Quando líderes mundiais se encontrarem em Nova York no próximo mês de setembro para confrontar as mudanças climáticas, dezenas de milhares de pessoas (e talvez você também) estarão lá para exigir que eles tomem uma atitude antes que seja tarde demais

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Este é um convite, um convite para vir a Nova York. Um convite a qualquer pessoa que queira provar a si mesma, e aos seus filhos, que se importa com a maior crise que a nossa civilização já enfrentou.

Bill McKibben sobre a assustadora nova matemática do aquecimento global

Meu palpite é que as pessoas virão às dezenas de milhares, e que esta será a maior demonstração da determinação humana frente às mudanças climáticas já vista até agora. Claro, alguns momentos serão emocionantes – quem não gostaria de ter a chance de marchar, cantar e levar cartazes inteligentes pelos cânions de Manhattan? Mas este é um assunto muito sério, um momento marcante na luta conjunta dos seres humanos para tomar uma atitude frente o aquecimento global antes que seja tarde demais para fazer algo além de simplesmente assistir. Você vai poder contar aos seus netos, supondo que venceremos. Então, marque os dias 20 e 21 de setembro no seu calendário, e agora eu vou te explicar.

Desde que Ban Ki-moon comanda as Nações Unidas, ele está muito consciente de que não estamos fazendo progressos enquanto planeta na tarefa de reduzir as mudanças climáticas. Ele presidiu o colapso das negociações sobre a mudança climática em Copenhagen, em 2009, e ele sabe que as perspectivas não são muito melhores para a “próxima Copenhagen”, em Paris, em dezembro de 2015. Para encorajar estas negociações, ele convidou os líderes mundiais para virem à Nova York no final de setembro, para participar de uma conferência climática.

Mas os “líderes mundiais” não têm sido líderes no que diz respeito à mudança climática – ao menos não o suficiente. Como muitos de nós, eles atenderam às coisas fáceis, mas eles não colocaram o mundo em uma rota fundamentalmente nova. Barack Obama é um exemplo perfeito: claro, ele impôs novos padrões de quilometragem para os carros, mas ele também abriu vastas áreas de território para a exploração do petróleo e a mineração do carvão, o que vai tornar os Estados Unidos os maiores produtores de petróleo no mundo, depois da Arábia Saudita e da Rússia.

Como outros líderes mundiais, ele tentou – mas nem perto do quanto seria necessário. Considere o que ele disse à New Yorker em uma entrevista neste ano: “No final das contas, nós somos parte de uma longa história. Nós só tentamos escrever o nosso parágrafo de maneira correta”. E “eu acredito que temos sorte, já que não estamos enfrentando uma crise com a magnitude e abrangência das que Lincoln ou Roosevelt enfrentaram”.

Obama e a mudança climática: a história real

No entanto, nós estamos sim; estamos enfrentando uma crise tão grande quanto a que qualquer presidente tenha já enfrentado. Aqui está como o seu parágrafo se parece até agora: desde que ele entrou no poder, o gelo marítimo de verão no Ártico quase desapareceu, e, em maio, cientistas deixaram claro que no Pólo Sul o processo de derretimento massivo já está totalmente em curso, com um aumento de pouco mais de 3 metros (10 pés) no nível dos mares previsto para um futuro próximo. Cientistas descobriram a profundidade das mudanças na química dos oceanos: que a água do mar está 30% mais ácida do que somente 4 décadas atrás, e que isso já está causando problemas para criaturas na base da cadeia alimentar marinha. Em 2012, os Estados Unidos enfrentaram o ano mais quente da sua história, com secas tão profundas que a colheita de milho foi prejudicada em larga escala. No momento, um dos maiores estados na união de Obama, a Califórnia, foi atingido pela mais profunda seca de todos os tempos, desde que os europeus chegaram. A poucos quarteirões ao sul dos edifícios da ONU, o furacão Sandy transformou o Lower East Side de Nova York em um braço do East River. E isto é só o que acontece nos Estados Unidos. Os cientistas mundiais lançaram mais cedo neste outono um relatório com 32 volumes, explicando exatamente quanto a situação vai piorar, o que significa, para resumir, que o panorama pode ficar ainda muito pior do que tudo o que eles já haviam imaginado antes. Não é que os cientistas sejam alarmistas – é que a ciência é alarmante. Aqui um resumo de um cientista de Princeton sobre a situação para os repórteres: “Somos todos presas fáceis”.

O gap entre “somos todos presas fáceis” e “nós não estamos enfrentando uma crise” é o gap entre a ação indiferente e o esforço máximo, que pode fazer a diferença. É o gap entre trocar as lâmpadas e mudar o sistema que está alimentando a nossa destruição.

Em um mundo racional, ninguém precisaria marchar. Em um mundo racional, os governantes teriam dado atenção aos cientistas quando eles soaram o alarme pela primeira vez, há 25 anos. Mas neste mundo, a razão, mesmo tendo ganho a discussão, até agora perdeu a luta. A indústria dos combustíveis fósseis, por ser talvez o empreendimento mais rico da história humana, foi capaz de adiar uma ação efetiva, quase até o ponto em que seja tarde demais.

Então, neste caso, tomar as ruas é muito necessário. Não é tudo o que é preciso – uma crescente resistência aos combustíveis fósseis trabalha em centenas de frentes ao redor do mundo, desde colocar painéis solares até pressionar universidades a desinvestir suas reservas de petróleo para lançar candidatos realmente comprometidos com a causa verde.  E é verdade que marchar nem sempre funciona: no início da guerra do Iraque, milhões marcharam, sem sucesso imediato. Mas há momentos em que isso foi essencial. Foi assim que a guerra do Vietnã acabou, e a segregação também – ou considere a campanha de congelamento nuclear do início dos anos 80, quando meio milhão de pessoas se encontrou no Central Park, em Nova York. O comício, e toda a campanha que levou a ele, definiu o humor do planeta – mesmo, surpreendentemente, na era Reagan. Em meados daquela década, o ícone conservador propôs a Mikhail Gorbachev que as armas nucleares fossem abolidas por completo.

O ponto é que, às vezes, você pode pegar o zeitgeist pela nuca e sacudi-lo um pouco. No momento, há uma imensa sensação no mundo de que nada vai acontecer. Isto está à beira de se tornar uma profecia autorrealizável – na verdade, como eu escrevi nestas páginas, está muito claro que a indústria dos combustíveis fósseis tem cinco vezes mais carbono nas suas reservas do que seria necessário para destruir o planeta. Na atual trajetória, a indústria vai queimá-la e os governos vão somente choramingar, pedindo a mudança na velocidade em que isso acontece. Um movimento barulhento – um movimento que dê aos nossos “líderes” a permissão para realmente liderar, e que depois os assuste para fazê-lo – é a única esperança de derrubar esta profecia.

Um movimento barulhento é, por necessidade, um grande movimento – e esta resistência aos combustíveis fósseis baseia-se em cada canto da nossa sociedade. Ela encontra uma poderosa liderança na comunidade pela justiça ambiental, nas pessoas pobres, frequentemente em comunidades de cor, que sofreram mais diretamente sob o reinado dos combustíveis fósseis. Neste país, eles são os sobreviventes do Sandy e do Katrina, e do vazamento da BP; eles são as pessoas cujos filhos saem do jardim de infância segurando inaladores para asma, porque vivem próximos a refinarias de petróleo, e as pessoas cujas reservas se tornam colônias de recursos. No exterior, eles são as pessoas cujos países estão simplesmente desaparecendo.

Algumas vezes no passado, sindicalistas lutaram contra os ambientalistas – mas os sindicatos das áreas da saúde, transporte público, educação superior, trabalho doméstico e serviços de construção estão todos começando a se organizar para setembro, completamente cientes de que não há trabalho em um planeta morto. Os sindicatos do setor energético veem potenciais empregos na instalação massiva de painéis solares e na “transição justa” dos combustíveis fósseis. Aqui está um banner que eu sei que você verá nas ruas de Nova York: CLIMA/EMPREGOS. DUAS CRISES, UMA SOLUÇÃO.

Vão estar clérigos e leigos de sinagogas, igrejas e mesquitas, agora aumentando em números recorde, para dizer “se a Bíblia não diz nada, significa que nós precisamos cuidar do mundo que Deus nos deu”. E vão estar, é claro, cientistas dizendo “o que exatamente vocês não entendem sobre o que nós temos dito a vocês há um quarto de século?”

E estudantes vão chegar de todas as partes do país, porque quem sabe melhor sobre como lidar com longas viagens em ônibus e dormir no chão – e quem sabe melhor que os seus próprios futuros estão em jogo? Eles estão próximos à linha de frente dessa batalha agora mesmo, sendo presos em Harvard e na Universidade de Washington quando lutam pelo desinvestimento dos combustíveis fósseis, e balançando a estrutura o suficiente para Stanford, com seus US$ 18,7 bilhões em doações, ter concordado em se livrar das suas reservas de carvão. Não se preocupe com as “crianças de hoje”. As crianças de hoje sabem como se organizar ao menos tão bem quanto as crianças dos anos 60.

E, então, vão estar aqueles de nós da velha classe média americana, que ainda podem se beneficiar das nossas vidas de combustíveis fósseis baratos, mas que não podem suportar assistir ao mundo vagar no caos. Nós olhamos ao redor e vemos que o preço dos painéis solares caiu 90% nas últimas décadas; nós podemos entender que não será fácil mudar a nossa economia, deixando o carvão, o gás e o petróleo, mas nós sabemos que será mais fácil do que lidar com temperaturas que humano algum jamais viu. Nós podemos ter propostas de soluções diferentes – taxas para o carbono! Energia das marés! – mas nós sabemos que nenhuma delas vai acontecer, a menos que nós façamos espaço. Este é o nosso trabalho: abrir espaço para a mudança na escala em que a física exige. Sem mais belas palavras, sem mais websites bacanas. Ações duras. Agora.

Você pode assistir ao jogo final da era dos combustíveis fósseis com alguma dose de esperança. As peças estão em seus lugares para uma mudança real, rápida e repentina, não somente para mudanças lentas e ruidosas: se a Alemanha em um dia ensolarado pode gerar metade da sua energia com painéis solares, e o Texas gera um terço da sua energia elétrica a partir do vento, então você sabe que a tecnologia não é mais um obstáculo impossível de ser superado. As peças estão em seus lugares, mas elas não vão se mover sozinhas. É aí que os movimentos entram em cena. Eles não são sutis; eles não podem gerenciar todos os detalhes desta transição. Mas eles podem criar pressão no sistema, suficiente, se tivermos sorte, para soprar para longe os sacos de dinheiro que estão bloqueando o progresso, com a mesma força com que o tufão Haiyan atingiu as cabanas dos filipinos. Porque se a nossa resistência falhar, haverá tufões sempre mais fortes. O momento para salvar alguma coisa do Holoceno está passando rápido. Mas ainda não passou, e é por isso que setembro é tão importante.

A resistência diária está corretamente dispersa, localizada e focada no mais mundano: a instalar um novo código de zoneamento, a colocar fazendas solares, a convencer o conselho da igreja a vender suas ações da BP. Mas às vezes é necessário agir em conjunto e mostrar ao mundo quão grande ela se tornou. Este próximo grande momento é no final de setembro, em Nova York. Vejo você lá.