Com decisão, U$7,5 bilhões deixarão de ser investidos em hidrocarbonetos e serão redirecionados às energias renováveis, num movimento de transição para um futuro mais sustentável

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Com decisão da Igreja, U$7,5 bilhões deixarão de ser investidos em hidrocarbonetos (Foto: ELCA).

 

Por Nathália Clark

Cerca de 500 instituições em mais de 60 países no mundo todo já aderiram à chamada para o desinvestimento em combustíveis fósseis. No dia 13 de agosto, o movimento global contou com mais uma adesão de peso: a Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA), sétimo maior organismo religioso dos Estados Unidos, aprovou por maioria, durante a Assembleia de 2016, a suspensão de qualquer investimento em empresas do setor, e o redirecionamento de recursos para as energias renováveis. Dessa forma, as quase 10 mil congregações espalhadas pelos Estados Unidos, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas se unem ao movimento global rumo a uma economia de baixo carbono e um futuro mais sustentável para o planeta, deixando de investir US$7,5 bilhões de ativos nos hidrocarbonetos.

Com esta ação, a ELCA atende ao apelo feito em 2015 pelo Conselho da Federação Luterana Mundial às suas igrejas-membro para que não mais invistam em combustíveis fósseis, e para que apoiem a eficiência energética e empresas de energias renováveis, além de encorajar suas instituições e membros individuais a fazerem o mesmo. “A ética Luterana nos chama a cuidar dos mais vulneráveis e a pensar nas próximas gerações”, disse a reverenda Barbara Rossing, professora da Escola Luterana de Teologia de Chicago e líder de organizações luteranas de base.

A campanha que visa transferir investimentos no setor de combustíveis fósseis e aplicá-los em energias renováveis é liderada pela 350.org e pela Divest-Invest. O principal argumento da coalização Global Divest-Invest é que o investimento na indústria de petróleo, gás e carvão é um perigo tanto para o clima quanto para o capital dos investidores.

Mais de 500 instituições em diversos setores da sociedade, como o religioso, universitário e privado, que juntas representam cerca de US$ 3,4 trilhões em ativos, já se comprometeram a mudar a rota de seus investimentos.

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“A 350.org defende o desinvestimento nos combustíveis fósseis como ação fundamental para conter as mudanças climáticas. Para construir o futuro que precisamos, temos que promover uma mudança radical no modo como produzimos e consumimos energia em todo o mundo. E isso não pode mais esperar. A decisão da Igreja Luterana é uma contribuição significativa para uma transição energética justa e sustentável”, defende Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, e coordenadora da COESUS.

Influência no Brasil

Segundo o pastor Werner Fuchs, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, parceira da ELCA, não há ainda nenhuma orientação a nível global sobre essa decisão. “Infelizmente essa ideia ainda não está consolidada no país, mas há pequenas iniciativas já em andamento. No Sínodo Paranapanema, por exemplo, que abrange a região do Sul do Paraná até Oeste de São Paulo, já temos um projeto pronto para a instalação de placas solares em diversas igrejas, e estamos em busca de parceiros para colocá-lo em prática”, afirmou.

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Parceiro da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida, o pastor Fuchs já atua em campanhas contra as mudanças climáticas desde 2004. Membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), ele ajudou a aprovar, em novembro de 2015, durante a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, uma moção contra o fracking e a exploração de areias betuminosas. “Sou a pessoa incômoda que levanta questões como o uso de combustíveis fósseis. Não adianta falar de agroecologia se o fracking chegar e destruir tudo. Precisamos sair do modelo petróleo-dependente e seguir o caminho do desenvolvimento sustentável”, defende Fuchs.