As áreas atingidas por manchas de diferentes proporções de petróleo cru só se ampliam desde o dia 30 de agosto, na costa brasileira. Já foram identificados 546 pontos até o último dia 13 de novembro, em 112 municípios, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Ficaram delimitadas na abrangência da costa nordestina por pouco mais de dois meses e agora já atingiram praias do litoral capixaba, no Sudeste. A situação é tão inusitada, que foram criados links especialmente para o acompanhamento deste desastre ambiental em curso, tanto pelo Ibama, como pela Marinha do Brasil, que é responsável pela coordenação do Plano Nacional de Contingência (PNC), que foi acionado oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente com atraso . 

O problema não para por aí. Já existe sinalização de que o aparecimento das manchas pode se estender ao litoral do Rio de Janeiro. Como precaução, o Instituto Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (INEA) anunciou, nesta semana, que está fazendo treinamento técnico inicialmente para o atendimento de ocorrências nos municípios do noroeste fluminense e Região do Lagos e, na próxima semana, as cidades da região metropolitana e do sul fluminense.

Origem e culpados pelo vazamento de óleo até agora não foram definitivamente identificados oficialmente e os impactos socioambientais só se ampliam com perspectivas, de pelo menos, 15 anos, segundo cientistas. 

Nas linhas de investigação da Polícia Federal e da Marinha, várias hipóteses surgiram, mas a mais provável divulgada pelo Governo Brasileiro, foi a de que o vazamento teria sido decorrente do navio grego Bouboulina, da petroleira Delta Tankers, que passou pela costa brasileira. A empresa emitiu uma nota oficial que nega que tenha havido vazamento de óleo da embarcação. Mas outras hipóteses têm surgido de diferentes fontes de pesquisa científica e de monitoramento por satélite. As possibilidades apontam para a origem de outras embarcações, como das imagens analisadas pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

De acordo com o IBAMA, oficialmente 4.400 toneladas de resíduos de óleo foram retirados das praias nordestinas, até esta terça-feira. A contagem desse material inclui, além do óleo, areia, lonas, EPI e outros materiais utilizados para a coleta. O descarte é feito pelas Secretarias de Meio Ambiente dos Estados. No entanto, um pelotão de voluntários por todo litoral brasileiro tem se empenhado na coleta. 

O comprometimento do desastre ambiental é incalculável, pois vai desde o ambiental ao de subsistência de pelo menos 144 mil pescadores artesanais, além de povos tradicionais e indígenas, como também ao turismo litorâneo. Várias unidades de conservação marinhas foram atingidas até agora, incluindo o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia. Fauna e flora comprometidas em vários pontos em toda a costa, incluindo estuários e mangues.  Mais recentemente foi confirmado que o óleo chegou à praia do Pontal do Ipiranga, no município de Linhares, no ES, onde há desova de tartarugas-cabeçuda marinhas, acompanhada pelo Projeto Tamar.

Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) alerta que a biodegradação do petróleo que está atingindo a costa brasileira é de maior complexidade, porque a falta de luz e a condição anóxica (sem oxigênio) não é favorável ao processo de biodegradação. Isso acontece porque há também registros de derivados de petróleo encontrados em sedimentos que já estavam presos por volta de meio século, até no meio do mar. 

Segundo boletim emitido pela Marinha, nesta terça-feira (12/11), os estados de CE, RN, SE, PB, MA, PI, PA e AP estão com as praias limpas. E as seguintes localidades permanecem com vestígios de óleo, com ações de limpeza em andamento: Mamucabinhas, em Pernambuco; Japaratinga, Barra de São Miguel, Coruripe, Feliz Deserto e Piaçabuçu, em Alagoas; Cairu, Maraú e Guaiu, na Bahia; e Guriri, no Espírito Santo. Estes cenários mudam diariamente, tendo em vista que tem havido reaparecimento de manchas em locais antes “limpos”. E ontem, dia 13, foi dado o início ao Levantamento Ambiental da Costa Nordeste, a partir do Porto de Ilhéus, BA, com o Navio de Pesquisa Hidroceanográfico da Marinha“Vital de Oliveira” . O objetivo é a realização de coletas e medida de dados ambientais, para avaliação dos impactos do óleo no litoral.

E assim, um estado de cobrança e perplexidade da sociedade continua a rondar este vazamento de petróleo cru, que revela o quanto este material pode causar comprometimentos socioambientais, além da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) derivados dos combustíveis fósseis.

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil

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