Desde que a biotecnologia foi adotada pelo agronegócio – há 20 anos no mundo e 17 anos no Brasil -, a busca pela maior produtividade para as variedades transgênicas sempre foi a meta das empresas do setor, que encontraram no Brasil um campo fértil para essa tecnologia.

 O país se tornou ao longo do tempo o segundo maior produtor em commodities geneticamente modificadas ao semear 40,3 milhões de hectares (atrás dos Estados Unidos, com 70 milhões de hectares) em 2012, conforme dados mais recentes. No caso da soja, 92% da área cultivada são transgênicos; no milho, 90%, e no algodão, 47%, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA). No mundo, a tecnologia é empregada por 27 países.

Porém, uma outra versão dessas sementes marca a nova fase dessa tecnologia com a promessa de maiores benefícios. Nas lavouras, elas virão sob a forma de “variedades piramidadas”, nas quais estarão inclusas novas características genéticas. Na avaliação do setor, trata-se da atual demanda do campo para lidar com desafios impostos à agricultura. “As mudanças no clima são uma delas, que impõem a necessidade de sementes resistentes ao calor e ao estresse hídrico”, diz Maurício Lopes, presidente da Embrapa.

 Conforme cálculos feitos pela empresa, com base na produtividade média da soja, esse grão acumulou mais de US$ 8,4 bilhões em perdas relacionadas às alterações do clima entre 2003 e 2013. A produção de milho atingiu prejuízos avaliados em US$ 5,2 bilhões no mesmo período. Para lidar com esse novo fenômeno no campo, a Embrapa mantém uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e instituições de outros países, para obter variedades tolerantes à falta de água e temperaturas elevadas.

São os genomas das plantas do Semiárido e do Cerrado que poderão ajudar pesquisadores a encontrar uma maneira de tornar a soja, o milho e outros grãos resistentes aos extremos climáticos. Esses dois biomas são considerados o armazém do mundo de genes tolerantes ao aquecimento global.

 Na avaliação de Geraldo Berger, diretor de regulamentação da Monsanto no Brasil, as “sementes piramidadas” formam a segunda geração da biotecnologia, definida por estudiosos como a maior transformação pela qual passou a agricultura depois da Revolução Verde, nos anos 1950, responsável pelo atual modelo agrícola ao unir produção intensa de alimentos com o uso de máquinas, insumos e sementes selecionadas.

 Disponível a partir desta safra, a 2013/2014, a soja Intacta RR2 PRO, da múlti americana, é por enquanto a única variedade disponível no mercado com a característica “piramidada”. A nova semente combina a segunda geração da tecnologia Roundup Ready (RR2) – uma versão mais produtiva da semente tolerante ao herbicida glifosato – e a tecnologia Bt, que oferece resistência a alguns tipos de lagarta, um problema típico das lavouras brasileiras.

 Conforme Adriana Bondrani, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), mesmo que as empresas concentrem seus investimentos em commodities – soja, milho e algodão – existem linhas de pesquisas com sementes transgênicas relacionadas aos ganhos nutricionais nos alimentos. Ela se refere ao arroz dourado, criado por pesquisadores filipinos do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz (IRRI, na sigla em inglês) que contém altos níveis de vitamina A e ao alface, enriquecido com ácido fólico desenvolvido pela Embrapa, em fase de testes no campo. “É a contribuição da tecnologia no campo e na saúde”, diz

Para Elíbio Rech, pesquisador da unidade de recursos genéticos e biotecnologia da Embrapa, que coordena estudos com plantas transgênicas para a produção de fármacos, entre outros, a sofisticação proporcionada pela biotecnologia será poder trabalhar as plantas como um grande circuito, com todas as peças conhecidas. Por meio delas, ao invés de substituir genes ou blocos de genes de um grão, os cientistas terão a capacidade de criar um cromossomo novo a fim de garantir mais agilidade e resultados nos trabalhos. “É a fronteira do conhecimento”, diz. Se por um lado as pesquisas avançam na nova geração dos transgênicos, por outro, a tecnologia vigente no campo ainda é cercada de polêmicas. Para Gabriel Fernandes, diretor técnico da Associação de Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), “certas vantagens prometidas não se concretizaram”, diz. Segundo ele, uma delas foi a resistência de plantas daninhas ao glifosato, registrada nas regiões Sul e Centro-Oeste do país. “O erro recai sobre o produtor que não adotou a rotação de culturas ou fez mau uso do produto químico”, diz. Na sua avaliação, a consequência mais grave provocada por essa tecnologia é a redução na oferta de sementes convencionais. “Os transgênicos não são unanimidade no mundo.”
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