O 6º Encontro Nacional de Estudantes Indígenas (ENEI). Aconteceu, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Criado através da organização de universitários indígenas, o evento pretende trazer discussões conscientizadoras sobre o atual momento das comunidades originárias no Brasil.
A 350.org Indígena esteve presente no evento representada pelo coordenador da Campanha Indígena, cacique, Kretã Kaingang. Kretã alertou a respeito da exploração de petróleo, gás e o método de exploração conhecido como fraturamento hidráulico, ou fracking. E como isso afeta os territórios indígenas próximos às áreas de exploração.
“Quando vi, com meus próprios olhos, a situação dos Mapuche pela exploração do gás natural através do fracking. Me assustou demais tudo aquilo. Ver nossos parentes perdendo suas terras para esses grandes empreendimentos, além de muitos estarem sofrendo por graves doenças. Entendi o real perigo que envolve este tipo de exploração”, afirma Kretã.
Em sua fala, Kretã apontou para uma nova batalha que assola os territórios indígenas, “hoje, além de nossos conhecidos inimigos. Temos um inimigo invisível. Aquele afeta toda nossa cadeia produtiva e destrói nossa ancestralidade. O que veio da terra, hoje, é destruída pela própria. E o seu nome é: mudanças climáticas.
O ENEI abre espaço para que várias atividades educativas, culturais e de ação política social sejam realizadas. Todas no intuito de dar luz a suas demandas e achar uma forma para solucionar problemas. Mas sempre partindo do conhecimento recebido na instituição de ensino e como ele irá ser aplicado em suas aldeias.
Durante quatro dias teve discussões de temas pesados como alto índice de suicídios entre indígenas, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a taxa de suicídio entre povos originários é três vezes maior que para negros e brancos. Números preocupante que revelam como a depressão tem ganhado espaço na vida indígena. Até oficinas voltadas ao uso das ferramentas de comunicação a fim de criar produtos de indígenas para indígenas.
Com o tema “Territorialidade, Lutas e Resistência dos Povos Indígenas: Do Tekoha à Universidade”. O 6º ENEI almeja aliar conhecimentos adquiridos do Tekoha – palavra Guarani Kaiowá para representar a relação profunda que seu povo à terra – ao conhecimento adquirido nas instituições de ensino, nas quais muitos indígenas passaram a frequentar com passar dos anos.
“Os direitos dos povos indígenas nunca esteve tão ameaçado quanto hoje. É na resistência que nós encontramos força para estarmos aqui. Então precisamos da força de todos. Dos guerreiros, dos mais velhos, das lideranças e, principalmente, da juventude, porque eles serão o futuro do movimento. Eles que levaram nosso conhecimento a frente”, relata Lindomar Terena, liderança indígena.
O estado do Mato Grosso no Sul se destaca pela diversidade de seus povos indígenas. Segundo IBGE, o sul mato-grossense tem a segunda maior população indígena do país. Mas tal diversidade esbarra no pouco avanço na regularização de terras, que representam apenas 2% de todo território sul mato grossense. Além das altas taxas de violência contra os indígenas, no relatório divulgado ano passado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), coloca Mato Grosso do Sul como 3º estado que mais assassinou indígenas.
Devido a atual conjuntura política, segundo dados do CIMI, existem 50 parlamentares considerados anti indígenas. 33 deles ligados, diretamente, a demarcação de terras – pauta principal do movimento indígena. Os últimos resultados das eleições à Casa Legislativa também representa ameaça aos avanços conquistados. Mais do que nunca o momento de união se mostra presente dentre os povos originários.