Quando o tema são combustíveis fósseis, falar sobre riscos à saúde é um assunto que surge automaticamente. No caso do fracking (fraturamento hidráulico) para a extração de gás de xisto, especialistas têm estudado esta relação com maior profundidade, nos últimos anos.
Confira alguns alertas:

 – Você sabia que na técnica do fracking há um uso intensivo de água e alto potencial de contaminação do efluente gerado e dos fluídos de perfuração e consequentemente o risco de contaminação de aquíferos e fontes de água potável?;

– O fracking também resulta em emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (COV), com destaque para o benzeno e materiais particulados, que são subprodutos da queima do flare e da sílica, e de Gases de Efeito Estufa (GEEs) – principalmente gás carbônico (CO2) e gás metano (NH4);

– Como a técnica de fraturamento hidráulico ‘mexe’ na estrutura geológica, há o risco de produção de sismos e de contaminação por resíduos sólidos perigosos;

Segundo a Mestre em Engenharia Hidráulica e Saneamento, Bianca Dieile da Silva, pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), este conjunto de fatores é associado a riscos diretos à saúde das populações que vivem em áreas próximas aos locais de extração, como também da rota de tráfego dos produtos e de espaços de tratamento de águas residuárias. Ela faz esta análise em artigo que compõe a publicação “Fracking e exploração de recursos não convencionais no Brasil: riscos e ameaças”, de 2017, do Ibase. A utilização do princípio da precaução é imprescindível em sua avaliação.

O que não faltam são indicadores de saúde, que segundo ela, precisam ser estudados, que vão desde a exposição a produtos químicos tóxicos e cancerígenos a efeitos globais, na aceleração das mudanças climáticas. A especialista destaca que é preciso compreender que a saúde ambiental é ampla, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), incorpora fatores biológicos, físicos e químicos externos a uma pessoa, que podem afetar a sua saúde.

Em Audiência Pública sobre os impactos da exploração de gás de xisto no Brasil, promovida pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e Comissão do Meio Ambiente (CMA), em 14 de agosto, no Senado Federal, Juliano Bueno de Araújo, diretor associado de Campanhas da 350.org na América Latina e fundador da Coalizão Não Fracking Brasil, criada em 2013, fez um alerta:

 – “Precisamos contar com uma percepção de mercado ao analisar todos os danos associados ao fracking, que degrada o solo, a água e causa diversos impactos negativos na saúde e no meio ambiente. Nós precisamos de qualidade de vida, segurança alimentar. Não há necessidade de termos mais um risco à agricultura e ao meio ambiente brasileiro”.

A pesquisadora Bianca, da Fiocruz, levantou pesquisas nos EUA, que identificaram uma lista de 1.076 substâncias utilizadas nos fluídos, utilizados na exploração. Desse total, somente 8% possuem valor de referência a exposição crônica. Já entre 39% e 75% do volume injetado de fluido continuam no subsolo e podem migrar pelas formações geológicas. Entre estas substâncias, 25% estão relacionadas à ocorrência de câncer, 37% são potenciais desruptores endócrinos e entre 40% e 50% podem causar problemas nos sistemas nervoso, imunológico e cardiovascular. Outros problemas associados aos fluídos são irritação da pele e olhos e do sistema respiratório.

Nas águas residuais decorrentes do processo, há possibilidade de conter materiais radioativos. E no ar, entre os compostos voláteis identificados estão: benzeno, formaldeído, etilbenzeno, xilenos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que prejudicam o sistema respiratório. Geralmente os sintomas são dor de cabeça, sangramento nasal, erupções na pele e irritação da garganta, nariz e olhos.

De acordo com a pesquisadora, também nos EUA, houve uma medida interessante, pela qual uma série de municípios resolveram adotar distâncias mínimas entre poços e escolas, para evitar o perigo de contaminação. E no Texas, uma família chegou a ter ganho de causa na Justiça, ao processar uma empresa exploradora de ter causado problemas de saúde a uma criança de 11 anos, já que a exploração não era feita na sua propriedade e a família não foi informada de que as atividades poderiam causar os sintomas apresentados. 

Outra situação grave possivelmente associada ao fracking são impactos a bebês nascidos nas áreas próximas aos poços. As crianças apresentaram baixo peso ao nascer, defeitos congênitos no coração e potenciais problemas na formação da coluna espinhal, como descreve o pesquisador L.M. Mackenzier e equipe, em estudo de 2014. Mais um estudo importante foi coordenado por Brian Scwartz, professor da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. O levantamento epidemiológico comprovou que ‘viver’ próximo a áreas de fracking está relacionado ao aumento de gestações de alto risco e incidência de prematuros, resultando no aumento do índice de mortalidade infantil.


Campanha Não Fracking Brasil

A Campanha Não Fracking Brasil foi idealizada pela Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) e tem a parceria da 350.org Brasil e do Instituto Arayara, desde 2016. Entre os resultados desse esforço conjunto de mobilização, que inclui representantes da sociedade e dos poderes públicos e legislativo, estão a aprovação da primeira lei anti-fracking em definitivo no Brasil, que foi sancionada em julho deste ano, pelo governo do Paraná, e a aprovação também, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, do projeto de lei nº 145/2019, que assegura a proibição da exploração do xisto no estado, sancionada pelo governador do estado. Mais um avanço importante aconteceu recentemente nesta agenda. O debate sobre o tema chegou ao Senado, em audiência pública realizada em agosto de 2019. 

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil

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