No dia 29 de novembro, o presidente da empresa estatal petrolífera Petroperú, James Atkins, afirmou que pelo menos oito mil barris de petróleo foram derramados na Amazônia peruana após um ataque realizado contra um oleoduto no dia 26 de novembro. Ainda de acordo com informações da agência oficial de notícias Andina, Atkings completou dizendo que “o dano ecológico é tremendo e irreparável”. Na ocasião, o petróleo atingiu o rio Mayuriaga e possivelmente os danos chegaram até o rio Amazonas.

Segundo o portal de notícias português Observador e as fontes divulgadas pela Petroperú, o corte foi feito por um grupo de indígenas insatisfeitos com os resultados das eleições no município de Morena, em Loreto, região que faz fronteira com o Brasil  — realizadas há um pouco mais de um mês — e está localizado no quilômetro 193 da infraestrutura do oleoduto, que fica a 500 metros da comunidade de Mayuriaga.

Porém, em um pronunciamento divulgado no dia 5 de dezembro, o Governo Territorial Autônomo da Nação Wampis (GTAW) negou qualquer tipo de participação de membros de sua comunidade no ocorrido, visto que os mais prejudicados com o vazamento seria a própria população local. “Desde o início de nossa existência, a Nação Wampis protege florestas, rios, territórios e a Amazônia. No entanto, foi a atividade petroleira que degradou e contaminou nosso território, colocando nossas vidas, integridade e sobrevivência em sério risco”, afirma a nota.

Petroperú

Em vermelho está a área da petrolífera dentro do Rio Mayuriaga

Além do ocorrido, Atkings também acusou os autores do ataque de terem sequestrado 20 trabalhadores da Petroperú em uma estação petrolífera da zona e deixaram uma mensagem no local, ameaçando que iriam danificar o oleoduto em caso de os resultados das eleições não fossem anulados. Em resposta, a GTAW denunciou a petroleira por acusações falsas, reiterando que a mesma situação já ocorreu anteriormente. “A Petroperú fez afirmações infundadas, prejudicando nossa honra como povo indígena e enchendo de lama nosso trabalho em defesa de nosso território. Essas acusações também visam criminalizar os defensores dos direitos coletivos”, ainda de acordo com a nota.

Segundo o jornal peruano El Comércio, os supervisores da Agência de Avaliação Ambiental e Fiscalização (OEFA) ainda não conseguiram entrar na área impactada para mensurar a quantidade exata do vazamento, que é estimado em 8 mil barris de petróleo. Já o GTAW ressalta que foram enviados mais de 360 policiais para Mayuriaga. “Isso não é coincidência, já que, de acordo com informações obtidas pelo EarthRights International (ERI) em março deste ano, o Ministério do Interior e Petroperu assinou um acordo interinstitucional para implementar supervisões na Zona de Influência do Oleoduto Norte peruano. Esse fato nos chama a atenção, pois aparentemente a Polícia Nacional do Peru seria parcial em favor da Petroperú”.

A Associated Press e o jornal internacional 20 minutos divulgaram na ocasião que os conflitos entre os indígenas que vivem em condições desfavoráveis e a petroleira já duram mais de 40 anos. Muitos dos desacordos foram impulsionados por derrames de petróleo e promessas estatais não cumpridas. Por causa disso, em 2016 foi formada uma Comissão de Investigação Multipartidária para determinar a responsabilidade pelos constantes derramamentos de óleo no Oleoduto Norte peruano. De acordo com o relatório final de 2017, a Petroperú foi indicada como principal responsável, deixando claro que as comunidades indígenas não têm responsabilidade.

Os impactos socioambientais do vazamento

De acordo com a geógrafa do Instituto Arayara, voluntária da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS), Carla Correia, todo derramamento de petróleo – independentemente das dimensões – deve ser considerado uma catástrofe ambiental. No caso de Mayuriaga, Carla afirma que trata-se de um rio de menor extensão, afluente do Murana, que deságua no Rio Amazonas, podendo gerar uma grande mortandade no ecossistema da região, além de contaminar animais e comunidades próximas por hidrocarbonetos de potencial cancerígeno, presentes na composição do petróleo.

“Como o óleo fica na superfície da água, por causa de sua densidade menor, a entrada de luz e oxigênio dentro do rio é impedida, interrompendo o processo de fotossíntese e a troca de gases entre a água e o ar. Para bloquear o petróleo de se dissipar para outros rios e afluentes, se torna necessária a criação de uma barreira, além da implantação de uma remediação ambiental para corrigir os problemas causados pela contaminação”, explica.

Paulinne Rhinow Giffhorn — jornalista da Fundação Internacional Arayara e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).

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