A equipe da 350org Brasil e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS) continua a todo o vapor no Mato Grosso do Sul. Em cerca de 20 dias já foram visitadas diversas escolas, comunidades rurais, Câmaras Municipais, Prefeituras, sindicatos, assentamentos paróquias, rádios e TVs locais em pelo menos sete cidades. O objetivo é alertar a sociedade sobre os ricos do fracking em suas localidades. Ontem foi dia de mais uma audiência pública, dessa vez em Santa Rita do Pardo.

Junto com Brasilândia, o município já teve blocos arrematados pela Petrobrás em duas rodadas de leilões da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP). As outras áreas continuam em leilão permanente e podem ser arrematadas a qualquer momento. Na audiência foram debatidos os impactos da técnica do faturamento hidráulico – ou fracking –, para extração do gás de xisto.

“Nós temos o compromisso com a verdade e defendemos o desenvolvimento sustentável para todos, com uso das energias renováveis. Tenho a certeza de que ninguém do município de Santa Rita [do Pardo] e de nenhum outro do estado do Mato Grosso do Sul ou do Brasil gostaria de colocar em risco a sua saúde, sua fonte de renda e seu patrimônio”, defendeu Suelita Rocker, coordenadora de engajamento e comunidades da COESUS e 350.org.

A técnica do fraturamento hidráulico perfura o subsolo vertical e horizontalmente, chegando muito próximo de fontes subterrâneas de água, onde é injetado milhões de litros cúbicos de água misturada com centenas de produtos químicos, cuja pressão causa fraturas que liberam o gás. A técnica não só contamina águas superficiais e reservas subterrâneas, como também o solo e o ar, além de agravar o aquecimento global, uma vez que libera o metano, um dos gases causadores do efeito estufa.

Apesar de reticente, o prefeito de Santa Rita do Pardo, Cacildo Dagno Pereira, reconheceu a importância do debate, e demonstrou que a ANP não levou até o momento qualquer informação aos moradores ou autoridades locais. “Esse é de fato um tema bastante polêmico. Se trouxer transtorno ao município, como estão falando, não é bem-vindo. Mas também precisamos ouvir o outro lado, pois até o momento só estamos ouvindo o lado contra o fracking”.

Ele frisou que é precisamos buscar conhecimento para tomar as decisões corretas. “O uso de transgênicos eram um absurdo quando chegou e hoje é algo seguro. Sabemos que nosso país precisa de energia. Os EUA usam a técnica há muito tempo, mesmo sendo um país muito seguro e que respeita muito o meio ambiente. Ainda não tenho uma opinião formada, pois preciso buscar mais informação.”

Para o gerente comercial da MS Gás, Luiz Antônio Duarte, o gás natural é um combustível de transição para uma economia de baixo carbono, mas cujo processo precisa ser estudado com cautela. “Não sabemos se o gás de xisto irá atender prioritariamente o estado do MS. Como será distribuído esse gás? Será construído gasoduto ligado ao que vem da Bolívia? Nós também estamos cheios de dúvidas sem saber o que irá ocorrer”, argumentou.

Josué Nogueira Martinez, presidente da Câmara Municipal de Santa Rita do Pardo, afirmou que esteve na audiência realizada há algumas semanas em Campo Grande e que sentiu a necessidade de trazer a discussão para a cidade. “Nosso objetivo é saber se traz benefícios ao município ou não. Estamos buscando o conhecimento. O ‘gás da morte’ assustou o pessoal, os vídeos assustaram muito o pessoal. Mas precisamos estudar para saber o que é melhor para o município.”

Os municípios sul-mato-grossenses com áreas já ofertadas em leilão pela ANP são: Água Clara, Anaurilândia, Angélica, Bataguassu, Batayporã, Brasilândia, Campo Grande, Deodápolis, Ivinhema, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Novo Horizonte do Sul, Ribas do Rio Pardo, Rio Brilhante, Santa Rita do Pardo, Taquarussu, Três Lagoas, Alcinópolis, Bandeirantes, Camapuã, Cassilândia, Chapadão do Sul, Costa Rica, Inocência, Rochedo e São Gabriel do Oeste.