Durante os dias 20 e 27 de setembro, 7,6 milhões de pessoas se mobilizaram no mundo inteiro clamando por justiça climática. Entre os mais de 6 mil eventos realizados em 185 países, estava Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. A ação lá foi liderada por Elisa Kaspary Fink, uma jovem de apenas 17 anos, que hoje está no 3º ano do Ensino Médio e, em seu tempo livre, gosta de ler, praticar esportes e sair com seus amigos pela cidade.
Mas o que fez com ela resolvesse incluir seu município dentre os locais que se reuniram para conscientizar a população acerca da emergência climática? Bom, são inúmeros motivos. Segundo Elisa, desde pequena ela teve entendimento sobre questões do meio ambiente, por meio de sua família. Os pais a ensinaram a separar o lixo orgânico do reciclável e, inclusive, foi seu pai que implantou a separação do lixo no condomínio onde vive. Em relação ao clima, ela aponta que ficou mais forte este ano mesmo – após o movimento da ativista Greta Thunberg, que tem sua idade.
Porém, as inspirações de Elisa não param por aí. Marie Curie, cientista e física polonesa, que conduziu pesquisas no ramo da radioatividade, está em sua lista – justamente por seu pioneirismo como mulher na ciência, sendo a primeira a receber um Prêmio Nobel, em 1903. Além de Marie, ela cita Galileu Galilei, por sua “coragem de defender uma ideia ridicularizada em seu tempo”, referindo-se a defesa da teoria do heliocentrismo – que afirma que os planetas giram em torno do Sol.
O gosto pela ciência encontra o interesse pelo clima, quando Elisa afirma que as questões climáticas devem ser 100% guiadas pela ciência. “Não devemos desistir quando ouvimos nossas lideranças políticas negando o aquecimento global e subestimando os impactos de outros problemas ambientais”, conta.
Antes de montar o movimento da Fridays for Future (Sextas-feiras pelo futuro, em tradução livre) em Porto Alegre, Elisa fez um intercâmbio para a Nova Zelândia, mais precisamente para a cidade de Nelson, que tem apenas 50 mil habitantes. Lá, eles se mobilizavam toda semana nas greves pelo clima e ela diz ter ficado decepcionada ao ver que o movimento era muito pequeno no Brasil – se restringindo apenas às principais capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Embora o grupo de Elisa seja novo – a primeira manifestação ocorreu no dia 20 de setembro – e relativamente pequeno, ela conta que o objetivo dos jovens é se reunir todas as sextas-feiras em frente ao Palácio Farroupilha para cobrar do governo uma atitude mais urgente e responsável em relação às mudanças climáticas e ao meio ambiente em geral. “Também queremos chamar atenção da população para a importância do tema por meio da nossa presença ali”, complementa.
“Não devemos desistir quando ouvimos nossas lideranças políticas negando o aquecimento global e subestimando os impactos de outros problemas ambientais”
Os amigos de Elisa a apoiam bastante na iniciativa, inclusive participando das manifestações. Ela menciona que no início, sua melhor amiga não acreditava que o grupo poderia dar certo – opinião que não durou muito, pois hoje Maria Fernanda também participa das mobilizações.
Em Porto Alegre as reivindicações do Fridays for Future ainda seguem o modelo do movimento brasileiro, destacando o cumprimento do Acordo de Paris, a demarcação de terras indígenas, o investimento em energias renováveis, a promoção da justiça ambiental, entre outros.
Elisa aponta que as medidas regionais ainda estão sendo definidas pelo grupo, visto que a região pode receber a Mina Guaíba, que seria a maior mina de carvão a céu aberto da América Latina – o que ela vê como um grande retrocesso para o estado, visto que é um projeto que vai na contramão da tendência mundial de reduzir o uso de combustíveis fósseis e contar com inúmeros riscos ambientais.
A estudante espera que, após a semana de mobilizações globais pelo clima, a população esteja mais alerta sobre a crise climática, fazendo com que a sociedade passe a cobrar cada vez mais dos governantes medidas para conter o aquecimento global. Além disso, ela gostaria que os líderes políticos do Brasil percebessem a importância da questão.
Elisa acredita que existem muitos discursos e poucas ações dos governantes. “Se fala muito em mudança, mas poucas transformações acontecem de fato. Me sinto muito preocupada quando líderes negam a crise climática ou falam sobre de modo que a faz parecer menor do que realmente é”, avalia.
Quando perguntada se ela acredita que é possível manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 1,5ºC, Elisa revela que é difícil e cita o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) do ano passado, que indica ser necessário reduzir em 45% as emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030 e chegar a zero em 2050 para manter abaixo dessa temperatura – apontando como uma meta “bem ambiciosa”.
“Nós precisamos de transições rápidas e de longo alcance para alcançar essa meta. No Brasil, além da busca por mais energias renováveis, precisamos reduzir drasticamente o desmatamento da Floresta Amazônica, já que esse é um dos fatores que mais causa emissões de CO2 no País”, explica.
Para Elisa, um dos maiores problemas é a população carecer de conhecimento pelo tema, fazendo com que ainda seja necessário criar uma consciência coletiva acerca da crise climática. Mas, mesmo assim, ela espera que até 2030 o mundo esteja muito mais desenvolvido e, é claro, de forma sustentável. “Afinal, o desenvolvimento que degrada o meio ambiente, que acentua as desigualdades sociais e viola os direitos humanos nem deveria ser considerado desenvolvimento”.
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Paulinne Giffhorn | [email protected]
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