está sendo obrigado a gastar o equivalente a mais de US$ 5 bilhões para substituir a falta de energia vinda das hidrelétricas com recursos caros como óleo, carvão e gás natural.
Analistas dizem que os consumidores terão de pagar mais pela energia utilizada, embora o aumento dos preços será provavelmente adiado até as eleições de outubro. O governo também descartou a idéia de racionamento de energia – pelo menos até o momento.
Enquanto o governo se preocupa com as reservas de energia, o setor de agricultura – que corresponde a aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto do país – está sofrendo substancialmente com os danos causados pela longa seca.
Hilton Silveira Pinto, pesquisador de clima aplicado à agricultura na Universidade de Campinas informou ao serviço de notícias Bloomberg. “Este é o gostinho do que está por vir no futuro”.
Terras abandonadas
Um estudo de co-autoria de Silveira aponta que, com o aumento das temperaturas, um grande número de agricultores podem ser forçados a abandonar suas terras e migrar para áreas com temperaturas mais amenas.
Produtores de café nos estados de São Paulo e Minas Gerais, localizados na região sudeste, têm perdido suas plantações por causa do aumento da temperatura e da seca recorde.
No estado da Bahia e em outras áreas na região nordeste do Brasil, fazendeiros perderam plantações de grãos e uma grande quantidade de gado por causa da seca.
Em seu estudo, Silveira projeta que a produção de soja do país pode diminuir em até 24% nos próximos seis anos, com a produção de trigo caindo ainda mais. Essa notícia não é ruim apenas para o Brasil e para seus milhões de agricultores.
Nas últimas décadas, o Brasil tem se destacado entre os líderes do mercado de agricultura no mundo e é hoje o maior exportador de soja, carne, açúcar, suco de laranja e claro, café.
O preço desses alimentos deve subir internacionalmente, o que mostra que a mudança climática e a seca vividas pelo Brasil não terão impacto apenas na Cop do Mundo.
Fonte: Climate News Network