Enquanto conselheiros do mundo todo participam das negociações climáticas de Bonn e ministros se preparam para a reunião do G7 na Sicília, milhares de pessoas participaram de mais de 260 eventos em 45 países em seis continentes durante a Mobilização Global de Desinvestimento, que acabou nesta segunda-feira (15). Ativistas, grupos religiosos, acadêmicos e comunidades locais impactadas pelas mudanças climáticas demonstrando a liderança dos movimentos de retirada de investimentos em combustíveis fósseis, que agora está se espalhando pela Ásia, América Latina e África, estabelecendo as bases para futuros desinvestimentos.

Num momento em que os governos estão decepcionando suas populações, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está ameaçando abandonar o Acordo de Paris e os impactos climáticos nos levam a um território inexplorado em termos de inundações, incêndios florestais, ondas de calor, tempestades e desertificação, o desinvestimento se mostrou uma ferramenta eficaz para minar o poder da indústria dos combustíveis fósseis, política e financeiramente.

“Não podemos nos manter isentos. As mudanças climáticas já são uma realidade, e milhões de pessoas e toda a biodiversidade são impactadas diariamente.Temos uma opção de interromper esse cenário de destruição, que tende a piorar com o agravamento do aquecimento global, desinvestindo de projetos poluentes e perversos como o fracking e deixando os combustíveis fósseis no solo”, alerta Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.

Durante a Mobilização Global, cidadãos e instituições respeitadas em todo o mundo promoveram uma imediata e necessária forma de liderança climática. Isto incluiu o anúncio de nove organizações católicas de todo o mundo sobre a decisão de retirar seus investimentos dos combustíveis fósseis, no maior ato de desinvestimento católico conjunto até hoje. Com isso, chegamos a um total de 27 instituições católicas que já desinvestiram. Enquanto isso, no Brasil, mais de 3 mil pessoas participaram de orações em uma vigília no pátio da Catedral de Umuarama, no Paraná, para expressar suas esperanças em um futuro sem combustíveis fósseis.

Ao todo, mais de 700 instituições em 76 países já se comprometeram a desinvestir, representando mais de US$ 5,5 trilhões em ativos sob gestão, indicando que a indústria de combustíveis fósseis não tem futuro.

Mais de mil pessoas marcharam em Munique, na Alemanha, e manifestações aconteceram em todo o Reino Unido, incluindo comícios em 14 prefeituras em Londres, exigindo o desinvestimento. Os ativistas também pressionaram os fundos de pensão das universidades, instituições religiosas, de saúde e culturais, como o Louvre, em Paris, o Museu Van Gogh, em Amsterdã, e o Museu Britânico.

Não há dúvida de que estamos atualmente em um estado de emergência. Dia após dia as pessoas morrem pelos efeitos das mudanças climáticas. Há muitas maneiras de enfrentar esta emergência e o desinvestimento nos permite entrar no caminho do dinheiro, que financia os projetos de combustíveis fósseis e que está por trás da crise. O fato de que o movimento de desinvestimento em combustíveis fósseis cresceu exponencialmente nos últimos anos é a melhor notícia de todos os tempos. Das Ilhas do Pacífico à África do Sul, dos Estados Unidos à Alemanha, as pessoas se levantam para desafiar o poder da indústria dos combustíveis fósseis”, afirmou Bill McKibben, co-fundador da 350.org.

A batalha para proteger as pessoas e o clima está conectada em todo o planeta. O dinheiro que sai de um canto do mundo está ligado a projetos de infraestrutura de combustíveis fósseis sendo construídos em outros lugares. Centenas de pessoas se reuniram em Jacarta para ouvir representantes da comunidade de Indramayu contarem os problemas que encontram vivendo à sombra de uma usina de carvão. Durante um evento no Japão, estudos de caso de bancos japoneses financiando usinas de carvão na Indonésia e oleodutos nos Estados Unidos foram destacados para pressionar os bancos japoneses a retirarem seus investimentos de combustíveis fósseis.

Na Nova Zelândia e na Austrália, os ativistas se dirigiram à gigante australiana do carvão, Adani, pedindo aos bancos que investem nela, incluindo o CommBank, para que parem o financiamento. Enquanto isso, em Nova York, 150 ativistas reuniram-se dentro da Trump Tower, para pedir aos funcionários da cidade de Nova York que cortassem seus laços com as companhias sujas de petróleo e gás que controlam a Casa Branca, demonstrando que os líderes locais podem mostrar liderança climática de peso, enquanto outras partes do país sofrem com inundações graves.

O desinvestimento também fornece os meios para aprovar uma transição justa, reinvestindo em sistemas de energia renovável. Isso foi discutido em eventos realizados em toda a África, em universidades e comunidades locais, onde a sua culpa da indústria dos combustíveis fósseis pelas mudanças climáticas foi discutidas juntamente com soluções de energia limpa, frente a algumas das piores secas que o continente já sofreu.

Para Kumi Naidoo, diretor do Centro Africano da Sociedade Civil, um futuro com 100% de energias renováveis é inevitável. “Comunidades em todo o mundo estão retomando seu poder através do desinvestimento. Elas estão se desvinculando dos combustíveis fósseis e mandando uma mensagem forte para políticos e empresários: o fim dos combustíveis fósseis está acontecendo. Aqueles que apostaram em um futuro baseado em combustíveis fósseis continuarão perdendo. Os cidadãos estão exigindo no mundo todo uma transição justa para um futuro verde. O movimento de desinvestimento está mostrando o que os governos deveriam estar fazendo: retirar o dinheiro dos problemas e investir em soluções.

DESTAQUES DA MOBILIZAÇÃO GLOBAL:

  • Ativistas convidaram instituições culturais europeias, como o Museu do Louvre, o Museu Van Gogh e o Museu Britânico, a desistir de patrocínios oriundos da indústria dos combustíveis fósseis. Em Estocolmo, na Suécia, ativistas organizaram uma “inundação” em frente ao Museu Nobel para encorajar a Fundação Nobel a desinvestir.
  • Grupos religiosos da Grã-Bretanha comprometeram-se moralmente pelo desinvestimento em combustíveis fósseis, como aconteceu com os Quakers em um quarto de suas reuniões e em nove instituições católicas. Além disso, um grupo de 30 religiosos – incluindo três bispos da Igreja da Inglaterra – mandou uma carta aberta para o Conselho de Pensões da congregação pedindo para que todo investimento em combustível fóssil fosse redirecionado para alternativas renováveis.
  • Bancos foram pressionados para desinvestir em usinas de carvão, areias betuminosas, oleodutos e fracking. Ativistas manifestaram-se contrários aos investimentos no carvão de instituições financeiras no Japão, na Indonésia e na Alemanha. Já no Reino Unido, os ativistas miraram no Barclays, exigindo que o banco zerasse o investimento em fracking.
  • Políticos também sofreram pressão. Em Nova York, ativistas protestaram no interior da Trump Tower. No Reino Unido, 50 deputados intimaram o fundo de pensão de 612 milhões de libras esterlinas do Parlamento do Reino Unido a “levar a sério as mudanças climáticas” e zerar os investimentos em combustíveis fósseis. Nos Países Baixos, professores, cientistas e funcionários públicos enfrentaram o fundo de pensão nacional ABP, que continua investindo suas economias em combustíveis fósseis.