Já faz algum tempo que o planeta sofre para respirar. E nós também, literalmente. Isso por que nunca na história da humanidade emitimos tanta quantidade de gases de efeito estufa. O resultado direto dos índices alarmantes de CO2 e outros gases na atmosfera são as mudanças climáticas. Um termo quase científico que parece distante da nossa realidade na verdade está cada vez e com mais frequência batendo a nossa porta com enchentes, secas extremas, furacões, degelo das calotas polares… A lista dos desastres é longa mas a boa notícia é que por causa de tantas catástrofes, o mundo começa a se unir com mais força no combate aos eventos climáticos extremos. 
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Um exemplo dessa movimentação da sociedade é o relatório publicado esta semana. Chamado de “Crescimento Melhor, Clima Melhor” (newclimateeconomy.report), o estudo foi lançado pela Comissão Global sobre Economia e Clima, criada por sete países (Reino Unido, Suécia, Noruega, Coreia do Sul, Colômbia, Indonésia e Etiópia). O objetivo era estudar soluções para o clima e influenciar decisões políticas globais.

A conclusão da pesquisa, que reúne nomes estrelados como o ex-economista chefe do Banco Mundial Sir Nicholas Stern, é que é possível combinar crescimento com responsabilidade no clima. É preciso apenas que governos deem os incentivos corretos ao setor privado. “O risco induzido por políticas de governo é o maior inimigo do investimento no mundo todo”, disse Stern em entrevista coletiva esta semana.

Não por acaso o estudo foi lançado agora. A ideia dos cientistas é influenciar a Cúpula do Clima, convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, para a semana que vem em Nova York. Será a primeira grande reunião de chefes de Estado para tratar do tema após 2009, quando a tão aguardada Conferência de Copenhague fracassou.

Além da comunidade científica, a sociedade civil também planeja grandes mobilizações para chamar a atenção dos presentes na cúpula da ONU. Mais de 200 organizações estão engajadas no que está sendo conhecida como a maior marcha climática da história da humanidade. Anistia Internacional, 350.org, Avaaz e Greenpeace são alguns dos organizadores da Marcha Climática dos Povos, prevista para acontecer simultaneamente no dia 21 de setembro em 133 países e que prevê reunir 1 milhão de pessoas ao redor do globo.

No Brasil, o Rio será palco da marcha tupiniquim, marcada para às 10h30 na praia de Ipanema. Em entrevista recente, Michael Freitas Mohallen, representante da Avaaz no Brasil, afirmou que é possível mobilizar a opinião pública levando pessoas às ruas, mesmo para um assunto que parece estar distante do dia a dia da população. “Quando líderes políticos perceberem que esse é um assunto caro aos brasileiros, certamente o trarão para a agenda prioritária da política”. 

E o momento é ideal já que os próximos meses serão decisivos acerca do tema. No final do ano acontecerá a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima no Peru, a chamada COP 20, mas o encontro mais esperado está marcado para 2015, em Paris. É na França que deverá ser adotado um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que tinha metas de redução das emissões. Mas organizações ambientalistas e socias acreditam que só com a pressão da sociedade os chefes de Estado tomarão uma decisão acertiva, que traga de fato mudanças positivas. 

Em recente visita ao Brasil, à convite da Fundação Ford, May Boeve, diretora global da organização de combate às mudanças climáticas 350.org, afirmou que é preciso agir antes que seja tarde demais. Ao lado de grandes nomes, entre os quais o vencedor do prêmio Nobel Rajendra Pachauri e a alta comissariada da ONU para direitos indígenas Victoria Tauli-Corpuz, May foi enfática. “É preciso mudar nosso modelo de desenvolvimento. Mas para isso precisamos de decisões políticas que façam a diferença. Precisamos parar de falar e fazer. Se não fizermos algo, o caminho que escolhemos poderá ser um caminho sem volta”.