A compra de energia gerada pelo vento foi destaque no leilão de geração A-6 da ANEEL, desta quarta-feira (20). Foram viabilizadas 49 usinas eólicas, com negociaçao de venda futura pelo preço médio de R$ 98 por megawatt-hora, o menor valor negociado entre outras fontes. Quanto mais baixos os valores, menor será a conta de luz do cidadão – o que demonstra a importância de investimentos no setor de renováveis.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foram cadastrados 1.092 projetos, entre eles 953 projetos referem-se a empreendimentos eólicos, que oferecerão energia a partir de 2023. A forte competição entre investidores favoreceu a queda no preço médio da energia. Outra boa notícia, foi a rejeição de usinas termoelétricas a carvão pelas distribuidoras.
“Comemoramos a não contratação de nenhuma termelétrica a carvão. Isto é um sinal do fim do carvão, uma conquista já alcançada em Marrakech, quando após forte pressão da sociedade civil apoiada pela 350.org, o Ministro do Meio Ambiente anunciou o veto do presidente a um projeto de lei de subsídio ao carvão . Não subsidiar os fósseis é o melhor caminho para um futuro renovável.”, afirma Nicole de Oliveira Figueiredo.
Censura e retrocessos
Apesar das boas notícias, a contratação de energia gerada por termelétricas a gás ainda predomina. Empreendimentos do setor receberão quase R$ 5 bilhões em investimento, para gerar a energia mais cara, poluente e geradora de efeito estufa. O valor do mega-watt para esta modalidade fechou em R$ 213, mais que o dobro do valor da eólica.
A negociação ocorre na mesma semana em que o Congresso Nacional aprovou a MP do Trilhão subsidiando a indústria fóssil em R$1 trilhão com isenções fiscais até 2040 e a ANEEL anunciou que os consumidores de energia pagarão R$ 16 bilhões a mais nas contas de luz, em 2018, para cobrir os custos com subsídios do setor elétrico – mais de um terço do valor para bancar combustíveis para abastecer térmicas da região Norte do país.
Apenas duas usinas a gás do Rio de Janeiro, venderam mais da metade do total negociado no leilão. Em suma, apesar dos novos projetos renováveis, o Brasil continua na contramão de uma política energética com justiça social e ambiental e contraria compromissos firmados no Acordo de Paris, do qual é signatário.
“Devemos destacar que projetos de usinas como este não deveriam sair do papel, pois além de consumirem imensas quantidades de água em tempos de escassez hídrica, poderão produzir energia a partir do gás de xisto, o gás da morte, cujo método de extração causa, comprovadamente, danos irreversíveis ao solo, à água e à vida e emitem gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas”, afirma Juliano Bueno de Araujo, coordenador nacional da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).
Representantes da 350.org Brasil e da COESUS estiveram presentes na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, para acompanhar os resultados do leilão. A equipe de comunicação das organizações foi impedida de participar da coletiva de imprensa, reforçando mais uma vez, a forma não transparente, opressora e injusta que se desenvolve a política energética do país.