Ao lançar a pergunta: o gás de xisto é um dos principais fatores do recente aumento do metano atmosférico global?, o biólogo Robert W. Howarth, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Cornell, EUA, analisa que sim.
Baseado em levantamento que teve início em 2007, o pesquisador avalia que a produção de gás de xisto na América do Norte, na última década, pode ter contribuído (talvez em combinação com as do óleo de xisto) com mais da metade do total do aumento das emissões de combustíveis fósseis. O artigo foi divulgado na publicação Biogeosciences, da União Europeia de Geociências, neste mês de agosto.
A extração do gás de xisto (popularmente chamado de gás da morte), se dá pela técnica de fraturação hidráulica, chamada de fracking, em grandes profundidades em rochas, e emite metano; um dos principais Gases de Efeito Estufa (GEEs) que contribui para as Mudanças Climáticas e o Aquecimento Global.
O pesquisador explica que o metano leva também ao aumento dos níveis de ozônio no nível do solo. Estes danos comprometem significativamente a saúde pública, a agricultura e o clima. O cálculo desse prejuízo, de acordo com o biólogo, é o seguinte: com base no custo social das emissões de metano de US $ 2700 a US $ 6000 por tonelada, a estimativa inicial para o aumento de emissões de gás de xisto de 9,4 Tg por ano corresponde a gastos na ordem de US $ 25 bilhões a US$ 55 bilhões por ano para cada um dos últimos anos.
Segundo Howarth, diante desta constatação, a recomendação é que haja o afastamento o mais rápido possível das fontes de gás de xisto e gás natural, já que os próprios cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU) reconhecem que o sistema climático responde mais rapidamente à redução do metano. Isso contribui para acelerar a diminuição do comprometimento do Aquecimento Global. O caminho, desta forma, é o investimento em energias renováveis, de acordo com o pesquisador.
O que é Fracking?
O fracking, ou fraturamento hidráulico, é uma tecnologia utilizada para a extração do gás do folhelho pirobetuminoso de xisto – consistindo na perfuração profunda do solo para inserir uma tubulação por onde é injetada, sob alta pressão, entre 7 a 30 milhões de litros de água, areia e mais de 700 produtos químicos tóxicos e com potencial cancerígeno – podendo até ser radioativos – para fraturar a rocha e liberar então o gás de xisto. Este tipo de gás tem sido utilizado em aquecimento de casas, geração de eletricidade e utilização em fábricas
Os riscos relacionados ao fracking na extração do gás de xisto são tantos que, por esse motivo, ficou conhecido como gás da morte. Entre os riscos estão: a contaminação da água potável na superfície e subterrânea, a esterilização do solo, tornando-o infértil para a agricultura, contaminando produções e inviabilizando a pecuária e o turismo. Consequentemente: fatores que afetam a geração de emprego e renda; graves e irreversíveis danos à saúde, como problemas respiratórios, cardíacos, neurológicos, vários tipos de câncer, má formação congênita, esterilidade em mulheres, aumento da mortalidade infantil e perinatal, nascidos de baixo peso e partos prematuros; além de intensificar as mudanças climáticas.
Campanha Não Fracking Brasil
A Campanha Não Fracking Brasil foi idealizada pela Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) e tem a parceria da 350.org Brasil e do Instituto Arayara, desde 2016. Entre os resultados desse esforço conjunto de mobilização, que inclui representantes da sociedade e dos poderes públicos e legislativo, estão a aprovação da primeira lei anti-fracking em definitivo no Brasil, que foi sancionada em julho deste ano, pelo governo do Paraná, e a aprovação também, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, do projeto de lei nº 145/2019, que assegura a proibição da exploração do xisto no estado, que seguiu para sanção do governador. Mais um avanço importante aconteceu recentemente nesta agenda. O debate sobre o tema chegou ao Senado, em audiência pública realizada neste mês de agosto.
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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil