Você olha de um lado, olha de outro, e provavelmente vai se deparar com um ciclista com roupa esportiva ou até social transitando em sua “bike” em ciclovias, em ruas de lazer ou que têm menos tráfego. Em algumas estações de trem e metrô e terminais urbanos de ônibus, já é possível encontrar “estacionamentos” para as ‘magrelas’. O aluguel de bikes também é uma tendência em ascensão. Em determinados dias da semana, grupos de ciclistas chamam a atenção, por andarem juntos no mesmo horário. Mais que uma atividade saudável, do ponto de vista da saúde, andar de bicicleta se apresenta cada vez mais como uma opção ao uso de veículos movidos a combustíveis fósseis, que ainda lotam as cidades, gerando poluição e emitindo Gases de Efeito Estufa (GEEs). Assim se abre espaço cada vez maior ao cicloativismo.
Uma das mais antigas organizações não governamentais é a Bike Anjo, que já conta com mais de 7,5 mil membros em 700 cidades, de 35 países e começou suas atividades em 2013. “A proposta é incentivar o uso da bike para locomoção ao trabalho e às escolas. Temos uma plataforma em que o interessado a aprender a pedalar encontra um ‘anjo’ para apoiá-lo, como também oficinas periódicas. Mais recentemente começamos com o movimento “bike anjas” para incentivar a ciclista, e uma atuação nas periferias. No ano passado, focamos nos benefícios à saúde”, conta João Paulo Amaral, um dos idealizadores e da coordenação da iniciativa. A ideia, segundo ele, é o incentivo a aprender e multiplicar também voluntários que queiram ensinar a andar de bicicleta.
Em Pernambuco, a Associação Metropolitana de Ciclistas de Recife (Ameciclo), criada também em 2013, tem ganho cada vez mais adeptos. Hoje são cerca de 750 pessoas associadas. Entre as principais propostas, está estimular o uso de bicicletas e a democratização das vias públicas.
“Desenvolvemos o projeto Bota para Rodar, de bicicletas compartilhadas, em rodízio em comunidades. A primeira a participar foi a de Caranguejo Tabaiares, no bairro da Ilha do Retiro. Geralmente as bicicletas estão abandonadas em condomínios, resgatamos as bicicletas por meio de oficinas com jovens das comunidades. Daí os próprios comunitários fazem a gestão do uso compartilhado”, diz Daniel Valença, um dos coordenadores da Ameciclo.
Segundo Valença, também a cada três anos a associação faz uma pesquisa do perfil do ciclista, com aspectos socioeconômicos e percepção do trânsito, e finalidade do uso, em Recife, para entender o comportamento da pessoa que pedala. “Desde 2013 até agora, houve um aumento do número de ciclistas em Recife, entorno de 42%, mas a estrutura cicloviária aumentou pouco, falta infraestrutura. Como estamos em uma das cidades mais engarrafadas, e até a questão de recessão socioeconômica, são fatores que estimulam primeiramente estes adeptos”, avalia. A questão ambiental vem em um segundo momento na percepção dos ciclistas ouvidos.
Valença explica que foi constatado que 65% das emissões de GEEs, em Recife, são devido ao uso de transporte motorizado na cidade, de acordo com relatório elaborado pela Prefeitura. Este é um indicativo que a bicicleta é uma opção positiva e acaba sendo um transporte eficiente para evitar as emissões. Mas ainda há necessidade de maior incentivo dos governos para o uso da bicicleta e implementação de infraestrutura nas cidades”, diz.
Em apoio à Bike Anjo, a Ameciclo também está desenvolvendo, neste ano, o projeto de “De Bicicleta ao Trabalho”. Além disso, mesas redondas periódicas também são oferecidas pela associação. Temas como Políticas de desestímulo ao transporte individual motorizado fazem parte da agenda.
Com o recorte de inclusão social, igualdade de gênero e ética, o projeto Preta Vem de Bike tem se destacado em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. A iniciativa do coletivo La Frida – cicloativismo negro tem como público-alvo das aulas meninas da periferia e quilombolas. Depois dos encontros, também auxilia no trabalho de coleta de bicicletas para restauração ou doação para que possam ser revertidas para a própria comunidade participante.
A tecnologia também avança no universo das bicicletas. Uma série de APPs estão disponíveis. Como o BikeMap que ajuda a encontrar rotas utilizadas por outros usuários e o Strava, que monitora o treinamento com GPS, fornecendo dados desde velocidade a calorias queimadas.
Claudia Gibeli, assistente de projetos do Fundo Socioambiental Casa, diz que os diferentes perfis de iniciativas de cicloativismo em mobilidade urbana ativa e, inclusive, com recorte das mudanças climáticas, têm ganho cada vez mais espaço para apoio financeiro e institucional. “Já recebemos projetos que ocorrem em várias regiões metropolitanas e de forma coletiva. Desde estímulo a políticas de mobilidade a desenvolvimento de aplicativos”, conta.
O que é possível identificar é que não faltam opções, não é? Então, que tal participar ou conhecer algumas destas iniciativas? Afinal, como a União de Ciclistas do Brasil constata: a bicicleta está presente, de forma direta e indireta, nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ODS/ONU) .
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.
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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil