Mais de 500 mil moradores da região estão protegidos da tecnologia poluente e contaminante usada para exploração do gás de xisto do subsolo

Por Silvia Calciolari

Juliano Bueno de Araujo, à direita, esteve na Mina Velha em Ibaiti (Paraná) com Nicole Figueiredo e equipe de voluntários da campanha Não Fracking Brasil (Foto: 350Brasil / COESUS).

Juliano Bueno de Araujo, à direita, esteve na Mina Velha em Ibaiti (Paraná) com Nicole Figueiredo e equipe de voluntários da campanha Não Fracking Brasil (Foto: 350Brasil / COESUS).

 

O Estado do Paraná tem sido exemplo para o Brasil e para o mundo no enfrentamento ao fraturamento hidráulico, tecnologia altamente poluente de exploração do gás de xisto do subsolo, também conhecida como fracking. E a região Norte Pioneiro, composta por 46 cidades, já está praticamente protegida da contaminação decorrente do método não convencional graças à campanha Não Fracking Brasil que mobilizou prefeitos, vereadores, voluntários e lideranças de entidades e movimentos sociais.

Cornélio Procópio, Ibaiti, Assaí, Jacarezinho e Wenceslau Braz, as cinco cidades da microrregião, já aprovaram projeto de Lei sugerido pela COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida e 350.org Brasil para proibir operações de fraturamento hidráulico. Assim como o Norte Pioneiro, as principais cidades do Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste e região Central já aprovaram a legislação banindo a exploração não convencional como Londrina, Maringá, Apucarana Umuarama, Paranavaí, Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guarapuava.

“Desde 2013, quando começou a campanha, realizamos centenas de audiências públicas, seminários, palestras e encontros para informar sobre os riscos e perigos e a importância de nos mobilizarmos para impedir que o fracking aconteça em nosso país”, afirmou Juliano Bueno de Araujo, coordenador de Campanhas Climáticas de 350.org e um dos fundadores da COESUS.

Dos 15 estados brasileiros na rota do fracking, inclusive com o subsolo já leiloado pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), o Paraná é estado proporcionalmente mais impactado. Dos 339 municípios, 122 entraram na 12ª Rodada de Licitações realizada em 2013, e outros 154 estão na lista para os próximos leilões. “Conseguimos mobilizar a população e sensibilizar o Ministério Público Federal que obteve em 2014 liminar cancelando o leilão, que protege mais de 5 milhões de paranaenses”, lembrou Juliano. Agora em maio, a 4ª Região confirmou a liminar no mérito por entender que a técnica oferece severos e irreversíveis riscos à saúde ambiental e da população.

E para comprovar o pioneirismo do Paraná, há ainda a Lei Estadual 18.947/2016 que suspende por 10 anos licenciamento para operações de fracking aprovada pela Assembleia Legislativa após intensa articulação da COESUS e 350.org Brasil junto aos parlamentares.

Engajamento

Reunião na Câmara de Vereadores em Ibaiti (Paraná).

Reunião na Câmara de Vereadores em Ibaiti (Paraná).

 

A campanha Não Fracking Brasil é essencialmente uma ação em defesa das reservas de água de superfície e aquíferos, do solo fértil para a produção agrícola e pecuária, do ar puro e um ambiente saudável para as pessoas e biodiversidade. O objetivo é impedir que milhões de litros de água, areia e um coquetel com mais de 720 substâncias químicas, muitas delas cancerígenas e até radioativas, sejam injetados no subsolo para fraturar a rocha de xisto (folhelho pirobetuminoso) para liberar o metano. Além dos impactos sociais, ambientais e para a economia, o fracking ainda causa terremotos, intensifica as mudanças climáticas e favorece a corrupção.

“Comecei meu ativismo ambiental na década de 80, menino ainda. Sabia que familiares, muitos pioneiros na região, trabalharam na Mina Velha de carvão e morreram por problemas causados pela atividade minerária. Não ia permitir que essa história se repetisse”, explicou.

Em março, acompanhado de Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, ela também coordenadora nacional da COESUS, Juliano esteve em Ibaiti para inciar pessoalmente as articulações.

Para tanto, ele não mediu esforços e envolveu na campanha toda a família, fossem ocupantes de cargos públicos, parlamentares ou cidadãos ibaitienses. Na lista de engajamento efetivo para que a proposta fosse apreciada estão o vereador Claudio Gerolimo, a Diretora do Departamento de Meio Ambiente Viviane Chueiri e o Procurador Geral do Município Juventino Antônio de Moura Santana (à esquerda na foto).

“A todas e todos minha eterna gratidão por agora ver a nossa cidade protegida, demonstrando consciência ambiental, responsabilidade com a proteção da água e a vida das pessoas e a certeza que juntos vamos barrar a entrada do fracking no Brasil e no mundo”, finalizou.