Os direitos à livre manifestação, à saúde e a um meio ambiente saudável são inegociáveis e devem ser inteiramente respeitados em qualquer parte do mundo. Com base nesses princípios, a 350.org vem a público manifestar seu apoio aos manifestantes pacíficos que estão tomando as ruas de diversas cidades da Colômbia para pedir mudanças nas políticas sociais, sanitárias e econômicas e, sobretudo, para exigir que a violência policial contra cidadãos desarmados cesse imediatamente.

“É inaceitável que o governo colombiano permita ações repressivas e extremamente violentas da Polícia contra uma vasta maioria de cidadãs e cidadãos desarmados e pacíficos, que estão apenas exercendo seu direito de exigir mudanças que acreditam ser essenciais ao país”, diz Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

Jovens manifestantes vão às ruas para exigir do governo colombiano políticas sociais e econômicas mais inclusivas. Crédito: Nathalia Angarita / Reuters – @nathalianph

De acordo com a agência de notícias AFP, que se baseia em relatórios da ONG colombiana Temblores, as ações policiais estão deixando um saldo assustador. Apenas nos três primeiros dias dos protestos, foram registrados 1181 casos de violência policial, 92 vítimas de abuso da força, 26 mortes, quatro vítimas de agressões sexuais, 672 detenções arbitrárias e 12 agressões aos olhos de manifestantes. 

Veículos de imprensa colombianos que cobrem amplamente assuntos relacionados a meio ambiente e direitos humanos, como La Silla Vacía, Cero Setenta e Pacifista, também estão registrando a atuação irresponsável da Polícia em diversos locais, bem como a resposta massiva e pacífica de milhares de colombianos a esses abusos.

Manifestante e policial discutem durante um protesto: 350.org e muitas outras organizações pedem que a polícia cesse imediatamente os abusos na repressão aos protestos. Crédito: Crédito: Nathalia Angarita / Reuters – @nathalianph

“Os movimentos sociais e os jovens da Colômbia estão dando um exemplo de coragem e engajamento, ao levarem para as ruas do país suas demandas por políticas sociais, sanitárias e econômicas mais justas e eficientes. A resposta policial, porém, foi assustadora e reprovável. As pessoas que morreram e as que foram agredidas ou ameaçadas merecem uma investigação correta sobre esses abusos de autoridade e a garantia de que terão segurança e liberdade daqui em diante”, aponta Zugman.

Oportunidade de ações por uma Recuperação Justa

Também cabe destacar que, embora a proposta do governo para uma reforma fiscal tenha sido o estopim dos protestos, as manifestações já englobam outras demandas, que têm em comum o desejo por políticas públicas urgentes que coloquem as comunidades mais necessitadas no centro das atenções. 

Grupos de jovens pelo clima, associações indígenas e diversas ONGs demonstram preocupação com a reforma do sistema público de saúde defendida pelo governo, que pode prejudicar a assistência médica em zonas rurais e áreas pobres do país,  e com a insuficiência de medidas para combater a pandemia e apoiar as famílias mais vulneráveis.

Duas questões bastante ligadas à missão da 350.org também aparecem na pauta de boa parte dos manifestantes: a necessidade de garantia da segurança e da dignidade para os defensores do clima e a execução de políticas ambientais que levem a Colômbia a uma transição energética justa e abrangente.

A onde de protestos, que começou por divergências com a política fiscal, expandiu-se e passou a incluir demandas como a proteção aos líderes comunitários ameaçados e a melhoria dos serviços de saúde para as comunidades rurais. Crédito: Nathalia Angarita / Reuters – @nathalianph

A Colômbia carrega o título vergonhoso de país campeão mundial em assassinatos de líderes sociais e ambientais. Uma parcela muito significativa da sociedade civil colombiana exige que o Estado atue muito mais ativamente para proteger essas pessoas e fazer justiça para os que já foram mortos. 

Destacam-se, nesse sentido, os casos dos “falso positivos“, jovens executados por forças militares sob o argumento de que eram guerrilheiros, mas que não faziam parte de grupos paramilitares, e das lideranças indígenas que acabam mortas por defenderem seus territórios da invasão e da destruição ambiental.

Fracking acentuaria os problemas socioambientais da Colômbia

Quanto ao aspecto ambiental, chama atenção a insistência do governo federal em expandir a extração de petróleo, gás e carvão e, em especial, de impulsionar o uso do fraturamento hidráulico (fracking) para produção de gás, em um momento em que o mundo precisa desesperadamente deixar os combustíveis fósseis debaixo da terra. 

Míopes do ponto de vista econômico, uma vez que os combustíveis fósseis estão claramente com os dias contados no mercado global, esses investimentos podem impulsionar atividades contaminantes do solo, da água e dos alimentos. A indústria dos combustíveis fósseis ainda por cima concentra renda e em nada contribui para que o país se prepare para os desafios econômicos globais das próximas décadas. 

Outro ponto de preocupação é a repressão aos manifestantes antifracking na região do Médio Rio Magdalena, onde o governo está tentando desenvolver um projeto-piloto de fracking. Como a equipe 350.org expressou nesta carta enviada ao presidente colombiano Iván Duque e em eventos sobre o assunto, os ativistas dessa região estão sendo ameaçados e intimidados por causa de sua defesa de um território livre dos graves danos causados pelo fracking. Cabe ao governo colombiano assegurar a proteção dos direitos constitucionais à livre expressão, dignidade e vida, que não estão sendo respeitados neste caso.

“Desenvolvimento se faz incluindo as pessoas na tomada de decisões e apoiando melhorias na qualidade de vida das comunidades. O caso do fracking na Colômbia vai na direção oposta em ambos os aspectos. O país tem a oportunidade de rever suas políticas públicas nessa área e investir em uma Recuperação Justa imediatamente, como estão pedindo muitos dos manifestantes”, aponta Ilan Zugman.