1. Está aquecendo.
Neste momento, a temperatura média global anual está cerca de 1,1° Celsius mais quente do que os níveis pré-industriais.
Crise alimentar, escassez de água, deslocamentos em massa, conflitos. Os impactos da crise climática já estão por toda parte, e afetam profundamente as pessoas – atingindo mais fortemente pessoas em áreas ou condições sociais mais vulneráveis, que, geralmente, são as que menos contribuíram para piorar essa emergência.
o planeta está aquecendo por nossa causa. E também cabe a nós resolver essa crise, garantindo um futuro habitável e equitativo para todos.
Neste momento, a temperatura média global anual está cerca de 1,1° Celsius mais quente do que os níveis pré-industriais.
A Terra sempre teve ciclos naturais de aquecimento e resfriamento, mas não como estamos vendo agora. Os 10 anos mais quentes já registrados foram todos depois do ano 2000, com recordes sendo quebrados ano após ano. De acordo com o IPCC, “cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer década anterior, desde 1850”.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade confirma que, no ritmo atual, o mundo poderá ultrapassar a marca de 1,5 ˚C de aquecimento até 2040. Esse período é de apenas duas décadas, bem dentro da expectativa de vida da maioria das pessoas atualmente vivas. E mesmo que as promessas atuais dos governos de todo o mundo, de reduzir as emissões até 2030, fossem cumpridas, ainda estaríamos no caminho para alcançar um aumento de 2,7 ˚C até o final do século.
O aumento das temperaturas não significa apenas que está ficando mais quente. O clima da Terra é complexo — mesmo um pequeno aumento na temperatura média global implica em grandes mudanças, com muitos efeitos colaterais perigosos e o potencial de um curto-circuito em ecossistemas inteiros. Diversos estudos estão mostrando que exceder 1,5 ˚C pode desencadear vários “pontos de inflexão” para nossos sistemas climáticos, e “essas mudanças podem levar a impactos abruptos, irreversíveis e perigosos, com implicações graves para a humanidade”.
O limite de 1,5 ˚C foi definido pelo Acordo de Paris, em 2015, como limiar crítico de temperatura. Mesmo pequenas alterações de temperatura representam a diferença entre a vida e a morte para milhões de pessoas (nosso Dossiê do Povo sobre o limite de 1,5 ˚C oferece mais informações sobre por que precisamos ficar abaixo de 1,5 ˚C). De acordo com cientistas, se alcançarmos as previsões de aumento de 2,7 ˚C, teríamos um “calor inabitável durante partes do ano em áreas dos trópicos e subtrópicos. A biodiversidade seria amplamente esgotada, a segurança alimentar despencaria e o clima extremo excederia a capacidade da maioria das infraestruturas urbanas de lidar com tudo isso”.
GRÁFICO: SÉRIE TEMPORAL DA NASA: 1884 A 2021
Os seres humanos estão causando as mudanças climáticas, principalmente pela queima de combustíveis fósseis. O aumento da temperatura se correlaciona quase que exatamente com a liberação de gases de efeito estufa.
Antes do século XVIII, quando os seres humanos no Ocidente industrial começaram a queimar carvão, petróleo e gás, nossa atmosfera costumava conter cerca de 280 partes por milhão de dióxido de carbono. Essas são as condições “nas quais a civilização se desenvolveu e às quais a vida na Terra está adaptada.”
Conforme o uso de combustíveis fósseis se espalha pelo mundo, a quantidade de carbono na atmosfera sobe vertiginosamente. Em 2002, estávamos em 365 partes por milhão de CO2 na atmosfera e, apenas duas décadas depois, já estamos cruzando 420 ppm.
Ao mesmo tempo, a demanda dos países mais ricos por agricultura baseada em animais fez com que outros gases de efeito estufa, como o metano e o óxido nitroso, aumentassem rapidamente. A contribuição da agricultura é responsável por cerca de 15% das emissões globais. A queima de combustíveis fósseis continua sendo, de longe, o maior contribuinte individual para o problema: os combustíveis fósseis foram responsáveis por 89% das emissões de gases de efeito estufa do setor de energia em 2021. Isso é agravado pelo fato de que o dióxido de carbono permanece ativo na atmosfera por muito mais tempo do que o metano e outros gases de efeito estufa.
As empresas de combustíveis fósseis estão usando o carbono, que levou milhões de anos para ser armazenado no solo na forma de combustível fóssil, e liberando na atmosfera. Manter os combustíveis fósseis no solo é o passo mais importante que podemos dar para evitar o avanço da mudanças climáticas
Fonte: NOAA
Cerca de 99% dos cientistas concordam que as mudanças climáticas estão sendo causadas pelas emissões humanas de gases de efeito estufa. Não há mais a necessidade de debater sobre a ciência básica das mudanças climáticas.
Na década de 1890, sabíamos que mais CO2 na atmosfera aqueceria o clima. Os ataques à credibilidade da ciência climática são perpetuados por interesses escusos, incluindo da indústria de combustíveis fósseis, que continua a injetar dinheiro para criar incerteza sobre a nossa compreensão das mudanças climáticas. Apenas entre o Acordo de Paris de 2015 e o ano de 2019, as cinco maiores empresas de petróleo gastaram um total de 1 bilhão de dólares em imagem de marca e lobby enganosos relacionados ao clima.
A petroleira Exxon sabia sobre o impacto das mudanças climáticas na década de 1970, e descobriu que tomar uma atitude afetaria seus resultados. Como resultado, juntou-se a toda a indústria em um ataque à verdade, criando um falso debate que, durante décadas, impediu o emprego das ações necessárias. O mesmo vale para a Total Energies – historiadores descobriram que a gigante do petróleo sabia que seu negócio principal estava causando o aquecimento global há quase 50 anos. E, mesmo assim, encobriu a verdade, financiou a desinformação e mentiu aos seus acionistas e ao público. Agora, sabemos que a Exxon, a Total e outras empresas vêm tomando medidas para proteger sua infraestrutura contra as mudanças climáticas há décadas — enquanto lutam contra as ações empregadas para proteger o resto de nós.
A Exxon queria que acreditássemos em sua mentira – mas isso requer descredibilizar os cientistas e muitos de nós que estão na linha de frente. O conhecimento indígena, tradicional e local tem nos dito que o clima está mudando e que a maneira como nos relacionamos com o planeta não é sustentável. Mais de 24% das terras mais preservadas do planeta estão sob os cuidados de comunidades locais ou povos indígenas. Ailton Krenak, um líder indígena e escritor do Brasil, apontou que , “as pessoas pensam que as mudanças climáticas são algo que vai ocorrer no futuro, mas temos vivido isso dentro de nossas florestas há um longo tempo. […] Nossa maneira de viver em qualquer lugar da Terra é por meio da interação constante entre as pessoas e a natureza. Todos os povos indígenas respondem de diferentes maneiras à destruição da base natural de nossas vidas devido aos processos de colonização. Fazemos isso com o que resta de nossas memórias e tradições, e isso compõe nossa cosmovisão e sustenta nossa resistência”.
Se prestarmos atenção ao que os cientistas e as comunidades mais afetadas estão nos dizendo, em vez das mentiras e manipulações da indústria de combustíveis fósseis, veremos que a mensagem é clara: os seres humanos estão causando o início rápido de mudanças climáticas, que já têm trazido impactos negativos bastante onerosos em todo o mundo – econômicos, ambientais, sociais e humanos. A melhor maneira de deter as mudanças climáticas é manter os combustíveis fósseis no solo e acelerar uma transição justa para um futuro limpo e justo para todos, liderado pela comunidade.
O “debate” ACABOU. Cientistas marcham pela ação contra as mudanças climáticas. Crédito da foto: Road to Paris
Um aquecimento de 1,1 ˚C já resultou em impactos devastadores para as pessoas e o planeta. E esses impactos atingem alguns de nós com mais força.
De acordo com o último relatório do IPCC sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, cerca de 3,3 a 3,6 bilhões de pessoas vivem em contextos altamente vulneráveis às mudanças climáticas. O relatório também afirma que entre 50 e 75% da população mundial pode ser exposta a períodos de “condições climáticas possivelmente fatais” até 2100, especialmente conectados às chuvas e ao calor exacerbados.
A produção de alimentos é afetada de modo extremamente negativo pelo aquecimento global. As safras de grãos, por exemplo, enfrentam uma diminuição na produção. A insegurança alimentar e a escassez de água podem levar a crises humanitárias, conflitos e deslocamentos, afetando diferentes áreas do mundo de forma desigual – impactos desproporcionais estão sendo testemunhados especialmente em partes da África, Ásia, América Central e do Sul, em pequenas ilhas e no Ártico.
As estações estão mudando e ficando mais imprevisíveis, tornando mais difícil para os agricultores saberem quando plantar e colher. Projeções mostram que, mesmo se ficarmos perto de 1,5 ˚C até 2100, 8% das terras que hoje são férteis no mundo se tornarão inadequadas. A produção de peixe em áreas tropicais da África também sofrerá uma redução que pode passar de 3% para 41%, aprofundando a crise alimentar, uma vez que a vida marinha é a principal fonte de proteína para cerca de um terço das pessoas que vivem no continente.
As desigualdades sociais dentro e entre países se aprofundarão à medida que os impactos da crise climática forem sentidos com mais força. Grupos sociais vulneráveis, “incluindo mulheres, jovens, idosos, minorias étnicas e religiosas, povos indígenas e refugiados” têm maior propensão a sofrer ainda mais com os impactos da crise climática, e estão mais expostos à escassez de alimentos e água, pobreza, problemas de saúde, conflitos e violência relacionados às mudanças climáticas.
O IPCC afirma que a diferença entre 1,5 ˚C e 2 ˚C de aumento da temperatura global pode significar bem mais de 10 milhões de migrantes devido ao aumento do nível do mar. Todas as pessoas do mundo têm o direito de buscar as melhores condições possíveis para viver e prosperar. Porém, o deslocamento involuntário devido a eventos relacionados ao clima (principalmente inundações e tempestades) já vem deslocando mais de 20 milhões de pessoas por ano desde 2008.
A adaptação a essas e outras novas realidades emergentes do caos climático é inevitável e crucial, mas também destaca desigualdades ao redor do mundo. Os esforços foram fragmentados e distribuídos de forma desigual. De acordo com cientistas, “ainda existem lacunas substanciais de adaptação, especialmente entre as populações com renda mais baixa. No ritmo atual de planejamento e implementação, essas lacunas de adaptação continuarão a crescer [e], atualmente, o mundo está bastante subpreparado para impactos vindouros das mudanças climáticas, principalmente se o aquecimento global superar 1,5 ˚C”.
A ciência das mudanças climáticas não deixa espaço para dúvidas. Novos estudos e relatórios confirmam o que sabemos há décadas: o aumento da frequência e da gravidade de eventos climáticos extremos é resultado das mudanças climáticas. É ruim para todos — e ainda pior para alguns de nós.
Legenda: Mapa interativo mostrando como as mudanças climáticas causam eventos extremos relacionados ao clima em todo o mundo. Fonte: CarbonBrief
Uma das descobertas mais claras da ciência climática é que o aquecimento global amplifica a intensidade, a duração e a frequência das ondas de calor, da seca e dos incêndios florestais.
Legenda: Em 2022, a Europa enfrentou temperaturas extremas, com Londres
registrando um recorde
de 40 ˚C durante o verão, incêndios florestais atingindo partes da Espanha e Portugal e dezenas
de milhares de pessoas sendo deslocadas. Crédito da foto: NOAA
A atmosfera e os oceanos do nosso planeta estão aquecendo dez vezes mais rápido do que em qualquer outro momento nos últimos 65 milhões de anos. Isso tem sido particularmente perceptível nos últimos 20 anos.
Legenda: Mapa destacando em marrom as regiões onde as secas devem piorar como resultado das mudanças climáticas. Fonte: IPCC.
O aquecimento está aumentando a gravidade das secas. Uma atmosfera mais quente suga mais água do solo, aumentando a probabilidade de condições de seca, e causando o aumento do estresse das plantas. A ONU já alertou que "mais de 50 milhões de pessoas na África Oriental devem enfrentar insegurança alimentar aguda" em 2022 devido a quatro anos consecutivos de curta duração das chuvas. A seca foi a pior em 40 anos para muitos países da região. Se não reduzirmos as emissões de forma substancial e imediata, o prognóstico é de que "até o ano 2100, um terço das áreas terrestres globais deve sofrer, pelo menos, de seca moderada".
Incêndios florestais também são um indicador do aquecimento rápido da nossa atmosfera. O último relatório do IPCC afirma que "um quarto das terras naturais do mundo agora têm temporadas de incêndios mais longas como resultado do aumento da temperatura, da aridez e da seca".
Em 2021, um aumento de 30% na aridez do solo e temperaturas recordes causaram à Turquia um aumento abrupto na extensão das florestas queimadas. E os incêndios florestais têm sido intensos no estado americano da Califórnia por mais tempo e com maior intensidade nos últimos anos. Em 2020, mais de 200 mil incêndios foram detectados nas regiões brasileiras do Pantanal, do Cerrado e da Amazônia — 15% a mais do que no ano anterior, e provavelmente serão mais frequentes
Embora o aquecimento recorde seja sentido em terra, a maior parte da energia térmica extra que está ficando aprisionada em nossa atmosfera está sendo armazenada nas profundezas de nossos oceanos, causando mudanças rápidas e o declínio de ecossistemas-chave.
Legenda: A extensão do gelo marinho do Ártico no verão vem diminuindo 12,6% por década como resultado do aquecimento global. Fonte: NSIDC/NASA
Desde 1955, mais de 90% da energia aprisionada na atmosfera como resultado do aumento dos gases de efeito estufa foi absorvida pelos oceanos — e a taxa de aquecimento do oceano aumentou significativamente ao longo do tempo.
Devido ao aquecimento dos oceanos e da atmosfera, a quantidade de gelo na Terra está diminuindo — das geleiras ao Ártico e à Antártica. Isso está causando o aumento do nível do mar, reduzindo a capacidade da Terra de refletir a energia térmica de volta ao espaço e ameaçando ecossistemas únicos.
Desde que os registros de satélite começaram, há quatro décadas, o gelo marinho do Ártico vem apresentando um declínio dramático, perdendo, em média, 13% da sua massa a cada década. Toda a região do Ártico está passando por mudanças drásticas, ameaçando o habitat vital de inúmeras espécies e os meios de subsistência de muitas comunidades indígenas. É extremamente provável que os invernos rigorosos estejam ligados à elevação rápida das temperaturas polares. O mesmo pode ser dito sobre as ondas de calor mortais e inundações intensas.
A camada de gelo da Antártica também passa por mudanças à medida que as temperaturas do oceano aumentam, embora mais lentamente do que o Ártico. Sendo a maior reserva mundial de água doce, a Antártica tem o potencial de contribuir intensamente para o aumento do nível do mar : próximo de zero para um aquecimento até 1,5 ˚C, mas saltando rapidamente para pelo menos 2 metros se passarmos de 2 ˚C. A diferença que podemos fazer agora, mantendo os combustíveis fósseis no solo, é surpreendente: se agirmos agora, podemos manter a camada de gelo da Antártica praticamente intacta.
As geleiras também são muito sensíveis às mudanças de temperatura e, como resultado das mudanças climáticas, elas estão em recuo irreversível no mundo todo. O declínio das geleiras no Himalaia, Andes, Ártico, Alpes do Sul da Nova Zelândia e em outros lugares representa custos e ameaças significativos para as pessoas e a vida selvagem, pois fornecem uma importante fonte de água durante todo o ano para muitas cidades e ecossistemas do mundo.
À medida que aquece, a água se expande. Este simples fenômeno, junto com o influxo de água para os oceanos decorrente do derretimento do gelo nas regiões polares e das geleiras do mundo, tem levado a um rápido aumento do nível do mar. É preciso apenas uma pequena elevação do nível do mar para causar mudanças e danos dramáticos, pois as marés-rei e as ressacas varrem cada vez mais para o interior dos continentes.
Projeções mostram que "eventos extremos relacionados ao nível do mar, que antes ocorriam uma vez a cada 100 anos, podem passar a acontecer anualmente até o fim deste século" em vários lugares do mundo. A taxa atual de elevação do nível do mar é de cerca de 3,7 mm/ano, mas essa taxa tem aumentado ao longo do tempo, além dos altos e baixos de um ano para outro.
Se mantivermos os combustíveis fósseis no solo e limitarmos o aquecimento a menos de 2 ˚C, temos a chance de limitar o aumento do nível do mar a aproximadamente 50 cm até 2100. Com 37% da população mundial vivendo perto da costa, há muito em jogo.
Antes da década de 1980, não havia sinais de evento global algum de branqueamento de corais nosúltimos dez mil anos e, provavelmente, há muito mais tempo. Isso só começou a ocorrer nos últimos 35 anos. Da Grande Barreira de Corais às Ilhas Andaman do Oceano Índico, os corais, que antes eram coloridos e cheios de vida, se tornaram brancos e depois marrom escuros quando morreram e ficaram cobertos de algas. ( Leia mais sobre nossa campanha Coral Reef Crime Scene [Cena de Crime da Morte dos Corais]).)
Os corais sustentam aproximadamente 25% de todas as espécies marinhas. A morte massiva de corais arrisca as vidas ou os meios de subsistência de Um bilhão de pessoas em todo o mundo, que se beneficiam direta ou indiretamente desses ecossistemas. Se as emissões de gases de efeito estufa permanecerem descontroladas, mataremos a maioria dos recifes de corais do mundo dentro de algumas décadas.
Tempestades, furacões e tufões sempre aconteceram, mas por causa das mudanças climáticas causadas pelo homem, estão agora causando chuvas mais pesadas, mais inundações, maiores tempestades e ventos mais fortes.
De acordo com o relatório AR6 do IPCC, "um aumento dos recordes de intensidade e frequência das chuvas diárias foi detectado em grande parte da superfície terrestre onde há bons registros observacionais, e isso só pode ser explicado por aumentos, causados pelo homem, nas concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa". A conexão é clara: para cada grau extra de aquecimento, a atmosfera contém cerca de 7% mais vapor de água — e mais vapor de água na atmosfera significa mais energia alimentando a precipitação e alterando as áreas onde as tempestades ocorrem.
Em 2022, 33 milhões de pessoas sofreram com inundações mortais no Paquistão depois que as monções atingiram o país com chuvas quase 800% mais volumosas que o normal. Em 2021, as águas tomaram as ruas de cidades na Alemanha e Holanda, em uma das chuvas mais severas em um século, que tirou mais de 200 vidas. Em 2016, as águas excepcionalmente quentes do Caribe levaram à intensificação incrivelmente rápida do furacão Matthew, transformando-o de uma tempestade tropical em Categoria 5 num período de apenas 36 horas e causando estragos no Haiti, em Cuba, nas Bahamas e no Sudeste dos Estados Unidos à medida que progredia.
O custo da queima de mais combustíveis fósseis é muito real—, pois tornará tempestades, furacões, tufões e ciclones mais mortais e onerosos. Manter os combustíveis fósseis no solo é a melhor maneira de proteger as pessoas de uma destruição incalculável.
O clima permeia todos os aspectos de nossas vidas, e as consequências de um planeta mais quente afetarão nosso bem-estar de várias maneiras, afetando muito mais as comunidades vulneráveis.
As mudanças climáticas são consideradas um dos maiores riscos para a saúde humana – e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é provável que cause cerca de 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050, especialmente por desnutrição, malária, diarreia e estresse por calor.
Legenda: As mudanças climáticas afetam a saúde direta e indiretamente. Fonte: OMS
É mais difícil cultivar, transportar e armazenar alimentos em um clima mais quente, e as mudanças climáticas também afetarão profundamente a qualidade da água e sua disponibilidade. Essas tendências atingirão as populações pobres com maior intensidade, aprofundando a desigualdade em todo o mundo e dentro dos países. De acordo com o último relatório do IPCC, o número de pessoas que sofrerão com a fome em 2050 pode variar de 8 milhões a 80 milhões, sendo que populações da África Subsaariana, Sul da Ásia e América Central serão as mais afetadas. Além disso, "globalmente, estima-se que de 800 milhões a 3 bilhões de pessoas vivenciem escassez crônica de água devido a secas com aquecimento de 2 ˚C, podendo chegar a aproximadamente 4 bilhões com aquecimento de 4 ˚C".
Uma das consequências mais óbvias de um clima mais quente é também o estresse por calor. Até 2100, a porcentagem da população mundial exposta ao calor mortal certamente aumentará — dos atuais 30% para 48-76% — mas os números dependem de quanto somos capazes de reduzir as emissões. Na Europa, por exemplo, o número de pessoas em risco de estresse por calor será 2 ou 3 vezes maior em um mundo 3 ˚C mais quente, se comparado a 1,5 ˚C. O estresse por calor está ligado à desidratação, falência de órgãos, doenças cardiovasculares e até mesmo à morte, além de afetar mais duramente as populações mais vulneráveis, como mulheres, idosos e comunidades mais pobres.
Legenda: Mosquito fêmea de Aedes albopictus, responsável por espalhar o vírus Zika. (Foto: James Gathany/CDC) Fonte: PHIL
O aumento das temperaturas também está expandindo as áreas em que doenças transmitidas por mosquitos, como a Zika, a malária e a dengue, são comuns. Um relatório da Lancet publicado em 2022, descobriu que "os períodos em que a malária pode ser transmitida se tornaram 32% mais longos nas áreas de terrenos mais elevados das Américas e 15% mais longos na África", se comparados com a década de 1950. As chances de alguém ser infectado pela dengue também aumentaram em 12% no mesmo período. E o relatório AR6 do IPCC mostra que "projeta-se um adicional de 1 bilhão de pessoas em risco de exposição à dengue até 2080 em um cenário de aquecimento médio, e 5 bilhões em um cenário de aquecimento elevado".
Eventos climáticos extremos (inundações, furacões, ondas de calor ou incêndios florestais) estão ligados ao aumento da violência e "podem desencadear transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão". Cada vez mais pessoas estarão expostas à perda de seus lares, negócios e vidas devido às condições climáticas mais extremas e "tudo isso tem efeitos profundos, muitas vezes de longo prazo, na saúde mental". Organizar e unir nossas forças para pressionar por uma ação climática imediata é a melhor maneira de garantir que as gerações futuras tenham a chance de prosperar.
O aquecimento da atmosfera está mudando o calendário das estações, a distribuição dos habitats e movendo zonas climáticas mais quentes em direção aos polos.
Um estudo baseado em 976 plantas e animais descobriu que 47% deles sofreram extinções locais como resultado de mudanças induzidas pelo clima. E o último relatório do IPCC sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade é muito claro: "ameaças a espécies e ecossistemas nos oceanos, regiões costeiras e em terra, particularmente em pontos cruciais de biodiversidade, apresentam um risco global, que aumentará a cada décimo de grau de aquecimento adicional".
Ondas de calor, incêndios florestais, secas e estações de inundações, todos mais frequentes, mais longos e mais severos, estão colocando muitas espécies de plantas e animais em perigo e forçando-os além de seus limites de tolerância ou capacidade de adaptação. E não é tão 'simples' como, por exemplo, o desaparecimento de ursos polares — os ecossistemas estão interligados, e a extinção ou migração de uma única espécie pode ter efeitos em cascata inesperados e imprevisíveis. Tudo que afeta os seres humanos, como a perturbação da natureza, reduz sua "capacidade de fornecer os serviços essenciais dos quais dependemos para sobreviver – como proteção do litoral, fornecimento de alimentos ou regulação climática por meio da absorção e armazenamento de carbono".
Cerca de metade das espécies no mundo já foram afetadas de alguma forma. Animais e plantas já estão mudando seus habitats mais para os polos, para altitudes mais altas ou para águas oceânicas mais profundas para fugir de condições climáticas extremas. No momento, cerca de 12% das 8 milhões de espécies de animais e plantas da Terra estão em risco de extinção e enfrentam um declínio massivo, rápido e sem precedentes, que também se deve às mudanças climáticas. E estudos mostram que, à medida que o aquecimento global aumenta, esses números se tornarão piores: com 2 ˚C até 2100, cerca de 18% de todas as plantas e animais que vivem em terra estarão em risco de extinção, mas se o mundo aquecer até 4,5 ˚C, "cerca de metade de todas as espécies vegetais e animais para as quais temos registros estarão ameaçadas"..
A conservação da natureza anda de mãos dadas com a crise climática, sofrendo com seus resultados e sendo parte da solução para garantir um futuro habitável para os seres humanos. Cientistas dizem que “ao restaurar ecossistemas degradados e conservar, de forma eficaz e equitativa, de 30 a 50% dos habitats terrestres, de água doce e oceânicos da Terra, a sociedade pode se beneficiar da capacidade da natureza de absorver e armazenar carbono”.
As mudanças climáticas já estão mudando as estações, afetando habitats e mudando zonas climáticas, levando espécies à extinção e agricultores a dificuldades. Manter os combustíveis fósseis no solo é a melhor maneira de proteger habitats e meios de subsistência importantes.
Os fatos básicos da crise climática são preocupantes: a grande maioria das reservas de combustíveis fósseis precisa ficar no solo para que possamos ficar abaixo de 1,5 ˚C de aquecimento, e as empresas de combustíveis fósseis não vão fazer isso sem lutar.
A boa notícia:
A crise climática está acontecendo agora e para todos nós, mas não é sentida igualmente por todos. Ela exacerba as desigualdades e alcança todos os aspectos de nossas vidas: comida, emprego, saúde, direitos humanos. As únicas soluções reais são aquelas enraizadas na justiça, e que colocam as pessoas e as comunidades em primeiro lugar. Um mundo além dos combustíveis fósseis também é um mundo com maior equidade de gênero, raça, migrantes, trabalhadores e direitos sociais — dentro e além das fronteiras dos países.
Na 350.org, acreditamos e lutamos por um clima mais seguro e um futuro melhor, em que todos possam prosperar — e precisamos de você conosco nesta luta!