O ano de 2018 iniciou com notícia do assassinato cruel do professor indígena Marcondes Nambla Xokleng, em Penha/SC. O crime ocorreu na madrugada do dia 1º de janeiro de 2018 e o assassino, identificado por câmeras de segurança, foi preso na última sexta-feira (12). O rapaz de 23 anos, que agrediu Marcondes com pauladas até a morte, alegou motivo fútil para o crime – versão questionada por lideranças e organizações indígenas que vêem o ato como parte de um movimento crescente de violência contra os indígenas no Brasil, em especial na região sul.
O coordenador do programa indígena da 350.org Brasil, Kretã Kaingang, participou do ritual em homenagem a Marcondes, no local onde ocorreu o crime. “É muito difícil falar sobre a morte de nosso parente Xokleng”, declarou. Durante o ato, representantes de diversas aldeias pediram justiça, defesa de direitos e o fim do racismo contra os povos originários.
Para Kretã Kaingang o caso faz parte de uma onda de violência contra indígenas. “Não é de hoje que ocorrem ataques contra nossos parentes. Tivemos em 2016, o ataque ao Victor, de apenas dois anos de idade, degolado nos braços de sua mãe em Imbituva. Lembramos também da mãe da cacique Kerexu, que teve a mão amputada, na aldeia Morro dos Cavalos, perto de Florianópolis – local que vem sofrendo ataques frequentes. No caso do Victor, foi alegado que o assassino tinha problema mental. Em todos os casos, o que vemos são justificativas para classificar os crimes como fúteis”, afirma.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Sul – também destaca a violência xenófoba. “O Cimi Sul vem alertando, ao longo dos últimos anos, sobre a onda de intolerância contra indígenas no litoral de Santa Catarina, especialmente manifestada por autoridades municipais que não aceitam o fato de os indígenas frequentarem as praias. E quando prefeitos, vereadores, secretários municipais e alguns meios de comunicação passam a veicular informação ou a proferir discursos contra os indígenas, uma boa parcela da população se sente legitimada a agir contra os indígenas, tentando repeli-los da região”, defende a organização.
O professor Marcondes era da Terra Indígena Laklãnõ, do município de José Boiteux, no Vale do Itajaí. Era professor formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e como liderança em sua comunidade, dedicava-se à manutenção de sua língua materna Laklãnõ-Xokleng. Neste verão trabalhava como vendedor de picolés para obter renda extra.
Investigação deve ser aprofundada
Em entrevista aos Jornalistas Livres, o procurador-chefe do Ministério Público Federal em Santa Catarina, Darlan Airton Dias, afirmou que não se pode confirmar o caráter racista do assassinato mas a hipótese deve ser considerada, tendo em vista a sequência de outros crimes também marcados pela brutalidade ocorridos recentemente no Estado.
“Foi um ato brutal e revoltante para qualquer ser humano mas remete a questões que preocupam povos indígenas como racismo, disputas que existem envolvendo questões indígenas. No episódio em questão o Ministério Público Federal se compromete a zelar para que as investigações sejam aprofundadas e os reais motivos venham à tona”, afirma o procurador.