Investir em energias renováveis é uma necessidade para que o Brasil contribua ao máximo para o fim da crise climática, mas também uma oportunidade econômica, na visão do climatologista brasileiro Carlos Nobre, reconhecido como um dos cientistas brasileiros de maior destaque internacional.
“O Brasil tem um enorme potencial para ser sustentável. Podemos reduzir emissões, investir no transporte elétrico. A energia renovável aqui no Brasil é das mais baratas do mundo, mais barata que a hidrelétrica e muito mais barata do que a termelétrica”, ele afirmou, em uma conversa com jornalistas, durante a Semana Latino-americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, em Salvador.
Para Nobre, o caminho para a transição rumo à energia limpa passa pela participação da sociedade civil nas políticas públicas para o clima, especialmente no nível municipal.
“As cidades têm boas intenções, mas essas ideias precisam se tornar planos de governo negociáveis e discutidos com toda a população. Governos têm que fazer essa decisão e aplicar políticas públicas com aprovação popular”, ele afirma.
Presidente do Conselho Diretor e vice-presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, Nobre foi aplaudido pelo menos sete vezes durante sua palestra de menos de uma hora, no evento realizado na capital baiana.
Sem mencionar a quem se referia, ele criticou os ataques recentes aos dados sobre desmatamento na Amazônia produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e defendeu uma ação vigorosa e urgente, por parte de todos os níveis de governo, para o cumprimento do Acordo de Paris.
Instituído em 2015 para fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima, o Acordo de Paris foi assinado por 195 países e tem como meta evitar que o aumento da temperatura global não ultrapasse 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Com as emissões que são geradas atualmente, porém, esse aumento poderia chegar a 3ºC ou mais. “Sabendo das graves consequências, não podemos em hipótese alguma passar de 3ºC, porque esse número significa o desaparecimento de inúmeras cidades e a perda de seus valores culturais”, pontua Nobre.
Salvador mostra que a crise é urgente
Nobre afirma também que as pessoas em todo o território brasileiro já estão sentindo as mudanças climáticas. “É possível notar que, em primeiro lugar, os dias quentes estão ficando cada vez mais comuns. Aqui em Salvador, por exemplo, o número de dias em que as temperaturas ultrapassam 34 graus está cada vez mais maior”, explica.
Embora a constatação não pareça tão fora do comum, o fato de a temperatura estar aumentando traz sérios impactos na saúde pública, aumentando internações, além de modificar todo o ecossistema das regiões.
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