Alguns dos principais veículos globais de imprensa vazaram, nesta sexta-feira (8/11), uma carta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) pedindo a seus membros que rejeitem qualquer possibilidade de acordo na COP28 que mencione o fim dos combustíveis fósseis (phaseout). O foco, segundo a carta atribuída à OPEP, deveria estar em discutir as emissões. Essa possibilidade permitiria uma série de manobras para adiar a eliminação de petróleo, gás e carvão e garantir a continuidade dos lucros exorbitantes das empresas do setor.
A carta confirma posições prévias da organização e reforça a contradição que seria o Brasil unir-se à OPEP+, grupo de países aliados da OPEP. Na semana passada, o presidente Lula anunciou, em plena COP28, em Dubai, que o Brasil planeja fazer parte da OPEP+. Ao mesmo tempo, o presidente também afirmou que o Brasil está trabalhando para ajudar a resolver a crise climática e que a COP30, marcada para Belém, em 2025, será um divisor de águas na história das negociações climáticas.
A 350.org América Latina reagiu à notícia da carta da OPEP.
Peri Dias, representante da 350.org América Latina na COP28, disse:
“O mundo está notando os malabarismos do Brasil para conciliar a imagem de campeão climático no exterior com a expansão do petróleo e gás no plano doméstico. O anúncio do flerte brasileiro com a OPEP+ e, agora, a carta mostrando a rejeição da OPEP a uma solução climática efetiva na COP28 evidenciam ainda mais essa contradição”.
“O jogo duplo está queimando o capital moral que o governo Lula construiu no seu primeiro ano, graças às boas medidas para combater o desmatamento na Amazônia e reconstruir aos poucos os órgãos ambientais, depois de quatro anos de destruição com o governo Bolsonaro. Isso está minando nossas chances de liderar o mundo na área em que temos maior potencial de projeção global, a ambiental”.
“Será muito mais produtivo se o Brasil abandonar a distração que tem sido essa ideia de unir-se à OPEP+ e se concentrar em exercer um papel mais assertivo nas negociações por uma menção ao fim dos combustíveis fosseis já na conferência de Dubai. A COP30 é uma grande oportunidade para o Brasil brilhar, mas se não usarmos todo nosso peso por um bom resultado agora, ficará mais difícil obter avanços históricos nas COP de Belém”.
Cansin Leylim, diretora de campanhas globais da 350.org
“A resistência desesperada da OPEP à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis revela o seu receio de uma mudança de maré, evidente nas discussões da COP28. À medida que 106 nações se mobilizam para um rápido declínio dos combustíveis fósseis, o texto preliminar do Balanço Global oferece esperança, com várias opções para uma eliminação dos combustíveis fósseis”.
“A OPEP precisa aderir a um programa real de transição energética justa e rápida, com vistas a um planeta 100% alimentado por energias renováveis, ou sair do caminho. A COP28 deveria ser a mais inclusiva das negociações sobre o clima, mas os lobistas dos combustíveis fósseis encontraram abrigo e estão a tentar bloquear o avanço”.
“Os holofotes estão agora voltados para a Presidência da COP28 e se eles irão mediar um acordo para uma transição justa ou, em vez disso, se alinharão com a indústria petrolífera”.