Em meio à decepção causada pelo resultado das eleições nos Estados Unidos, líderes mundiais e sociedade civil continuam reunidos na COP 22 para debater a regulamentação do Acordo de Paris

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Para ambientalistas, eleição de Donald Trump não pode significar freio na luta contra as mudanças climáticas (Foto: Getaway).

 

Enquanto as delegações reunidas na cidade de Marrakesh, no Marrocos, para a 22ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP 22 -,  dão início aos trabalhos no âmbito das negociações climáticas, o mundo testemunha um dos resultados mais surpreendentes da história política recente: a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, confirmada na manhã desta quarta-feira (9). Candidato do partido republicano, o presidente eleito para governar um dos países mais influentes do mundo é declaradamente um cético das mudanças do clima.

Em novembro de 2012 ele escreveu na rede social Twitter que “o conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses, a fim de diminuir a competitividade da produção dos EUA”. Anos mais tarde ele disse que o tweet era uma piada. No entanto, em várias outras ocasiões disse explicitamente que as mudanças climáticas eram uma farsa. Por esse motivo, ambientalistas e ativistas veem a vitória de Trump nas urnas com apreensão, já que ela pode significar retrocessos nos esforços de combate ao aquecimento global.

“A eleição de Donald Trump é um desastre, mas não pode significar o final do processo internacional de negociações climáticas. Não vamos desistir, e a comunidade internacional também não deveria fazê-lo. Donald Trump vai tentar frear as ações climáticas, e isso significa que nós precisamos pisar fundo no acelerador. Nos Estados Unidos, o movimento climático vai fazer de tudo para proteger os avanços que tivemos até agora, e vai continuar pressionando para que medidas relevantes sejam implementadas. Nosso trabalho será muito mais difícil daqui para frente, mas não será impossível. E nós nos recusamos a abandonar as esperanças”, declarou May Boeve, diretora executiva da 350.org.

Apesar do sentimento geral de desapontamento, o clima de perseverança também tem sido sentido nos corredores da COP. “Estamos aqui por um propósito e precisamos seguir com ele apesar da conjuntura política desfavorável. O presidente dos Estados Unidos pode não reconhecer as mudanças climáticas e o ser humano como causador das mesmas, mas o acordo global assinado e ratificado por mais de 100 países, incluindo os EUA, reconhece. Esse é o momento de acelerarmos essa implementação. Quanto mais cedo atuarmos, maiores os benefícios para o clima”, frisou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina e coordenadora nacional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.

No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Acordo de Paris em menos de três meses. Firmado em dezembro de 2015 por 195 países e já ratificado por 102, ele passou a valer como lei no último dia 04, tendo como principal objetivo frear o aumento da temperatura média da Terra a 2ºC até 2100 em relação aos níveis pré-industriais. “Os países que ratificaram o acordo têm pelo menos cinco anos sem poder ‘abandoná-lo’. Além disso, diversas empresas americanas, além da sociedade civil e dos governos locais, já estão comprometidos com a redução de suas pegadas de carbono”, lembrou Nicole.

Segundo ela, essa é uma oportunidade para o Brasil, um dos destaques nas negociações internacionais, mostrar seu protagonismo e dar um exemplo ao mundo do que deve ser feito para de fato tirar o acordo global do papel.

“O mercado das energias renováveis é o que mais cresce no mundo, portanto é uma excelente oportunidade de crescimento econômico em tempos de recessão. Em 2015 houve uma elevação de 3,5% nas emissões brasileiras de gases de efeito estufa. O governo tem que ter a humildade de assumir que está complicado atingir a meta [de 43% de redução de emissões até 2030] enquanto vemos aumento do desmatamento, dos investimentos em carvão e outras políticas. Pra começar, o governo tem que colocar como meta não ter nenhum novo projeto que envolva combustíveis fósseis: nenhuma termelétrica a carvão, nenhuma termelétrica a gás, nenhum poço de pré-sal, nenhum poço de fracking [tecnologia altamente poluente utilizada para extração de gás de xisto]. A partir daí começamos a fazer a transição para uma economia de baixo carbono, com investimento em novas fontes de energia.”

Primeira conferência após a entrada em vigor do Acordo de Paris, a COP 22 teve início nesta segunda-feira (7), e reúne líderes mundiais de diversos países para debater a regulamentação do compromisso global e como os países vão implementar as regras nacionalmente. Diversas organizações da sociedade civil, incluindo a 350.org, estão presentes para acompanhar as negociações e pressionar os governos para que adotem metas mais ambiciosas para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.