Com a proposta de trocar experiências e estreitar laços sobre ações no combate à mudança climática e pela justiça socioambiental, 50 lideranças, ativistas e defensores de territórios, que representam a sociedade civil, se reuniram no Acampamento Ayni Climático, em Santiago do Chile, entre os dias 17 e 20 de outubro. Ilan Zugman, organizador de campanhas da 350.org, aqui na América Latina, teve a oportunidade de falar sobre a experiência da organização quanto à mobilização bem-sucedida contra o fracking (fraturamento hidráulico) para a extração de gás de xisto, no Paraná e Santa Catarina, como também as incursões na Argentina e Uruguai. Um momento de pré-aquecimento para a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-25), que acontecerá no Chile. Foi um rico momento de troca e escuta.

O evento foi organizado pelos coletivos TierrActiva Perú, TierrActiva Colombia, TierrActiva Bolivia e pela Plataforma Boliviana frente al Cambio Climático. 

O próprio nome “Ayni” já diz muito a respeito da atmosfera proposta pelo encontro. Nas culturas andinas, a expressão está relacionada à reciprocidade e apoio mútuo e se baseia em sinergias entre o mundo humano, o natural e o espiritual. “O princípio em que Ayni se baseia, a reciprocidade, ajuda-nos a enfrentar a crise ambiental e social global, restaurando o sentimento de cooperação entre grupos, organizações e indivíduos”, diz Zugman.

Durante a imersão, os participantes trataram de diferentes temas, além da própria COP – 25. Entre os principais, estavam transição energética, justiça climática, segurança, formas de proteção de defensores dos territórios, ancestralidade indígena, campanhas digitais como proteger os defensores dos territórios, como também as diferentes formas de ações diretas não violentas na defesa de direitos.

“Compartilhei nossas campanhas de combate ao fracking no Brasil, que começaram em 2013, e já têm conquistas importantes na proibição na extração no Paraná e em Santa Catarina, como também de nossas mobilizações na Argentina e Uruguai. Esse modelo de indústria causa graves contaminações e é uma das grandes responsáveis por estarmos em uma crise climática. Necessitamos fazer uma transição energética urgente e deixar os combustíveis fósseis no chão. As comunidades devem liderar essa transição e se engajar na solução, conscientizando seus parceiros e pressionando os governos”, conta Zugman.

Ayni Acampamento Climático - Chile - 10/2019

Foto: Divulgação/350.org AL

Segundo ele, participar de um painel com a participação do colombiano Weimar Antonio Villalobos, pastor do Comitê de Impulso de La Zona de Reserva Campesina de Cabrera e de Yoselyn Esperanza Guardado Chicas, do Coletivo Feminista para Desarrollo Local, de El Salvador, foi um importante momento de aprendizado. Cerca de 20 pessoas assistiram e participaram do diálogo.

Weimar é de uma área na Colômbia onde há muitos projetos de hidrelétricas e estão removendo pessoas dos territórios. Também tem seus territórios ameaçados pelo fracking. “Precisamos ter a consciência de que temos muita força quando estamos juntos. Nossos territórios precisam da força do nosso povo. É importante que cada cidadão tenha o conhecimento do poder que tem e saiba conquistar com argumentos a adesão dos governos e não, o contrário”, destaca o colombiano.

Yoselyn tratou da ameaça que vem por meio da privatização ao acesso à água por empresas internacionais. No dia 27 de outubro, o município de Suchitoto vai votar em consulta pública para que a água seja um bem público. “É inacreditável que estamos precisando de uma consulta pública para garantir um direito tão básico. Temos a obrigação de proteger nossas fontes de água, que é o que nos garante a vida. Qualquer coisa que ameace nosso direito a uma água limpa e de qualidade deve ser barrada pela força popular”, afirma. 

Sobre a 350.org no Brasil e a causa climática 

A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.

Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima. Mais uma vertente das iniciativas apoiadas pela 350.org é da conjugação entre Fé, Paz e Clima.

###
Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org no Brasil

Veja também:
Refugiados climáticos: uma realidade brasileira
Chile se torna um caso atual das mudanças climáticas
Ambições modestas dos países marcam Cúpula do Clima
Direito indígena amplia sua visibilidade internacional por meio de lideranças e projeto
Banir o fracking é uma das maneiras mais eficientes de frear o aquecimento global