Estudantes de Berlim participam de uma greve climática durante as negociações da COP24, na Polônia.

O movimento mundial de estudantes contra as mudança climáticas, que tem sido chamado de “Greves escolares pelo clima” (sob a hashtag #SchoolStrike4Climate, em inglês), foi citado pelo jornalista Marcelo Leite em sua coluna do último dia 3 de marçona Folha de S. Paulo. Segundo Leite, grupos ligados à direita e à esquerda estão questionando, de forma errônea, a legitimidade da iniciativa.

Como uma das apoiadoras do movimento mundo afora, a 350.org, a fim de esclarecer os equívocos apontados pelo colunista como parte de uma suposta “teoria da conspiração”, publicou, em versão reduzida, um direito de resposta no Painel do Leitor desta sexta-feira (8). Abaixo, nossa resposta completa.

Iniciado em agosto de 2018 pela estudante sueca de 16 anos, Greta Thunberg, o movimento tem sido desde então liderado exclusivamente pelos jovens alunos de centenas de escolas ao redor do mundo. As paralisações têm sido organizadas por grupos descentralizados, não havendo qualquer grande complexo, organização ou corporação por trás delas.

A mobilização, que já possui um recorde de mais de 70 mil alunos grevistas em 270 localidades em 30 países, é convocada pelos próprios estudantes, principalmente via redes sociais. As greves climáticas já ocorreram na Suécia, Alemanha, Suíça, Colômbia, Nova Zelândia, Uganda, EUA, Holanda, Bélgica, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Japão, Quênia e Hong Kong.

O número de crianças em idade escolar que participam das greves escolares é enorme e crescente. Em janeiro, 60 mil estudantes participaram de manifestações na Suíça, 30 mil em Bruxelas e 30 mil em mais de 50 cidades na Alemanha. No dia 8 de fevereiro, 10 mil crianças participaram da primeira greve na Holanda.

Em novembro, milhares de estudantes entraram em greve na Austrália, pedindo aos políticos que levassem seu futuro a sério e tratassem a mudança climática como a verdadeira crise que é. Eles exigiram o fim dos projetos ligados a combustíveis fósseis, como a mega mina de carvão de Adani.

Os estudantes possuem demandas distintas em cada país, mas em geral eles exigem que os governos se comprometam a manter a temperatura global abaixo do perigoso nível de 1,5oC, e protejam nosso futuro. No próximo dia 15, o movimento está convocando a primeira greve estudantil global, que envolverá um número sem precedentes de adeptos, tanto jovens quanto adultos, que apoiam a causa.

O movimento de greves escolares é a voz dos nossos jovens. Ele faz parte de um movimento global forte e abrangente, que está em pleno crescimento. Milhares de pessoas de todas as idades mundo afora estão unidas e organizadas para desmantelar o poder da indústria de combustíveis fósseis, e cobrar atitudes concretas de seus governantes.

Embora a janela para ação esteja se estreitando rapidamente, ainda é possível manter o aquecimento global abaixo do limite inaceitável de 1,5oC. Mas para isso precisamos começar a reduzir imediatamente as emissões globais de gases do efeito-estufa.

Isso significa manter os combustíveis fósseis no solo e construir rapidamente sistemas de energia 100% renováveis, justos, descentralizados e com a participação das próprias comunidades. A energia renovável já é mais barata do que a fóssil em grande parte do mundo, mas os governos não estão tomando as medidas necessárias para acelerar a transição energética que precisamos.

A 350.org, organização que realiza atividades em mais de 150 países para alertar autoridades, empresários, parlamentares e lideranças da sociedade sobre a necessidade urgente de ir além dos compromissos estabelecidos nos acordos internacionais de mudanças do clima, considera a mobilização dos estudantes relevante, autêntica e oportuna.

Ao contrário do que foi equivocadamente apontado pela “denúncia” mencionada no artigo de Marcelo Leite, a 350.org não faz parte de qualquer “complexo industrial” que realiza “marketing verde”, nem tampouco está “por trás” ou “pegando carona” na popularidade do movimento. 

Ainda que não envolvidos diretamente nas iniciativas de paralisação escolar, seguindo nosso compromisso com a facilitação do acesso à informação, conscientização popular e apoio às atividades cidadãs relacionadas à proteção ambiental e climática; e, claro, por acreditar na legitimidade do movimento, temos apoiado a iniciativa com comunicação e divulgação das ações e convocatórias dos próprios estudantes em todo o mundo.

A partir de suas escolas, os jovens exigem das autoridades públicas e das corporações medidas efetivas e urgentes para conter as emissões de gases-estufa que causam o aquecimento global. Sinalizam, assim, a sua preocupação com um futuro mais sustentável, no qual a segurança no acesso aos alimentos, à água e energia depende do equilíbrio do sistema climático. Além disso, eles também demonstram que o sistema educacional não pode se manter alheio ao que se considera a crise do século: a mudança do clima.

Onde as autoridades falham, ao povo resta apenas uma escolha: liderar com ações concretas. E os jovens também já perceberam isso.

Temos que entender a emergência da situação. Nossa liderança nos falhou. Os jovens devem responsabilizar as gerações mais velhas pela bagunça que criaram. Precisamos ficar com raiva e transformar essa raiva em ação.

Greta Thunberg